Dez ou onze anos depois (a minha memória já me vai falhando), o regresso à cidade que chamei minha durante seis meses! A família enfiou-se no carro e lá atravessámos a Alemanha para visitar a capital mais interessante e livre que já pude visitar.
Quis mostrar aqueles sítios super importantes e a transbordar de História mas também aquela zona familiar e tranquila onde vivi durante aquele tempo. Quis subir à Fernsehturm e pude fazê-lo, já que antes nunca pensado nisso ou então não tinha tido tempo suficiente. Quis fazer toda a linha de metro até à estação da Warschauerstr. e espreitar todas as varandas, agora cheias de bandeiras turcas, a fazer companhia às antenas parabólicas que já se multiplicavam há dez, onze, doze anos atrás. Fiquei contente quando percebi que o Bistro Bagdad, onde comi a primeira e a última refeições na cidade ainda se mantém de pé, todo renovado, ao lado da estação da Schlesicher Tor.
As paredes continuam cheias de mensagens, confusas ou inspiradoras à vez. O prédio onde vivia está irremediavelmente marcado mas ainda com algum charme, ao lado da igreja que está agora em renovação. Aquela mercearia turca onde comprava os pimentos mais deliciosos desapareceu mas a padaria turca continua na mesma esquina. Há turistas mas não no bairro onde eu vivia e podemos passear ao som das folhas que se acumulam em montes gigantes pelos passeios.
Continuo com aquela sensação de que em Berlim podemos tudo. Continuo com aquela sensação de que, se há sítio onde deve ser bom e fácil começar de novo, é ali. Lembrei-me, durante estes dias, que não aproveitei tudo o que esta cidade incrível tem para oferecer, que nunca me abandonei às actividades, às possibilidades, às pessoas. As pessoas continuam a deixar o que não querem à porta do prédio para quem queira escolher. Sinto-me bem a falar Alemão, apesar de quase toda a gente me responder em Inglês - eu sei, parecerei tudo menos uma cidadã alemã. Sinto-me bem a pegar no jornal e conseguir ler sem precisar de ajudas. Passo à porta da universidade e fico com pena de ter parado de estudar.
Há turistas pelo centro da cidade mas nunca aquelas massas sufocantes de cidades como Paris ou Barcelona. Em Berlim, podemos respirar. Em Berlim, os números das portas não significam o mesmo do que nas outras cidades - é sempre preciso andar muito mais. Os meus filhos viram Berlim mas não a entenderam (ainda). O meu marido viu Berlim e creio ter entendido muita coisa sobre a cidade. Eu revi Berlim e tive a certeza que poderia viver ali outra vez, mesmo com os dias a acabarem tão cedo e o jornalismo sensacionalista nos ecrans do metro e as garrafas de cerveja vazias a aparecerem por todo o lado. Porque ali (parece que) podemos tudo.
2 comentários:
Sim, viver a cidade é muito diferente de visitá-la, no meu caso por 3 vezes. Nunca se entra no âmago da cidade mesmo que recusemos o que os turistas vêem e nos embrenhemos em ruas vulgares!
Vantagem do Luxemburgo a considerar! Está perto de tudo, excepto de Portugal!
Bjis
D
Se pudessemos só mover o Luxemburgo uns quilómetros mais para Sul, seria perfeito :)
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