Eu tenho péssima memória e ter filhos só o vem provar. Se me perguntarem quando teve o Vicente o primeiro dente ou quando é que a Amália começou a gatinhar... não sei. Só se houver alguma imagem, algum registo do que ficou para trás, caso contrário estas minúsculas conquistas perdem-se na minha cabeça.
Pensava que ao terceiro filho já sabia tudo o que havia para saber da maternidade. Pensava que tinha a amamentação, os sonos, os sólidos, as constipações dominadas. Pensava que seria muito estranho ter dúvidas à terceira vez. Mas acontece que as tenho, não fosse cada um dos meus filhos uma pessoa diferente e única, com a sua personalidade e afectos e birras. A quantidade de literatura que consumi (especialmente antes de nascer o primeiro) sobre tudo o que era ter um bebé em casa de pouco serviu. Eles continuaram a chorar, a dormir muito pouco, eu continuei a não conseguir dormir durante o dia, a deixar-me muitas vezes consumir-me pela dúvida e, acima de tudo, pela culpa. E a esquecer-me que, na maior parte dos casos, não vale a pena procurar um motivo, uma razão, uma desculpa - eles são como são, um obedece mais, outra é dona disto tudo, o terceiro ainda se está a formar. Nós podemos ampará-los e direccioná-los mas tenho que repetir muitas vezes para mim mesma que dificilmente eles farão tudo o que achamos ser o melhor para eles. Mas ser mãe é nunca deixar de tentar.
Talvez por ter nascido prematuro (um mês antes do tempo, nada dramático, eu sei; muitos outros bebés vieram muito antes do tempo e, juntamente com as família,s lutaram para sobreviver e isso faz-me sentir privilegiada e parece que me tira o direito ao sofrimento que foram aqueles dias na Neonatologia), eu preocupo-me mais com o desenvolvimento do pequeno Augusto. Não passo os dias a pensar nisso e sei como essas coisas são flexíveis mas não posso dizer que não me custava perceber que ainda não se virava bem aos cinco meses ou ainda não se mantinha sentado depois dos sete. Mas na semana passada, quando o vi sentado e quase a brincar com o que tinha à frente, senti que continuo a sofrer por antecipação.
E, nem a propósito, li no mural da bonita Inês Maria Meneses a seguinte frase Convocar a angústia antes do tempo, condiciona a possibilidade de vivermos melhor. E sei que este trabalho nunca está feito, a ansiedade está quase sempre lá, o pensamento é mais rápido do que a luz mas faço, há algum tempo, muita força para viver apenas agora. Deixando para trás aquilo que já não volta, impondo reservas a mim mesma sobre sonhos futuros (apenas os necessários, ninguém pode viver sem sonhar), tentanto fazer deste momento presente o melhor que posso. Com filhos, isso é especialmente importante e excepcionalmente difícil: como seguir em frente, sabendo que o que fazemos hoje condicionará o que eles serão amanhã? Só lhes posso prometer tentar e garantir que, com birras ou sem elas, capazes de se sentar ou já de correr, eu gosto deles exactamente como eles são. E esperar que um dia não lhe seja tão difícil aceitar as suas imperfeições como às vezes me acontece. Sem pressas e sem culpas.
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