Passam hoje dez anos desde que escrevi o primeiro post neste blog. Na verdade, passará ainda mais tempo porque os primeiros posts, desabafos virtuais de quem estava perdida e enamorada duma imagem que eu mesma tinha criado na minha cabeça, já vinham de outro blog, para o qual eu não encontrava o acesso. Dez anos, caraças! Se tiver em conta que durante os primeiros dezoito anos da minha vida eu não tive acesso à internet e o que escrevi antes deste blog se perdeu irremediavelmente (e ainda bem!) neste buraco negro que é a rede, então eu estive aqui durante todo este tempo. E isso pode ser irrelevante para outros mas é mais ou menos impressionante para mim.
No outro dia, completamente aborrecida num quarto de hotel qualquer, fui relendo muito do que escrevi no passado. Olhava para os arquivos, tentava pensar num acontecimento e numa data e depois lia o que tinha escrito sobre isso. Sorri, envergonhei-me, tive mais e menos certezas, gostei mais e menos do estilo mas senti que cristalizei muitos momentos bons e muitos maus da melhor maneira que soube. E se o blog não servir para mais nada, então servirá para que um dia eu me lembre mas que me lembre exactamente aquele preciso momento, para que me faça sentir as palpitações e o desalento, para que me recorde que amei e deixei de amar com o tempo, para que nunca me esqueça de como me quiseram a mim. E eu, sempre correndo o risco de me expor demasiado e a sensação de nunca escrever o que exactamente o que queria (olá S, esta é para ti!), acho que este blog é um feito, sem qualquer sombra de imodéstia.
Há uns tempos atrás, fui acusada de ter mudado a minha maneira de estar e, pior, a minha maneira de escrever. Na altura, um pouco cega e indignada com a ideia do que isso representava, apressei-me a desculpar-me e a explicar essa mudança. Mas hoje, a muitos anos-luz da pessoa que começou a escrever este blog, reconheço que mudei, que os temas e a minha voz mudaram, que fui muitas pessoas durante estes dez anos. Só que agora acho que se isso não for a tradução do melhor da minha vida, então não sei o que será. Muitas vezes tenho saudades da força que me invadia a escrita quando a minha paixão não era correspondida. Muitas vezes tenho saudades dos segredos e das fantasias que vivi sozinha dias a fio, das história e frases que repetia na minha cabeça, não quero e nem posso negá-lo. Mas não trocaria o amor que me rodeia hoje, a certeza na tranquilidade, os desejos e sonhos que ainda tenho dentro de mim por um pedaço do passado. Que além disso, no fundo, me deixava infeliz.
Por isso hoje celebro um marco importante na minha vida e celebro também as pessoas que fui conhecendo pelo caminho. Gosto do meu blog como ele é, reconheço-lhe defeitos e virtudes mas sei que, ainda que muitas vezes apenas toque a superficie, é um espelho do que eu sou. Porque é que a minha vida ou os meus sentimentos podem interessar as outras pessoas que não eu? Pois não sei e também gosto de espreitar outras vidas, outras mães, outras namoradas, outras mulheres e homens por esse mundo fora. Eu já pensei acabar com o blog algumas vezes mas sempre porque parecia que não tinha mais nada para dizer. Mas de vez em quando vou enganando esse sítio donde nasce toda a inspiração e continuo aqui. Até quando não sei. Enquanto houver coisas para viver, parece-me.
4 comentários:
Gosto do seu blog. Lembro-me que cheguei aqui "recomendada" pelo Pedro de Marvão e gostei logo das palavras e da "linha editorial", o facto de não haver publicidade e juízos de valor, sentenças e certezas sobre assuntos que não se conhece. Foi isso e ter percebido, por aquilo que partilha connosco, que é uma pessoa de bom carácter, uma boa cachopa, como diria o meu pai, seu conterrâneo. Aprecio-lhe a boa educação, o empenho e trabalho, o ser corajosa e uma boa mãe.
Escreva, sim, enquanto o fizer como até aqui passarei por cá.
Parabéns.
Querida Marisa, perguntas-te porque é que a tua vida pode interessar a outras pessoas que não tu. Dizes que não sabes a resposta mas reconheces que também gostas de “espreitar” outras vidas por esse mundo fora. Vidas de mães, namoradas, mulheres e homens que vivem como tu, na internet.
Recordo-me que comecei a entrar no teu mundo creio que pela Catarina Bucho, amiga mútua, se bem me lembro. Comecei a visitar e fui ficando porque há muitas vivências, muitas visões com as quais me identifico. Comecei a sentir-me próximo, com a ilusão que até poderíamos ser amigos se morássemos na mesma rua ou na mesma terra.
Não sei se antes, se depois, começaste a visitar e a referenciar o meu blogue no teu. Para pessoas que têm a paixão pela escrita como nós, os blogues (continuo a insistir no portuguesismo) são extensões do nosso corpo e não os podemos matar como não podemos amputar um braço ou uma perna. Sem eles ficamos mais sós, mais apagados, sem o farol de lucidez que nos guia na escuridão do dia a dia.
O blogue faz-nos falta. Até nos podemos zangar, desleixar e deixa-los sem lhes dar alimento, mas não os podemos renegar. Um blogue não é um diário que guardas na gaveta, escondes e rasgas se te der na veneta. Um blogue é um testemunho precioso de ti e de quem te rodeia.
Dou por mim muitas vezes a ver a minha Leonor que já tem 12 anos, a ler posts passados sobre a nossa vida no blogue. De quando fomos ao batismo dela no Estádio da Luz, das vezes que fomos à praia, de quando entrou para a escola, a ver uma miríade de fotos nossas que estão online...
Imagina quando o teu infante crescer. Queres melhor património para lhe deixares?
Continua a ser tu e a escrever. Tu tens a sorte de ter um blogue que criaste. O blogue tem a sorte de te ter a ti.
Já te abriu a tanta gente, já te transportou a tanta gente, já te aproximou a tanta gente…
Olha, existe e sê feliz…
Um abraço
Pedro
Marisa, faço minhas, no essêncial, as palavras do Pedro ( e que me desculpe tratá-lo assim). Um blog é exatamente uma extensão de nós quiçá algo como um heterónimo e ao qual não podemos escapar...
Obrigada meus queridos. Se precisasse de uma razão para continuar a escrever, a vossa presença aqui bastaria :)
Um beijinho Helena, Pedro e professora Dalma :)
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