Hoje foi o dia de ver A Naifa e acho que não podia ter ficado mais emocionada com o que vi.
(Pois, a foto é uma merda mas foi gentilmente cedida pela minha irmã, que com o seu telemóvel fez as vezes da máquina digital que esquecemos em Lisboa...)
Chegámos em cima da hora marcada ao alpendre do Mosteiro de S. Bernardo mas muitas cadeiras estavam ainda livres. Nem os aquecedores de esplanada conseguiam manter-nos quentes porque aqui a metereologia não costuma seguir os trâmites legais de sucessão das estações. Os lugares da frente estavam reservados para inúmeras personalidades do jet set portalegrense que, ou com medo do frio ou com pavor do desconhecido, resolveram não aparecer. Eles é que perderam.
15 minutos depois da hora marcada eles pisam o palco. Primeiro Luis Varatojo e João Aguardela para um breve instrumental, que aliás abre o cd. Depois entra, discreto, Vasco Vaz. E todos preparam a entrada da triunfal Maria Antónia Mendes e da sua voz-carícia-potência. Começam por seguir o alinhamento das 'Canções subterrâneas' e depois passeiam-se mais livremente pelo fado-caixa-de-ritmos.
'Música', o seu primeiro single, arranca as primeiras reacções mais livres dos membros da banda. Mitó roda a sua saia de fadista e João Aguardela liberta-se um pouco. 'Meterológica' é, para mim, uma surpresa, uma vez que se trata de um poema de Adília Lopes. 'Rapaz a arder' é um perigo para as lágrimas que há muito ameaçam deixar os meus olhos - desde o início, sento-me embevecida e a rebentar de comoção. Já no concerto de Rodrigo Leão me sentia assim: congestionada por dentro, com fado e Lisboa no Verão a quererem sair.
Dois morcegos voavam enquanto A Naifa destilava Alfama e aquelas ruas estreitas em palco, cantando inclusivamente um tema a esse bairro dedicado. É delicioso ouvir o fado-electrónico deles, pontuado pelos poemas simples e livres. Mas nem todos sentem o mesmo - muitos dos meus conterrâneos passaram o concerto inteirinho a falar, desatentos e desrespeitadores. É uma lástima pensar que muitos deles são os mesmo que se queixam que Portalegre é um marasmo cultural - muitas vezes damos pérolas a porcos.
A prestação de todos foi consistente e surpreendente: João Aguardela portava-se como um marialva no baixo, deitando olhares fugidios a esta Severa moderna que é Maria Antónia; Luis Varatojo provou ser muito mais que o folgazão dos Despe e Siga e dedilhou a guitarra portuguesa como ninguém; Vasco Vaz, mais discreto porque o seu instrumento assim o obriga, marcou pontos nos ritmos cadenciados.
Quando A Naifa ameaçou deixar o palco, alguns resistentes ao desconforto provocado pelo frio fincaram pé e pedir um encore. Quando voltaram, provaram que a festa se faz com poucos mas bons e surpreenderam com uma cover da 'Tourada', em que brilharam uma vez mais e puseram os resistentes a cantar, dançar e apaludir. Aplaudir muito. E quando Mitó diz 'Os milagres realmente acontecem...', tive que sorrir. Porque tinha acabado de atingir um estado de felicidade elevado apenas com a música e eu sei que isso não acontece todos os dias.
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