Chegou finalmente o momento que durante anos temi: o momento em que tenho que admitir que o espaço não chega e preciso de um carro mais familiar. Durante muito tempo, achei que esta troca de carro simbolizava tudo o que andava a evitar e que se resumia num medo terrível de crescer, de ser adulta. E eis que ele chegou e não há nada a fazer, a não ser aceitar a realidade.
Não conseguimos carregar toda a bagagem no meu carro, nem para um simples fim de semana a três. O carrinho do Vicente ocupa demasiado espaço e depois ainda há o ovo, as nossas malas, o Nico e as suas tralhas - é impossível. É claro que durante uns tempos podíamos fazer o sacrifício e tentar optimizar o espaço mas depois também teríamos a bagagem da minha irmã e tudo o que trazemos de casa e ia ser simplesmente um pesadelo. Chegou, portanto, o momento em que deixa de ser fixe ter um carro pequenino e relativamente fácil de estacionar para passarmos para um mais confortável e espaçoso mas (de certeza) mais difícil de estacionar.
Não é a condução que me chateia, na verdade. Só tenho medo de me estar a transformar nas pessoas que nunca quis ser, lentamente a ceder aos caprichos das responsabilidades crescentes, de certa forma a perder alguma graça pelo caminho, lentamente esquecendo a que sabe a espontaneidade e a liberdade. E se é certo que tudo acontece pela melhor causa do Mundo, que é o meu filho, isso não impede de me fazer pensar que a vida como a conhecíamos acabou definitivamente e agora há outras escolhas a fazer. Mudo de rumo com um sorriso e certa de estar a fazer o melhor para o meu bebé e para nós mas isso não lhe tira aquele travo agridoce da saudade.