maio 03, 2011

Um recado

Recebi hoje uma mensagem (muito simpática e elogiosa, mesmo) em que a pessoa escrevia que o meu blogue tinha perdido o "encanto existencial de outros tempos", estando agora completamente imerso na maternidade. Sem saber, esta pessoa fez-me corar, fez-me pensar e fez, acima de tudo, com que eu olhasse de frente para o que já há mais de um ano vem acontecendo por aqui.

No dia em que descobri que estava grávida, houve inconscientemente uma mudança em mim. A ideia de ir gerar vida, as preocupações naturais da gravidez, os desconfortos habituais da gravidez (e foram muitos) fizeram que deixasse de olhar tanto para o meu umbigo e passasse a pensar mais na vida que aí vinha. Estava, como todas as grávidas (acho eu), maravilhada com a sensação única de carregar um ser dentro de mim, de o ver desenvolver e tentando construir uma imagem do filho que gostaria de ter. Depois do bebé nascer, as coisas mudaram novamente: foram demasiadas noites mal dormidas, cólicas e demais trapalhadas que fazem parte dessa actividade estranha e maravilhosa que é ser Mãe. Faltou-me sempre muito tempo, embora estivesse em casa durante cinco meses, para me aventurar lá fora. E depois chegou o emprego novo, que a juntar à nova condição de progenitora, contribuiu ainda mais para que me sobrasse pouco tempo e paciência para escrever. E chegámos aqui, em que tenho um post sobre o dia da Mãe para escrever mas não encontro tempo nem vontade de o passar à prática.

Tudo isto não significa que me esteja a desculpar por ter deixado a maternidade invadir este espaço: era inevitável que isso viesse a ocupar um grande espaço na minha cabeça. Mas a verdade é que eu nunca quis que este blog se tornasse num dos tão criticados baby blogs, onde só as gracinhas e os cocozinhos do bebé têm graça. Eu sempre quis continuar no mesmo ritmo, no mesmo registo mas o problema é que eu ainda não consegui encontrar o meu espaço no meio de uma relação a três. Ainda me deixo absorver demasiado pelas exigências que acarreta o facto de eu ser uma mãe trabalhadora e não fui capaz de me reconciliar com a forma como antes via e escrevia o Mundo. É verdade que hoje sou ainda muito Mãe e menos Mulher e a responsabilidade é minha, que ainda não consegui encontrar o equilíbrio de que tanto sinto falta. E já uma vez aqui escrevi que sabia que ia perdendo leitores mas que pensei que talvez fosse esse o curso natural das coisas.

Não gosto de fazer promessas mas gostava de conseguir separar as águas e olhar outra vez o Mundo como antes. Só que a maternidade é um acontecimento tão brutalmente fracturante que não sei se um dia conseguirei voltar. Gostava de ser Mulher e Mãe à vez, para não confundir as matérias mas ainda não sou capaz. O dia há-de chegar, eu espero por ele.

8 comentários:

ana cila disse...

Eu também espero.
Isso vem naturalmente, porque a nossa natureza vem sempre ao de cima e um dia descobrimos que precisamos de nós, para sermos melhores nos outros papéis todos!
:)

Rosa disse...

Não sou mãe e isso poderia ter-me afastado do blog, mas não aconteceu. Ao contrário de tantos outros blogs de mães que retratam pormenores que dispenso, continuo a gostar de te ler como gostava antes, embora o teu registo tenha (parece-me que naturalmente) mudado. Desde que te leio que acompanho pedaços da tua vida. Estranho seria que a maternidade vivesse à margem do teu blog. Não vejo o teu blog como um baby blog, mas como um blog de uma Mulher que também é Mãe.

Helena Barreta disse...

Eu continuo a gostar do que aqui escreve, do que partilha connosco. Acharia talvez estranho se não ocorresse em si essa mudança, passado tão pouco tempo desde que é Mãe. Não é à toa que se diz que a maternidade nos muda.

A sua essência continua bem presente, mesmo quando as suas palavras saem da Mãe e não da Mulher. Para além disso, gosto de "ver" o desenvolvimento do seu bebé Vicente.

Um beijinho

Rita Maria disse...

Eu não posso falar muito porque quase nunca comento, que leio sempre do trabalho, mas eu gostei muito de ler sobre esta tua aventura e não a vi como uma redução - também havia alturas em que falavas mais de trabalho ou alturas em que havia sempre concertos em Portalegre e uma pessoa quase deduzia que tinhas poiso permanente numa estação de serviço entre Lisboa e o Alto Alentejo.
Acho que te lemos porque gostamos da tua perspectiva do mundo - eu não tenho bebés, mas também nao trabalho em Portugal e nunca fui a Portalegre... :)

(ah, e Vicente é um nome lindo)

CATARINA disse...

Talvez se tenham perdido uns leitores mas de certeza que o blog ganhou mais um ou uma - eu!
Catarina

Moka disse...

Desde o início que me dirijo ao teu blog com muita curiosidade..Porquê?Porque espelhas fragmentos da tua vida, sejam pessoais ou profissionais,sempre salpicados de muito interesse!!Não sou mãe, nunca li livros acerca de bébés e admito que desde a vinda do Vicente já aprendi qualquer coisa!!!Adoro a maneira como escreves, seja qual for o tema e espero um dia poder dizer orgulhosamente a alguém..: MM?Conheço perfeitamente!!!Escreve como se não houvesse amanhã...um talento nato!!!E tem um filho adorável de nome Vicente...:))))

Monia disse...

Nunca fui de ler baby blogs e, do pouco que li, fiquei logo sem vontade de continuar. O teu blogue não se assemelha, em nada, a um baby blog. É claro que, depois de ter um bebé, é inevitável que os temas de "conversa" mudem. É necessário algum tempo para encontrar o equilíbrio entre aquilo que éramos e aquilo que passámos a ser. Para umas, mais tempo do que para outras. Às vezes é preciso forçar um bocadinho, nem sempre vem naturalmente. Mas o que interessa é que nos sintamos bem assim.
Parabéns pelo caminho percorrido. Com ou sem posts sobre cocós ;)

mafaldinha disse...

Amiga, digo o mesmo que todas as anteriores, não consigo ler baby blogs (talvez por não ser mãe, nem ter planos disso) porque não tenho paciência, mas o teu blogue é a tua visão do mundo, e o teu mundo agora tem um menino lindo a ocupá-lo quase por inteiro. É isso que nos contas, que o teu mundo tem um novo morador e obviamente o teu blogue também. Adoro-te, a ti e a ele.
Não faças como outras que com medo de se delatarem (como talvez tenham feito no passado) não conseguem que lhes saia nem uma palavra.
Beijos