maio 30, 2006

Tarde completamente cinematográfica, entre os divx piratas e os filmes em canais do cabo. Foi assim que me apanhei a ver o High Fidelity, tanto tempo depois de ter lido o livro e de inúmeras ocasiões em que o quis comprar (ainda bem que não o comprei, diria de passagem).


Não quero discorrer sobre a qualidade do filme, nem sobre como John Cusack representa a forma como muitas pessoas da minha idade se queriam ver (livres, a trabalhar com música e com tempo para coisas como a literatura ou o cinema), nem muito menos como é absolutamente cool a forma como ele faz listas para tudo. A única coisa que me apetece dizer é que, como ele, também eu já fiz esse exercício mental de dissecar todas as minhas relações e, especialmente a forma como elas terminaram. Infelizmente, e ao contrário dele, não percebi se há algum ponto em comum em todas elas e daqui não obtive qualquer tipo de redenção. Nem sequer vou falar de um final feliz...


We were frightened of being left alone for the rest of our lives. Only people of a certain disposition are frightened of being alone for the rest of their lives at the age of 26, and we were of that disposition.

maio 29, 2006

Mas alguém sabe onde é que ele se meteu?

maio 26, 2006

Ontem foi dia de...


ver JP Simões em café concerto, com as suas Canções do Jovem Cão. Foi um concerto muito simples e despojado mas o que me ficou mesmo na memória foi uma frase que ele usou, meio a sério.


Vivemos na fronteira com o desastre.

maio 24, 2006

And now for something completely Lomo...




Sentei-me no hall de entrada porque não conseguia suportar o ambiente abafado que se respirava na sala de espera. Mas sentei-me de maneira a poder controlar o monitor onde se lia '3 em triagem' e '15 por observar'. Os doentes entravam a uma média lenta: bebés que choravam muito, velhos em cadeira de rodas já com a cor da morte, a rapariga constipada - a todos unia uma grande vontade de estar noutro lugar. Conhecia o segurança da minha adolescência: um jogador de futebol tão promissor que acabara a fazer bonito entre as paredes doentes de um hospital. Não conhecia mais ninguém: a cidade que um dia eu julguei conhecer não passa hoje de um conjunto de caras e corpos que me são estranhos, que não carregam em si recordações minhas.


Ela demorava mas o pior era não saber porque demorava: teria desmaiado, estaria já a ser atendida ou estaria esquecida em alguma maca ou cadeira no corredor. A minha cabeça ontem só fabricava perguntas. Pensei de repente 'Então e quando eu tiver que fazer o mesmo mas pelos meus pais? O que vai ser de mim quando tiver que os empurrar numa cadeira de rodas ou quando tiver que ser eu a relatar o que sentem porque já não conseguem falar?'. Fechei os olhos, também de repente, e concentrei-me nos bombeiros que, perante a hipótese de levarem consigo um cadáver, escolhem desanuviar a cabeça enquanto bebem um chocolate quente.

maio 21, 2006

E agora, porque a ocasião assim o exige e a pedido de muitas famílias, aqui ficam breves instantâneos de um dia de casamento.



Patrice, a gaja mais gira do casamento (pronto, excluindo a noiva, mas essa irá sempre ocupar o lugar de maior destaque onde quer que esteja), em pleno momento de descanso de uns pés massacrados por saltos com centímetros a mais.

Moi, irmã da gaja mais gira do casamento, com uma das melhores coisas que podiam ter acontecido à nossa mesa: um Franchicola amoroso, com birras muito curtas e cuja única vontade era roooooooooooooodar.


La plaisanterie



Uma noite estranha para quem esperava que ele chegasse, se sentasse e tocasse no acordeão a banda sonora da Amelie em versão integral.


Uma noite fascinante para quem sabia com o que podia contar.

[Fotos Yann Tiersen no CAEP, cortesia Mário T.]

maio 19, 2006



Tenho a certeza que o Mundo hoje me vai parecer muito mais bonito.

[suspiro]

maio 18, 2006

Da viagem costumeira ou a importância de usar óculos de sol


Pois que eu e a minha mui prezada mana nos fizemos à estrada mais uma vez, numa tarde quente e seca para, a meio da mesma, descobrimos (ou, pelo menos, prestarmos atenção) um fenómeno não muito interessante mas cómico. Coloquem-se duas raparigas num carro velho mas valente, adicionem-lhe dois pares de óculos de sol e vejam as reacções pelas estradas de Portugal.


Sempre que ultrapassamos um camionista ou um carro onde os elementos masculinos sejam mais que um (1) é festa garantida. Ele é sinais de luzes, ele é buzinadelas que são autênticos assobios, ele é ver nascer a esperança naquelas faces cansadas de pedreiros ou camionistas.


Nem comento o efeito que a mesma receita tem entre aqueles operários que trabalham nas bermas ou nos sítios de passagem alternada, em que seguram aquelas tabuletas de stop. Aí sim, quase vemos o alcatrão e o mais que venha a borbulhar. O curioso é que eles não chegam a ver a nossa cara nem sequer a olhar para o nosso corpo. Nós podíamos ser as maiores aberrações da Natureza mas, que raios!, usamos grandes óculos de sol e isso é suficiente para despertar a libido deles! Só tenho pena de pensar podia encontrar o meu mais que tudo numa qualquer berma de estrada mas não vou sabê-lo porque tenho sempre demasiada pressa e medo que, saída do carro, a magia dos óculos desapareça...

maio 16, 2006

Hoje acordei assim:



com a mania que sou uma rock star e que posso simplesmente ignorar o Mundo.

maio 15, 2006

Marisa 1 - Call Center 0

[enquanto faz aquele gesto semelhante à manipulação de uma serra e tenta imaginar com toda a força o que daí vem e fica radiante porque, afinal, pode papar os concertos todos que queria.]

maio 14, 2006



Gosto de Domingos assim. Acordei agora de uma sesta no sofá que me deixou mole, muito mole mas recuperada. O almoço deixou-me enfartada e capaz de rebolar pelas escadas abaixo: uma deliciosa massada de peixe num restaurante sossegado e distinto.

Os meus pais partiram há pouco, deixando para trás o frigorífico e o guarda-roupa cheios! Há gelado no congelador, mais peixe para assar e muita fruta na mesa da cozinha. A roupa do casamento da próxima semana seguiu com eles para uma limpeza final. Só ficaram os sapatos, para que os possa amaciar e domar.

Há a promessa de um filme logo à noite, como deve ser visto e como não tenho tido tempo para fazer durante a semana. A escolha esteve longe de ser unânime mas conseguimos um consenso, o que normalmente acontece.

Amanhã é O dia: finalmente vou saber se continuo afundada na mediocridade do call center ou se vou dar o salto para uma coisa com mais possibilidades de futuro. Agora ainda não penso nisso mas sei que à noite, mais uma vez, a vertigem vai atacar. O Porto continua a ganhar. É pena mas também nunca disse que acreditava em dias perfeitos.



Só para que saibam. E para que a água cresça nas vossas bocas. Só faltava documentar a deliciosa sobremesa japonesa que também nos esperava...

maio 11, 2006

[Adenda ao post anterior.]


Valham-me as noites a jogar King e a comer queijo de Nisa, em que entro com uns trocos na carteira e saio um bocadinho mais rica. Ou as noites em que nos convidam para sushi, sem sakê mas com Super Bock e em que a televisão escolhe desligar-se de 10 em 10 minutos. São estas (apenas) duas receitas para manter a sanidade mental.
Começa a ser difícil. Digo que começa a ser difícil adormecer com esta sensação de vertigem todas as noites: sempre que me deito e esvazio um pouco a cabeça, ela percebe e ataca. É aquela sensação de que temos um vazio imenso debaixo dos nossos pés e não sabemos quando nem onde vamos cair, só podemos deixar-nos ir.


Pelas circunstâncias da vida, já me senti assim umas quantas vezes: sempre que sentia que a minha vida ia mudar ou sempre que sentia que tinha que ser eu a dar o primeiro passo para isso. Só que parece que a sensação se agudiza à medida que nos tornamos mais velhos e que precisamos de mais segurança e certezas. Uns dizem que ligam mas nunca o fazem; outros dizem que têm muita urgência mas a inexistência de contactos nega-o. É lixado sentir esta vertigem por uma mudança que nem vai ser nada de especial, não vai implicar mudar de cidade ou país - é um desafio, como o são todas as mudanças, mas nada de radical. E isto tudo, correndo o risco de, no final, não sobrar nada para contar.


Mesmo que a mudança não aconteça, eu peço todos os dias para que me acabem com a vertigem. Porque ela só sabe bem se a sentirmos no coração.

maio 05, 2006

Prenda do Dia da Mãe, Tapete de Rato (com duas macacas na palhaçada em Berlim)



[Depois de termos dados todos os electrodomésticos, perfumes, livros, colares, fruteiras, dvds possíveis.]

maio 04, 2006

" I can never be free from you
Till I escape the lion's jaw
There's no welcome in the end
There's no reason to return again"

Mirah, Mt. St. Helens

Já tanta gente o perguntou e o Rui Veloso cantou-o mesmo numa canção: será possível amar alguém que não partilhe os nossos gostos musicais? Será possível sentir a harmonia que todos procuramos quando temos ao lado uma pessoa que não faz ideia de quem são os Arcade Fire, por exemplo? Lembro-me que a minha mãe me disse uma vez que essa era uma ideia muito estranha, que isso não interessava para nada e o que contava mesmo era os sacrifícios que todos temos que fazer ou as cedências a que nos vemos obrigados.


Mas eu começo a pensar e, que me lembre, em todas as relações que tive (pelo menos dignas desse nome) havia a partilha dos gostos musicais. Casos houve que em podia mesmo falar de simbiose, tal era a semelhança do que ouvíamos - talvez porque estivéssemos a descobrir tudo ao mesmo tempo. Portanto, não faço ideia do que é estar com uma pessoa que não vibra como eu quando ouço, sei lá, a 'Rosa' do Rodrigo Leão. Depois ocorreu-me um pensamento em direcção contrária: mesmo com os mesmos gostos musicais, ainda não tive a habilidade de manter uma relação tempo (que eu achasse) suficiente ("Too young to hold on and too old to break free and run", já dizia o outro).


Neste momento, tudo aponta para um sucesso na relação decorrente das diferenças entre o casal. Portanto, se num dias destes me virem a passear num carro em que se ouve bem alto qualquer sucesso tecno-pimba de Verão, não estranhem. É tudo uma questão de experimentar.

maio 01, 2006

Favas com morcela ao almoço e arroz de pato ao jantar. Muita conversa (estragada, séria, nostálgica, em forma de flirt) regada com ainda mais cerveja. Apanhar sol, deitada na relva como se estivesse algures na Europa do Norte. Não ter pressa para nada. Reencontrar quem queríamos ver há muito e perceber que a vontade é mútua. Sair de casa a pé e regressar de madrugada sem precisar ter medo. Comer moelas e caracóis. Comer um gelado, abraçar o Franchicola e dar-lhe um grande beijinho porque um amigo o atacou com uma peça de Lego.


Ainda há quem estranhe o facto de eu gostar tanto de regressar a casa. Pfff.