Chegou a última semana do ano. Esta é, habitualmente, a semana em que olhamos para trás e em que (mais importante ainda) piscamos o olho ao futuro. O meu ano não começou da maneira mais brilhante: despedi-me do meu avô logo no início de Janeiro, um dia gelado em que já nevava às oito da manhã, como se precisasse de um sinal para marcar a data para sempre. Foi uma semana difícil, essa. O controlo das coisas parecia estar constantemente a sair do meu alcance e eu começava a ficar cansada de tanto caos.
Só que em Fevereiro as coisas alteraram-se radicalmente: no mesmo dia, descobri que esperava um bebé e esta passou a ser a nossa casa. Cortei um difícil cordão umbilical com a minha irmã mas crescia em mim a semente da nossa nova família. Os meses que seguiram foram tanto de enjoos como de alegria: não posso esquecer-me do dia do temporal na Madeira e no sumo de clementina que a minha mãe me espremeu ao almoço e as viagens constantes entre a sala e a casa de banho. Foram meses de sonolência e alergia a cheiros, meses de incerteza sem sentir as cambalhotas do bebé Vicente, meses de me tratar bem e de me poupar a esforços. Depois foi chegando o bom tempo e alcancei a parte gloriosa da gravidez: ausência de desconfortos coroada com uma barriga em crescimento e uns valentes pulos do bebé cá dentro . No final de Julho, fui despedida num processo de despedimento colectivo, em que a minha empresa resolveu ignorar os meus anos de trabalho, as minhas capacidades e dedicação e até mesmo o facto de eu estar grávida. Foi preciso muito tempo para engolir esta decepção, apesar de já há muito saber deste destino. Mas a verdade é que tudo acontecia no tempo certo porque havia um bebé a caminho.
Os últimos meses do Verão foram de grande expectativa mas também de alguma calma. Estar livre deu-me tempo para tratar de toda a burocracia e para simplesmente gozar as últimas semanas de gravidez. E depois chegou o dia 29 de Setembro e, tal como sempre imaginei, o Vicente chegou antes da data marcada. E eu descobri que não há nada que nos possa preparar verdadeiramente para a experiência brutal que é ser mãe: podemos ler muito, investigar e pesquisar, podemos frequentar cursos mas quando, chega a altura, só o instinto maternal é que nos safa. Já chorei muito desde esse dia, especialmente quando não sei o que fazer mas ninguém me arranca a felicidade de ver o meu filho engordar, crescer e ter tudo o que precisa. É um amor que ocupa todos os lugares, tão incondicional que às vezes parece que perdemos o juízo. E a minha vida nunca mais foi como era.
A única coisa que desejo para o novo ano é a felicidade e bem estar do meu filho. E a minha única resolução é a de ser mais racional e não me deixar abater pelos pequenos obstáculos diários. Trabalho e outros dividendos hão-de vir e serão sempre bem vindos mas o meu mundo agora gira à volta de outras coisas. Feliz ano de 2011! Que a sorte ou o destino ou outra força qualquer vos seja generosa!