Passam hoje doze meses inteiros desde que te tive em meus
braços, passava pouco do meio dia. Ao contrário do que sempre esperei, foi uma
manhã muito tranquila que culminou com um parto rápido e praticamente indolor.
Já te esperávamos com ansiedade mas no fundo nem eu, nem o teu pai estávamos
preparados para que fosse já. “Pai, traga a roupa do bebé”, disse a enfermeira
e ambos ficámos atrapalhados com a ideia de que ias finalmente deixar a minha
barriga.
Tive-te comigo, meu filho, quase sempre desde que nasceste.
Admirei-te as feições delicadas mas ainda entumescidas pelo stress do parto
durante horas a fio, formando na minha cabeça a decisão de te nomear o mais
bonito bebé do Mundo. Muitas vezes sentia-me como se estivesse fora do meu
corpo, a olhar-me de fora sem perceber que naqueles minutos tinha deixado de
ser apenas uma mulher para passar a ser também uma Mãe, guardiã de um ser
pequeno e indefeso mas precioso como um segredo que não partilhamos com
ninguém. Fiquei aflita quando dormiste mais de seis horas seguidas, sem
entender que precisavas desse descanso para absorver as primeiras sensações de
efectivamente estar no Mundo e começar a fazer uso de todos os sentidos sem
nenhuma protecção. Durante duas ou três noites não dormi, em parte extasiada
com a tua chegada mas também determinada a cuidar de ti.
Chorei muito durante os primeiros meses, filho. De
felicidade mas também de puro desespero por sentir-me tantas vezes incapaz de
te aliviar as dores ou por sentir que me faltavam qualidades de Mãe. Durante
esse tempo, passámos grande parte dos dias sozinhos: eu concentrada em
satisfazer as tuas necessidades, tu adaptando-te ao Mundo muito, muito devagar.
Mas mesmo assim, eras a nossa alegria e eras já a alegria que enchia de
felicidade os teus avós, meio incrédulos por te poderem abraçar e mimar.
Separaram-nos depois, filho. O trabalho chegou e eu tinha já
saudades de ver a vida lá fora. Foi bom que acontecesse assim mas eu não estava
verdadeiramente preparada. Tu, como a maior parte dos bebés, adaptaste-te
maravilhosamente à tua nova vida e eu voltei ao mundo do trabalho com um
gigante nó na garganta e uma vontade absurda de correr para ti no final de cada
dia e mexer-te e inspeccionar-te para ter a certeza que te tratavam bem. Que
tristeza foi saber que passavas o dia com outras pessoas que cuidavam e
brincavam contigo mas a ideia foi lentamente aceite por nós.
E agora chegaram os últimos meses, filho e o tamanho da
nossa aventura cresceu exponencialmente. Passaste a dormir um pouco melhor,
começaste a comer com muita vontade, tornaste-te num bebé expressivo e
divertido, aprendeste a brincar e a sentar-te e a gatinhar e a ficar em pé, quiseste
começar a comunicar e eu e o teu pai somos uns tontos que passam o tempo deslumbrados
com as tuas habilidades, orgulhosos quando chamas as pessoas na rua, comovidos
quando encostas a cabeça ao nosso ombro. Que ano, filho. Fizeste de mim uma
pessoa tão diferente, obrigaste-me a informar-me mais, fizeste-me relativizar o
resto do Mundo. E eu só quero dizer que te amo, que adoro dar-te um beijinho
sempre que te pego ao colo e sempre que vejo a tentar mamar enquanto dormes, sempre
que reclamas depois do banho, sempre que estendes os braços a um estranho no
jardim, sempre apontas para as árvores e os aviões, sempre que finges que estás
zangado e sempre que olho para ti penteadinho. Podia ficar aqui para sempre,
filho, mas vou parar. Muitos Parabéns pelo teu primeiro aniversário e pelo
nosso primeiro ano em família!