junho 02, 2011

O intergaláctico e doce rapaz-pássaro

 
      

Há algum tempo atrás, não poderia imaginar que um dia o chegaria a ver. Já tinha passado muitas tardes de trabalho, muitas noites de insónia e muitas manhãs de coração partido a ouvir a música dele, na esperança que, milagrosamente, o meu coração pudesse cicatrizar apenas com a doçura da sua voz. Via fotografias dele e ele era apenas um rapaz: parecia que podia encontrá-lo no autocarro ou passeando um carrinho no supermercado. Mas ele cantava sobre os estados americanos, sobre miúdos que se beijam às escondidas, sobre segredos que se escondem debaixo do soalho ou sobre os pobres de espírito em canções cujos títulos desafiam todas as leis editoriais. Mas as semanas e os meses passavam e eu achava que ele nunca tocaria numa sala portuguesa.

Na Terça-feira vi-o, finalmente. Uma oportunidade de ouro que vou guardar para sempre como um dos bilhetes que mais valeu a pena, especialmente depois de estar perdido em alguma estação de correiros de Lisboa. O rapaz-pássaro chegou, abriu as asas mas quem levantou voo fui eu: fiquei espantada com toda a sua versatilidade, com as explicações tão extensas sobre as coisas que o fazem escrever, com o pedido de desculpas por todos os dramas que iria cantar de seguida. E depois foi todo o impacto visual - os confetis para a celebração, o grandioso trabalho do auto-proclamado profeta Royal Robertson, a esquizofrenia da geometria acompanhando o aqui-e-agora e os balões, Céus!, os balões do final. Foi de uma pessoa ficar absolutamente rendida ao talento do rapaz, que alternou momentos de intimidade impressionante com a mais desvairada festa de que me lembro. Este rapaz merecia um Coliseu mais cheio e nós merecíamos vê-lo mais vezes, especialmente para celebrar esta nossa mania de alternar as saudades que temos do passado com a vontade que temos que o futuro chegue. E talvez pudéssemos também nós levantar voo e esquecer os nossos momentos mais pantanosos, as nossas fraquezas e desilusões diárias, as pessoas que gostaríamos de ser.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quando vi o título do post pensei que tinhas escrito algo sobre o Andrew "Bird"!

Ando para ouvir Sufjan há um bom tempo --não é tarde, nem cedo-- vou ver uns down... vou à loja de cd'sss. :P

aryabodhisattva

Helena Barreta disse...

A música tem um efeito em cada um de nós extraordinário.

Bom fim de semana

Beijinhos