outubro 01, 2005

Finalmente consegui entrar de novo no cinema. Não só na actividade em si, mas no sítio físico. Fui a primeira a entrar. Sentei-me sozinha, não estava na fila certa, tinha a sala só para mim. Depois entrou o rapaz de cabelo rapado que, como eu, se sentou sozinho. Entraram as lésbicas que gostam de se beijar no fim do filme. Depois sentou-se o casal carinhoso. Ele mexia-lhe na orelha como se a soubesse de cor, devagarinho. Também entrou o casal que se beijava ao me lado, em silêncio, em desafio.


E depois era eu, com os olhos marejados. Se um dia me tivessem dito que suportar a visão de mim mesma,sozinha naquela sala, seria tão difícil, teria achado que era um disparate. Mas depois o filme tomou conta do meu desconforto, fez-me sonhar e desejar estar em plena descoberta do Outro. Lembrei-me como são doces todos os princípios...


[O locutor da rádio, a caminho de casa, dizia que hoje as expectativas são sempre demasiado elevadas. Eu encolhi os ombros e sorri.]

Sem comentários: