(esta ilustração é da Julia Bres, que tem este Instragam divertidíssimo sobre viver no Luxemburgo)
Há seis anos atrás saí de um avião e fazia muito frio. Tinha acabado de aterrar com um bebé de um ano e meio naquele que iria tornar-se o nosso país de estimação. Há seis anos atrás começou a nossa vida no Luxemburgo, este bebé tem quase oito anos e um irmão e uma irmã a fazerem-lhe companhia.
Quantos anos pensava ficar, quando aterrei? Não faço ideia mas acho que secretamente tinha a esperança de que fossem menos de cinco, talvez só um enquanto as coisas não se ajeitassem. Eis que passaram seis anos e não estou a ver o fim desta vida luxemburguesa, embora pense sempre muito no que seria voltar a ter a nossa vida portuguesa. Se tivesse de escolher uma razão para que esta nova vida valesse a pena, seria apenas uma - os nossos filhos. Se não tivessemos emigrado, provavelmente teríamos só um Vicente para contar a história, que a vida lá não dava para mais. E depois nunca ia conhecer a rainha das birras e das doçuras, nem o príncipe da tranquilidade que estava cheio de pressa em chegar.
Estes seis anos foram, obviamente, os mais intensos da minha vida: muito chorei, muitas saudades me apertaram a garganta mas, principalmente, muito aprendi e isso não tem mesmo preço. Voltei a falar Francês e a dar uns toques no Alemão; descobri uma empresa em que sempre me senti em casa, mesmo quando as coisas não davam para isso; fiz coisas para as quais nunca estudei e outras a que já estava habituada; conheci gente de todo o mundo, confirmei e desfiz estereótipos, desiludi-me e surpreendi-me muitas vezes; não fiz muitos amigos, é verdade, mas sinto que a minha integração ainda está a acontecer e esforço-me por fazer parte desta sociedade.
O dia da nossa chegada aqui desfez-se um pouco na minha memória. Lembro-me da viagem com os meus pais para o aeroporto e do tristes que estávamos todos, com dificuldades em falar. Lembro-me de tentar suster o Vicente sossegado e adormecê-lo no avião enquanto ele se debatia como um louco. Lembro-me de sair do aeroporto e o dia estar cinzento e de soltar umas lágrimas no caminho para casa. Depois disso tanto, tanto aconteceu! Mudei de emprego, mudámos de casa, pari dois filhos em hospitais diferentes e sempre sozinha, fui muito feliz, chorei muito com a vontade de regressar a Portugal, fizemos muitos planos que concretizámos e ainda mais que continuamos a adiar. Ninguém me vai devolver estes anos que passo fora do meu país, longe da minha família e dos nossos amigos. Ninguém me ajuda a recuperar os nascimentos que perdi, as festas a que não pude ir, as mortes que não pude chorar. Mas é assim mesmo a vida e eu estou grata por termos tido esta oportunidade, mesmo que nos custe pensar no que deixámos para trás.
Nem de propósito, a minha chegada ao Luxemburgo coincidiu com a chegada da Primavera, com tudo de bonito que essa analogia pode trazer. E hoje está mesmo um dia de Primavera à Luxemburgo: gelado mas com um sol radiante, para me lembrar que não, não podemos ter tudo ao mesmo tempo. Resta agasalharmo-nos bem e fazer o melhor deste dia tão luminoso. É como na vida, também.
1 comentário:
Marisa, como eu gostei deste teu post!
Continuas a escrever tão bem nesta língua que é a tua!
Hoje, dia em que começa para nós a Primavera (aqui na Flórida de onde partirei dentro de três horas, ela não existe) desejo-te que continues a ser feliz!
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