A verdade é que sempre que, sempre que penso em Campo Maior, penso num território mais ou menos de ninguém, onde as pessoas se devem considerar mais ibéricas do que propriamente portuguesas ou espanholas. Como noutras localidades da raia, as influências de ambos os países convivem pacificamente e é assim que a rua de Portalegre pode ser paralela à rua de Badajoz ou que a arquitectura da vila permite que as tradicionais casas caiadas sejam interrompidas pelas portadas em madeira e pátios espanhóis. Aqui, já não se fala exactamente o português mas também não se adoptou o castelhano como língua oficial mas antes uma mistura muito rica que é confundida por muitos com uma espécie de cantiga. A televisão espanhola (como ainda na minha infância) vê-se melhor do que os formigueiros instáveis das emissoras portuguesas e por isso não admira que as influências da Extremadura se façam notar.
Há perspectivas antagónicas sobre a importância do Rui Nabeiro na vila: os que se opõem à sua influência dominadora e os que agradecem as constantes oportunidades de emprego que cria com as suas iniciativas. Eu sou daquelas que acha que oportunidades destas se devem agradecer e quem vê a vila à chegada, depois de rectas intermináveis ladeadas pelo feno tão seco, os rebanhos tão pachorrentos e charcas que resistem ao calor, pode admirar a forma como, ao contrário de tantas vilas e aldeias do concelho, se tem expandido pela planície partilhada com Espanha. Para o ano há promessa do regresso das festas e, para mim, a promessa de aprender a arte das flores em papel. Mas espero que esta onda de calor esteja mais branda e o ar seja um pouco mais respirável para que estar sentada numa esplanada não seja confundido com uma tortura e os termómetros de rua não avariem de vez.
1 comentário:
e com o orgulho de que 'el niño' vai ter uma costela dessa linda terra, bem como uma espanhola...
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