setembro 03, 2017

Férias


Foram quase dois meses. Quatro mil quilómetros pela Europa e ainda mais em Portugal, entre Portalegre e Lisboa. Ser emigrante é isto mesmo: é ter sede de ver Mundo mas acabar sempre a desejar estar em Portugal. Passámos fora de casa tanto tempo quanto nos foi permitido. Nadámos e mergulhámos muito: o mais velho aprendeu a nadar debaixo de água, a miúda aprendeu a ficar sozinha com as braçadeiras, o pequenino tomou banho de piscina pela primeira vez e gritou quando lhe molhei os pés no mar. Abraçámos a nossa família, que pôde estragar os miúdos com mimos para compensar o resto do ano em que não estão. Comemos muito e comemos bem: muitos caracóis, empadas, sardinhas, boa fruta (obrigada tia Rosa e tio Tozé, ainda hoje comi torradas com doce de abrunhos e de figos das vossas árvores!). Foram quarenta e tal dias de muito, muito Sol, de um calor de que já não me lembrava e do que qual não vou sentir saudades, de fumo dos incêndios a esconder o Sol durante muitos fins de tarde, de leques e ar condicionado. Os cinco na nossa minúscula casa de Lisboa, sete na casa dos meus pais em Portalegre, andámos sempre ao monte e isso nunca ajudou a manter a calma. O Augusto a mudar radicalmente (noites muito mal dormidas, a fruta e a água que não vão nem à lei da bala, a barriga ainda sem funcionar), birras dos outros dois (em casa, nas piscinas, à saída da praia, nos restaurantes, no jardim da Estrela - em suma, onde pusemos o pé!). Mas também vivemos muitos momentos de alegria pura: quando não saíam da água a manhã toda, quando puderam apanhar ovos directamente no galinheiro e morangos da planta e abrunhos da árvores, quando andaram de trotinete, quando brincaram com os primos e com os amigos que só vêem uma vez por ano, quando recebiam mimos dos avós, dos tios, dos vizinhos.

O pai regressa ao trabalho amanhã. Eu tenho ainda um mês para me recompor, para preparar a entrada do mais velho para a primeira classe e a entrada do mais novo para a creche. E para dormir todas as sestas que conseguir, para ler e sair sozinha - é como se as minhas férias começassem agora. E respirar fundo muitas vezes, lembrando que falta uma mês para voltar à vida real. É que, por muito que o deseje, estou ansiosa por ver como nos vamos adaptar à nova vida trabalhadores + pais de três. Estou confiante, apesar de estar quase a bater com a cabeça no teclado. Se conseguir resistir a esta falta de sono, então será oficial: sou invencível!

1 comentário:

Dalma disse...

Querida, tudo o que contas é absolutamente normal numa família normal!
Logo que a rotina luxemburguesa se instale tudo será mais simples.
Beijinhos
D.