Eu adorava poder
escrever muito sobre as pessoas que me rodeiam todos os días mas, pelas razões
óbvias, não posso. Mas deixo já aqui uma nota para referência futura: encontrei
preguiçosos, competentes, desenrascados, aldrabões em todos os sítios onde já
trabalhei. É interessante ver que não são atributos exclusivos de um ramo de
negócios, de um certo tipo de posições ou de um país (apesar de me parecer cada
vez mais que algumas ideias feitas têm a sua razão de ser).
Mas eu queria
mesmo falar sobre uma divisão da qual me apercebo mais e mais nos dias que
correm – a divisão entre as pessoas que agarram a vida com vontade, com
consciência e com a intenção de tirar dela o melhor que podem e as outras, as
que simplesmente se deixam ficar, olhando sem reacção para o que lhes passa à
frente. Eu sempre gostei de me incluir na primeira categoria, passe a
imodéstia. Vivo a minha vida de maneira intensa e tento conseguir de todas as
coisas pelo menos uma espécie de educação pela via empírica, experimentar e
empenhar-me, retirar das minudências diárias o prazer e ensinamentos possíveis.
Às vezes tenho muita dificuldade em ver acima da linha de água, às vezes tenho
dias extremamente negros e em que não consigo vislumbrar nenhum optimismo no
horizonte, às vezes perco um bocadinho a esperança e deixo-me vencer pelas
miudezas da vida, há que dizê-lo. Mas quando finalmente ultrapasso esse período
de maior escuridão dedico-me a aproveitar as coisas outra vez.
Muitas vezes me
vi rodeada de pessoas que se fixam nestes momentos menos bons e ficam por ali,
a remoer e remoer até a amargura se começar a espalhar pelos outros. Não sei
quando mas eu decidi não levar muitas coisas a sério. Coisas pessoais? Sim senhora,
são exactamente elas que me dão prazer ou que me podem tirar o sono. Chatices
profissionais? Epá, não. Mesmo que no fundo morra de medo de ficar desempregada
pelo impacto financeiro que isso teria na nossa família, isso não me faz levar
estas coisas muito a peito. Que não se confundam as coisas: eu faço o que tenho
a fazer e tento sempre fazê-lo o melhor que posso e sei. Mas isso não implica
que me aborreça mais do que o estritamente necessário: tento esquecer o máximo
possível os problemas profissionais quando fecho a porta, acima de tudo aqueles
que não posso resolver. Uma vez pensei “Eu já tive um filho, o que mais me pode
assustar?” e acho mesmo que quem passou por isso perde um bocado o medo de
arriscar, do desconhecido.
Estas pessoas de
que falo têm o poder de contaminar as que estão à sua volta e de sugar toda a
energia que conseguem. Consomem-se com frustrações em vez de procurarem uma
coisa que as faça mais felizes. Batem pé pelos seus direitos mas esquecem-se
que é necessário dar alguma coisa em troca. Estou lentamente a desenvolver uma
capacidade que desconhecia até há pouco: ouvir, conversar mesmo com estes
guardiões de amargura, encolher os ombros, concordar muito e sem argumentar mas
como um receptáculo sem fundo – os seus esforços perdem-se em mim. Continuo a
ter os meus problemas, as minhas insatisfações, as coisas que me preocupam
porque não sou imune. Esforço-me é por olhar para o outro lado das coisas, por
aproveitar as oportunidades, faço por estar no sítio certo à hora certa. E não,
sobre isso não me posso mesmo queixar.
3 comentários:
Irritam-me as pessoas que ao invés de valorizarem o que têm de bom, passam a vida a lamuriar-se e a queixar-se do que não têm.
Também conheço quem só sabe apregoar os seus direitos, mas quanto às obrigações fazem-se de desentendidos. Não há paciência.
Um abraço
Marisa, excelente filosofia de vida!
O teu blog é sempre uma das minhas primeiras leituras da minha lista de blogues exatamente por causa desta tua maneira de ver as coisas. És desempoeirada, otimista, desenrascada e partilho contigo essa forma de olhar o mundo: aproveitar o mais possível, chateando-me o menos possível.
Um grande beijo, M., e que continues a escrever textos tão bons como este :)
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