Vamos lá a ver: desde a última vez que aqui escrevi, o Vicente fez dois meses mas também me impediu de voltar a escrever o que quer que fosse. Comecei posts algumas vezes mas fui sempre interrompida pelo choro ou por alguma necessidade mais premente. Estes dois meses têm-me ensinado mais do que esperava mas também me têm mostrado demasiadas debilidades minhas que ainda não sei como combater. Desespero com muita facilidade, choro quando não sei o que fazer, perco muitas vezes o fio à meada e deixo de ser racional. Hoje sei que precisava de ajuda, pelo menos para respirar um pouco, retomar o fôlego e a coragem mas estar longe da minha família tem destas coisas. Às vezes precisava só de cinco minutos de ausência de responsabilidade para me poder refazer e tenho vergonha disto. Eu sei que é normal mas também vejo outras mães mais corajosas e fortes, que talvez escondam as suas dores com mestria e se concentrem nos seus bebés. É inevitável pensar que raio de mãe vim a ser.
Primeiro, sofri com a amamentação, que hoje já aprendi a dominar e a ignorar as dificuldades. Agora são as cólicas, as dores de barriga inexplicáveis, o sono que o bebé tenta a todo o custo vencer. É um cansaço diferente, o de hoje. Não são exactamente as noites mal dormidas mas são os dias que passo com o Vicente a esgotar as estratégias para o ver contente, a mudar de soluções a cada cinco minutos, a tentar não me abalar com a imprevisibilidade que é ter um bebé em casa. E depois é o Outono (ou deverei dizer Inverno?), com a chuva e o frio das massas polares que não convida a levar um bebé tão pequeno para a rua. Para minorar isto tudo, o Vicente começou a sorrir, especialmente quando falamos com ele. Sorri muito e parece que quer falar connosco, parece que já tem coisas para nos dizer e são estes momentos que vão fazendo esquecer tudo o resto. E também é um regalo vê-lo a aumentar de peso e a crescer, a mudar as feições e a ser elogiado nos corredores dos supermercados.
O que eu gostava era de me sentar e escrever os dias maravilhosos que temos passado juntos. E têm sido todos muito bons mas tantas vezes é difícil ver para além das dificuldades. Quem me dera poder esquecê-las e falar-vos daquele indescritível sorriso desdentado. Eu sei que tudo vai mudar, eu sei. Mas às vezes esqueço-me disso tudo e quero-o diferente já. Há dias assim.