Já me tinham dito que ia ser assim.
Primeiro, enviamos currículos como se não tivéssemos mais nada para ocupar o tempo. Gasta-se uma fortuna em selos e envelopes e fotocópias e nascem as primeiras esperanças na cabeça - faz-se mentalmente a lista do que gostaríamos de comprar com um ordenado melhor, prevê-se o dinheiro que seria possível poupar, calculam-se novas despesas.
Depois segue-se o período de incerteza: ninguém perde tempo a responder à correspondência indesejada de uma recém-licenciada. O currículo não demonstra muita experiência profissional, o curso está na prateleira dos conhecimentos inúteis e pouco práticos. As esperanças vão morrendo lentamente, vão como que escorrendo para fora da nossa cabeça e de repente não sonhamos com os electrodomésticos novos e os bilhetes de avião que íamos comprar - remetemo-nos à vidinha desinteressante e monótona de sempre.
E no fim... Bem, no fim aparecem demasiadas coisas ao mesmo tempo. Há entrevistas aos sábados de manhã, há chamadas internacionais recebidas, há possibilidades tão novas que parece impossível. E eu, no lugar de ficar contente, assusto-me e começo a pensar naquilo a que tenho que renunciar e à falta que tantas coisas me vão fazer e em tudo o que tenho que resolver antes de uma hipotética partida. Penso nisto como se fosse sempre a primeira vez - como se não soubesse já que é APENAS uma possibilidade e que ou muito me engano ou a coisa ainda pode dar para o torto.
Vá lá uma pessoa perceber-se.
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