julho 14, 2011

Onde está a M. de há uns sete anos atrás?

Com a chegada da época balnear e de festivais, deu comigo a pensar onde terá ficado a pessoa que, há uns anos atrás, já saltava de contentamento com os festivais de Verão. Por esta altura, há alguns anos atrás, eu já fazia listas com o material que devia levar, os planos para a viagem. Veio-me à cabeça a primeira viagem, feita ainda de lágrima ao canto do olho porque eu e o meu pai nem sempre concordávamos sobre questões financeiras e de horários. Depois, chegados à Zambujeira no autocarro, ainda tivemos que fazer o caminho até ao recinto (e ainda são alguns quilómetros) a pé, carregando o material às costas, debaixo do sobejamente conhecido calor alentejano.

Não é que tenha saudades mas também pensei nas alturas em que tudo o que comia era enlatado (cavala, atum e grão era os nossos melhores amigos!), em que o que importava era uma rede para proteger a nossa aldeia do Sol e que saíamos da tenda logo às primeiras horas da manhã por causa do calor. Também recordo os banhos tomados à gato debaixo da água gelada que vinha do canal, as minis nas tascas à beira da estrada algures entre a Zambujeira e Malavado, as sopas miraculosas em São Teotónio. E também o dia em que voltava a casa e a minha mãe não me deixava sequer tocar no sofá, tal era a sujidade que trazia comigo.

Depois, passou à fase dos festivais mais urbanos e mesmo em Paredes de Coura a estadia já não foi feita numa tenda mas num turismo rural e puff!, lá se foi metade da magia do festival. Mas foi uma escolha nossa porque já não tínhamos vontade da precariedade dos acampamentos. Depois vieram os festivais em Lisboa e ainda uma edição muito especial do Hype no Meco (chorando enquanto o fogo de artifício coloria o céu atrás da Bjork) mas já com alojamento garantido.

E chegamos aos dias de hoje. Festivais de três dias já não são fáceis de aguentar: há um cocktail explosivo de horas de trabalho, falta de sono e um filho para cuidar que não me deixa arrastar o esqueleto pela poeira dos recintos. Mas eu lá arranjo espaço para encaixar uns concertos (a madrinha do Vicente lá nos ajuda com o babysitting ♥) e amanhã vou (espero eu…) conseguir aguentar um dia de festival depois dum dia inteiro de trabalho. Odeio a ideia de estar a perder a vontade e a perseverança e de preferir uma cama verdadeira a uma esteira no chão. Eu gosto é da música e aquele folclore todo à volta dos festivais (as montanhas de publicidade, os patrocínios, o merchandising, as atracções de feira popular, as cadeias de fast-food) dão-me uma espécie de náusea. Não digo que não volte a um festival como deve ser: de mochilas às costas, preparada para sofrer as alegrias que a música nos pode dar. Até lá, vou fazer uma espécie de part-time dos festivais e rezar para não cair para o lado depois das nove da noite. Agora, é apenas nisto que penso.


5 comentários:

Catarina disse...

lá estaremos (e com a mesma sensação....)

Anónimo disse...

Querida, adorei ler este teu post! Sim, ser mãe dá uma reviravolta nas nossas vidas e essa de chegar às nove da noite e só pensarmos na caminha, é uma delas! ( desculpa mas estou a sorrir-me pois é tal como descreves essa mudança de vida). Quanto à tua discordancia entre ti e o teu pai à cerca dos festivais, verás que se vai repetir convosco em relação ao Vicente! Desculpa mas continuo sorrindo com a tua excelente descrição dessas ida à Zambujeira!
beijinhos da tua professora.
Dalma

Joana Real disse...

ontem ao chegar a casa só pensava: nunca mais volto a acampar num festival...mas depois pensei, nunca digas nunca!!!
Acho que o meu corpo começa a vingar-se de mim qd faço estas aventuras...2 ultimos acampamentos, 2 vezes doente!!!

Helena Barreta disse...

Há uma idade para tudo, por isso é que é tão bom vivermos o que gostamos na altura certa, é que depois já não é a mesma coisa.

Um beijinho

Anónimo disse...

"...há uns sete anos atrás."

Pois é...o atrás não faz sentido. Se foi há sete anos...já foi atrás! Na formação de expressões temporais, o verbo haver é impessoal e tem a acepção de passar-se, ter decorrido, ser decorrido.