fevereiro 27, 2010

Constatação de facto

Ele é o melhor do mundo e tudo o que possa dizer mais não passaria de uma redundância.

fevereiro 26, 2010

M. vai acordando do torpor

Cada vez mais caio em mim e compreendo que há uma vida a desenvolver-se cá dentro. Primeiro, foi contar à família e amigos - tornou a coisa um pouco mais real. Depois, espalhou-se também a novidade pelo local de trabalho e as reacções foram bastante entusiastas. Tanto que inclusivamente hoje ganhei um vale para um SPA na nossa reunião mensal. Agora, forçosamente afastada da minha mãe, ganhei um coro de recomendações e horas para comer e proibições na forma das mais variadas mulheres que, com ou sem experiência, me querem ajudar.

Mas a prova de fogo, aquele momento em que tudo se tornou verdadeiro, foi na ecografia precoce, em que a médica me assegurou que o rebento está confortavelmente instalado no saco gestacional, com um coraçãozinho que já bate no seu centrímetro e meio de comprimento! Não foi propriamente um momento de muita comoção - acho que ainda estou demasiado atordoada para chorar de alegria ou sentir verdadeiramente esta ternura de mãe. Mas a verdade é que foi um banho de realidade tão grande que agora estou a tentar fazer tudo em pés de lã para não incomodar a sementinha que ainda dorme.

E todos os dias me questiono se o meu instinto maternal vai ser tão protector e desinteressado como os melhores exemplos de mãe que conheço (a minha e assim). E também me pergunto a toda a hora se estou a fazer tudo bem, se me permito ou não algum excesso, se estou a tomar o cuidado necessário - sou perfeccionista até para a minha sementinha. Agora que lentamente (espero que não seja passageiro!) deixo de me sentir esgotada pelas náuseas e enjoos, espero ansiosa por ver a minha barriga a crescer!

fevereiro 24, 2010

Música para a borboletinha

Sempre imaginei como iria mostrar aos meus filhos tudo aquilo de que gosto - livros, canções, receitas, fotografias - não para os moldar, mas antes para lhes abrir os horizontes para que possam procurar por eles próprios. Para começar, vou levar a borboletinha a (pelo menos) estes três concertos e, mesmo que ela ainda não possa ouvir, espero um dia ouvi-la dizer "Oh eu já vi Sonic Youth e foi na barriga da minha mãe...". Enquanto isso, vou continuar a construir-lhe o legado em forma de pastas de mp3, fotografias tiradas pelo pai e livros que se acumulam nas prateleiras. Assim, ela lembrar-se-à sempre de quem fomos um dia.

fevereiro 22, 2010

[modo:pausa]

Aproveitando que a criança hoje me deixou literalmente de rastos, passo o tempo entre a cama e o sofá vermelho, sem conseguir notar quaisquer melhoras no meu estado. Há quem diga que vem lá uma criança cabeluda (o que, a acreditar no pai e na mãe, teria a sua razão de ser), outros falam do carácter temperamental do rebento. Seja lá o que for, a única coisa que eu peço é que deixe a mãe descansar um pouco, sem passar a maior parte dos dias na cama, completamente impaciente e intolerante a qualquer estímulo. Felizmente, amanhã teremos finalmente a primeira consulta, depois do Serviço Nacional de Saúde me ter cancelado uma e adiado para daqui a um mês. Sendo que ainda não fui vista por nenhum médico, pareceu-me uma falta de consideração e a senhora que me atendeu teve também a delicadeza de me informar que sem médico de família também pouco mais poderia fazer - portanto, a culpa de eu não ter médico de família há três anos é totalmente minha e não de um sistema sobrecarregado e mal organizado. Enfim, valham-nos os seguros de saúde.

Na semana passada, e aproveitando umas tréguas que a criança me deu, fui usar a prenda de aniversário da mana três meses depois. Tinha marcado, portanto, uma aula de auto-maquilhagem, esquecendo-me que ia estar num sítio público, com as pessoas a passarem enquanto eu expunha a minha falta de jeito. Foi muito interessante para mim mas não tanto para a maquilhadora que me acompanhou, que resolveu, a meio do fracasso, que iríamos apenas ficar pelos movimentos e produtos básicos. Assegurou-me que, quando os dominar, posso voltar para mais dicas. Acho que isto fala pelo meu jeito atrapalhado de quem muitas vezes não usa sequer hidratante e muito menos se maquilha sozinha. Só não preciso daquele olhar de piedade de quem o faz diariamente, como se eu fosse um bicho raro - cresci ao natural e nunca senti necessidade de me pintar todos os dias.

E agora vou tentar retomar um pouco da realidade caseira, nomeadamente tentando manter-me em pé para lavar a louça. Sim, é a isto que tem chegado a minha rotina. Se houver aí alguém com uma mezinha na manga, que não seja comer a bolacha ainda na cama (já tentei, falhou), eu e as pessoas que tenho maltratado ultimamente agradecemos muito.

fevereiro 17, 2010

Ainda sobre estados de graça

Eu gostava de escrever sobre outra coisa que não a gravidez mas ultimamente é como se só isso fosse verdadeiro no Mundo e tudo o resto não passasse de uma realidade paralela, turva e distante. Já se começam a ouvir os primeiros conselhos de mães já experientes que, bem intencionadas, me tentam mostrar as várias soluções para os vários problemas que ainda não existem: a distribuição da licença de maternidade, os alimentos a evitar, as tácticas falhadas de tentar enganar o sono que não me larga.

Eu, uma pessoa susceptível à ansiedade e naturalmente nervosa, estou a tentar o melhor que posso não ceder aos enjoos contínuos, já que a única forma de os aliviar é estar deitada. Só que estar deitada é obviamente incompatível com aquilo a que vulgarmente chamamos trabalhar e começo mesmo a recear que este estado de azoamento tenha mais impacto na minha vida profissional do que inicialmente previa ou desejava. Depois esta má disposição também contagia os que estão à minha volta, porque, mesmo querendo ajudar, nada podem contra um corpo que se habitua lentamente ao novo inquilino. Estou até prestes da largar os comprimidos contras as náuses, visto serem manifestamente ineficazes e assim sempre poupo nos químicos.

Lentamente, a ideia de que vou ser mãe ganha contornos reais e mentiria de dissesse que não me estou a preocupar com nada. Agora espero ansiosamente por Segunda-feira, quando, vista pela primeira vez por um médico, vou poder colocar todas as questões que agora me afligem (os alimentos, o exercício, as análises, as mudanças, as fases, os cuidados...). Depois disso não duvido que arranjarei outra ansiedade qualquer. Vou ser mãe, caraças!

fevereiro 14, 2010

Now that the cat's out of the bag... *

Não foi exactamente como tínhamos planeado. Era suposto ficar tudo no segredo dos deuses (ou da família, neste caso) até que as coisas fossem suficientemente sólidas e tranquilas. Mas não quis o destino que as bocas ficassem sossegadas e, quando demos por nós, já a notícia corria por aí fora. Decidimos dar nós as novidades a quem nos está mais perto antes que soubessem por outras pessoas que não nós.

Vem aí uma criança e nós, como não podia deixar de ser, estamos radiantes. A juntar a isso, há também a alegria das nossas famílias, as mensagens entusiastas dos amigos, os encontros que se vão marcando para pôr as novidades em dia. A única coisa que ensombra este momento é a minha constante má disposição, os enjoos de manhã à noite e um sono incontrolável que podem ser confundidos com falta de vontade de trazer uma vida ao Mundo. É verdade que só eu é que sei o que me tem passado pela cabeça nestes últimos dias: a educação de quem aí vem, as noites sem dormir, as responsabilidades que nunca mais vão acabar, a papelada a tratar, todas as coisas que podem correr mal... É natural, dirão muitos. Eu sei que sim e sei reconhecer que esta sou eu em pânico. Vou lendo e aprendendo com a experiências dos outros, na esperança de também eu vir a ser uma boa mãe.

* não admira, portanto, eu andar a ler os últimos posts do Pedro com uma alegria que não conseguia disfarçar, emocionada por mais uma experiência na primeira pessoa.

fevereiro 08, 2010

Darker side of me


Gostava de vos poder demonstrar a confusão que vai na minha cabeça neste momento. Mas o máximo que consigo é ilustrar o meu estado de espírito com esta música porque, apesar dos dias estarem mais curtos e às vezes mais claros, acho que ainda estou a sofrer com a falta de serotonina. Tenho tantas perguntas sem resposta na minha cabeça, tantos medos a quererem ver a luz do dia, quando o que mais normal seria estar radiante e tranquila por ver a vida finalmente a correr bem. Eu sei que não sou uma pessoa fácil mas este último ano tem sido uma provação pegada. Vou tentar respirar fundo e pensar em branco. Inspira, expira.

fevereiro 03, 2010

Já me esquecia...

... que este blog comemora este mês e este ano o seu sexto aniversário! Nem sei bem o que pensar, isto é realmente muito tempo, especialmente se tivermos em conta o tempo médio que é frequente os blogs durarem - a maior parte é abandonada no primeiro ou segundo mês.

Ainda hoje não sei porque continuo a manter este blog depois de tanto tempo. O que começou por ser apenas um contentor de desabafos mais ou menos infantis tornou-se num vício difícil de controlar. Já vi muita gente a acabar um blog, a regressar, a perder-se para sempre na blogosfera mas eu nunca me imaginei a deixar de escrever aqui, mesmo podendo passar por períodos de menos actividade e criatividade. Não sei se este blog é uma declaração ao meu futuro Eu ou se é um recado aos meus filhos. Não sei realmente o que é mas sinto que faz parte de uma História que se está a escrever agora, ao ritmo das teclas que nos fogem debaixo dos dedos e, sinceramente, acho a ideia muito estimulante. Mas tudo só resulta porque sei que existe alguém desse lado, a verdade é essa. Não sei se Obrigada é a palavra certa mas gostava de vos continuar a ter por aí :)

Ano (já não muito) novo, vida nova!

Chegou finalmente o dia em que apenas uma mesa de cabeceira deixou de chegar. A minha roupa foi cuidadosamente escrutinada, de forma a poder ser dada ou deitada fora, dependendo do seu estado. A arrumação já começou mas não chegou ainda ao armário dos cremes e outras tralhas exclusivamente femininas. É preciso abrir espaço para a roupa dele, para que se possa instalar e sentir que esta é também a sua casa. Algumas das minhas coisas vão recambiadas para Portalegre, para o armazém em que se tornou o meu quarto.

Não preciso dizer como me sinto feliz. Também seria uma redundância explicar porque é que, aos trinta, uma relação à distância deixa de fazer muito sentido. Mas nós tivemos paciência, muita paciência para enfrentar todas as incertezas e recusas e respostas que nunca chegaram e o extremo desconforto de estarmos separados por duzentos e doze quilómetros de distância. Nós só não gastámos fortunas em chamadas telefónicas porque somos da época do fale tudo o que puder por meia dúzia de cêntimos e temos a Internet mas tenho a sensação de que, caso pertencêssemos a outro tempo, teríamos antes gasto fortunas em selos. Sobrevivemos a horários trocados, a jantares sozinhos, a noitadas separadas, a férias que nunca passaram de planos. Não foi uma eternidade, eu sei. Mas conheço pouca gente que esteja disposta a lutar mesmo por aquilo que quer.

Estando longe dos sessenta anos mas sentido que a sabedoria começa agora a brotar, eu digo: os amores não nascem perfeitos. É preciso muito esforço e noites em que duvidamos muito das nossas capacidades e sermos mais ouvidos que boca. É preciso exigirmos e pedirmos - é preciso falar. E quando se encontra a pessoa com quem as nossas palavras deixam de ser tímidas, então sabe-se. E até pode ser que esta sorte nos caia no colo, sem precisarmos procurar muito. Mas aproveitar essa sorte... isso são outros quinhentos. A mim apareceu-me sem avisar e eu aqui estou, a arregaçar as mangas para a nova vida que aí vem. Ainda não tenho livro de instruções para o que vem aí a seguir mas estou feliz. A minha nova família começa a construir-se Segunda-feira.