setembro 22, 2017

Socorro, tenho um filho na primeira classe!

Todos os pais passam por isto, felizmente. Os miúdos crescem, passam da creche à pré-primária e de repente, puff!, estão na primeira classe. Imagino que à primeira custa um bocadinho, à segunda já se está mais à vontade e à terceira já se faz com uma perna às costas, mas é sempre um momento tão especial para pais e filhos.

O Vicente entrou para a primeira classe este ano, poucos dias antes de fazer sete anos. Pessoalmente, tenho a mania de o comparar comigo e, como entrei para a escola ainda com cinco anos, parece-me que ele vai atrasado. Mas o sistema educativo no Luxemburgo é diferente e aqui prefere-se que os miúdos brinquem uns bons três anos (um ano de Prècoce e dois anos de Spilschoul, literalmente escola precoce e escola de brincar) antes de começarem a aprender a sério. Digo a sério porque em ambas as escolas eles aprendem sobre a vida em sociedade, sobre a sua relação com os outros e com o seu próprio corpo, são despertados para os números, as letras, as artes e os trabalhos manuais mas ainda não funcionam em disciplinas propriamente ditas nem são, naturalmente, avaliados. Antes, são seguidos pelas educadoras e há balanços a cada três meses para que os pais saibam onde os podem ajudar, quais são os pontos fortes e os pontos fracos. Para o menino Vicente, o ponto fraco foi sempre (ainda é) o controlo da suas emoções, que leva às vezes a alguns problemas de indisciplina. Nada de grave, felizmente, mas ainda assim um assunto que trabalhamos com ele já da creche porque ele vive de coração da boca e consegue ser a maior drama queen deste mundo.

A geração dele não tem nada a ver com a minha geração em termos escolares. Quando nós andávamos na escola, a idea era os nossos pais darem-nos as oportunidades e ferramentas que eles mesmos não tinham tido. Em muitas famílias, os miúdos da minha geração eram os primeiros a poder ir para a universidade ou, pelo menos, a fazê-lo com algum conforto, ainda que com muito sacrifício. Não é isso que me preocupa na escolaridade do Vicente: já vivi o suficiente para perceber que uma licenciatura ou um mestrado não significam nada por si mesmo e podem mesmo nem ajudar no mundo profissional. Vou continuar a achar que a universidade é fundamental para melhor compreender o mundo, para aprender a pensar e apreciar as artes, a política e a cultura mas não é obrigatória.

O que me custa no sistema educativo luxemburguês é uma espécie de elitismo: os alunos são muitas vezes julgados previamente com base no seu apelido, sem incluir o seu percurso escolar. Isto significa que alunos com um apelido português são automaticamente colocados no pote dos menos capazes e orientados para o ensino técnico em vez do percurso no ensino clássico. Quero dizer que não tenho absolutamente nada contra o ensino técnico e que ficarei igualmente feliz se o Vicente quiser ser canalizador, electricista, médico ou sociólogo. A única coisa que desejo é que ele tenha muito sucesso no seu percurso académico mas, acima de tudo, que ele possa ESCOLHER o que quer fazer e que não seja prejudicado simplesmente pela sua nacionalidade. É um trabalho que também nos cabe a nós, pais: acompanhá-lo, ajudá-lo e fazê-lo sentir que tudo lhe é permitido, assim se aplique, esforçe e queira.

De resto, e avaliando apenas os primeiros dias de aulas, estou bastante feliz como se organiza a sua semana escolar e com os primeiros resultados que vou vendo nos cadernos diariamente. A escolaridade aqui é feita em Alemão (o Luxemburguês surge como língua à parte e o Francês e o Inglês só aparecem mais tarde), aprendem música, fazem ginástica e natação, têm uma disciplina de vida em sociedade (que substituiu Religião e Moral) e ainda brincam muito. Se ele se conseguir manter aplicado e entusiasmado como até agora (é pouquíssimo tempo, eu sei), estamos bem. E estamos cá para empurrar nos momentos em que isso não for assim. Empurrar com força, se for preciso.

4 comentários:

Helena Barreta disse...

Parabéns ao Vicente, que corra tudo bem.

Bom fim-de-semana

M. disse...

Muito obrigada Helena! Também por estar aqui,"vendo-o" crescer :)

Dalma disse...

Querida, acredito que a ida de um filho para a Escol custa sempre aos pais, com primasia para as mães, claro! É assim um sentir um se lhes perde alguma coisa... A eles ou à maior parte deles não lhe custa nada, acredita.

Quanto a essa futura seriação, sabia que na Suíça existia e que realmente os pais têm que ficar muito atentos quanto ao empurrarem as crianças para onde eles decidem. Mas como ainda falta muito tempo, vai trabalhando o percurso escolar do Vicente para que problemas desses não surjam.

P.S. lembras-te da Clélia? 27 anos depois reencontramo-nos!

M. disse...

Querida professora, a ele não custou mesmo nada: entrou feliz e cheio de entusiasmo! E tem-se portado lindamente, fiquei muito contente! Ele pode sempre contar conosco para ajudar, vamos trabalhar juntos :)

E não me lembro da Clélia. Afinal faz 20 anos que terminei o secundário, ela parece ser mais velha.