janeiro 06, 2007

Duvidar


Sentada na sé catedral não podia alhear-me das palavras do padre. Metada de mim estava interessada em acreditar mas a outra metade já decidiu há muito que aquilo são tudo tretas. O padre falava muito, muito baixo e de olhos fechados como se se estivesse a embalar ao mesmo tempo. Olhava para nós com cara de reprovação sempre que alguém tossia, se mexia mais bruscamente ou que as crianças soltavam algum pedido mais alto. Falou tanto que me aborreceu: ou isso ou já não ia a uma igreja há muito tempo e tinha-me esquecido de como tudo cumpre rituais antiquíssimos e desconfortáveis. Sempre que nos era pedido participar com algum dizer ou oração os meus lábios não conseguiam abrir-se, apenas o suficiente para disfarçar o incómodo e para não envergonhar totalmente os meus pais. Quanto mais o padre falava nas virtudes de ser cristão e nos perigos da televisão pagã, mais eu me sentia afastada daquela instituição toda. O papel dos padrinhos, a alma que nasce de novo, o cristão que não cumpre, preparar o espírito para a caminhada em Jesus blá blá blá. Eu sou daquelas a quem dava jeito um milagre, aqui e agora. E nem sequer o peço para mim. Mas, como sou uma cristã provavelmente quase excomungada, isso dos milagres não é para mim. Portanto, o caminho é para a frente e ala! que se faz tarde. Vou procurar a minha força noutro sítio qualquer.

1 comentário:

Meow disse...

Se encontrares esse tal sítio, avisa!