Há exactamente um ano atrás, eu pensava como iria conseguir deixar de estar com o meu filho 24 horas por dia para passar a estar num emprego a tempo inteiro. Mal dormi antes do primeiro dia mas cedo percebi que aceitar esta mudança radical era o caminho para me sentir menos ansiosa e facilitar o necessário corte deste laço. Hoje, exactamente um ano depois, deixei para trás o meu emprego, com a esperança de, a partir de agora, olhar sempre em frente.
Daqui a uns dias, todos os meus acessos, toda a informação que guardei ao longo deste tempo, todas as minhas autorizações serão apagados. Daqui a outros dias ou semanas, eu deixarei de ser uma imagem de uma colega de trabalho para ser apenas uma recordação longínqua na cabeça dos restantes colegas. Saio com a sensação de entrar num imenso espaço vazio, sem som nem medidas, sem orientação nem luz e com a sensação angustiante de saber que estava lentamente a criar laços fortes, amizades precisamente nesta altura, relações que não mais poderei regar como antes. Assumo, é claro, as consequências da minha decisão mas isso não implica que fechar estar porta não traga consigo um imenso peso. É que estou cansada de despedidas e elas nem sequer acabaram ainda.
Não mais vou conduzir na A5, pouco depois das 6h30 da manhã, noite cerrada e apenas rasgada pelas luzes amarelas, longe dos engarrafamentos de quem quer entrar Lisboa pela manhã. Não mais serei eu a primeira a chegar, ligando todos os computadores, maldizendo a senhora da limpeza por nunca tratar da minha secretária, desfrutando do silêncio e da ausência de pessoas. Não mais ouvirei o telefone a tocar e fico feliz por isso. Não mais apanharei Sol naquela esplanada quase privativa, não mais passarei pelo Satélite dos Bifes. Terei saudades de algumas pessoas, com toda a certeza, mas apenas me resta esperar que a distância não mate relações, que a distância não me lance para o esquecimento. Estou cansada de me despedir e de chorar e de ouvir dizer que vai correr tudo bem. Vejo hoje que gostava de acreditar tanto em mim como acreditam as pessoas à minha volta, que me piscam o olho e me garantem a felicidade já já. Agora, com licença, vou respirar fundo e gozar as férias forçadas. Que sejam curtas, é o que desejo.