Às onze da manhã entraste num autocarro com destino ao teu Destino. A essa mesma hora, eu acordei e, ainda deitada e atordoada com o frio da manhã, pensei que estavas a partir. Estar longe de ti não é sequer uma novidade: aliás, a única maneira de funcionarmos foi sempre essa. Mas, mesmo assim, acho que vai ser estranho pensar em ti, para lá da nossa fronteira.
Tens dois braços ansiosos à tua espera. Tens um olhar, que recordavas nas noites em que não dormias, que precisas de rever. Ela é o teu porto de abrigo e vai receber-te exultante. Imagino a tua viagem e a maneira como olhas pela janela do autocarro, meio perdido, meio deslumbrado com a liberdade total. Tentaste ser feliz muitas vezes e sempre de maneiras diferentes e nunca foste capaz. Nem eu fui capaz de chegar onde precisas que cheguem. Mas pelo menos eu tentei. Ela conseguiu, pelos vistos. Ela foi mais forte e levou-te até ela, portanto tem que ser alguém especial. E se assim é, tu vais conseguir construir finalmente qualquer coisa. Um caminho, um legado, uma relação, qualquer coisa.
A carta que te escrevi chegar-te-à às mãos. Provavelmente vais lê-la e escondê-la. Ou então lê-la e deitá-la fora de imediato. Mas as cartas sempre foram um tesouro, escrever tudo à mão sempre foi um alívio e uma marca mais duradoura que um telefonema, um email. Para já apenas desejo que sejas feliz. Que não seja esta mais uma oportunidade desperdiçada, um engano, um contratempo, uma indecisão da tua cabeça inconstante. E que o seja nos braços de alguém que lê as tuas necessidades nos teus olhos inexploráveis, os olhos mais bonitos que alguma vez vi.