Os dias têm corrido tão rápido quanto as nuvens que têm aproximado destes céus nos últimos dias. Já tivemos muitos sinais que o Verão tinha acabado mas acordar hoje para uma chuva intermitente e irritante quase nos trouxe essa certeza. As manhãs já são demasiado frescas, frias mesmo e pode cheirar-se essa frescura no ar da mesma maneira que cheiramos a primeira terra molhada. A neblina deixa-se ficar até tarde bem junto à relva e aos pastos por onde passo todas as manhãs, envolvendo o meu caminho para o trabalho numa aura de mistério. Tenho tido o turno na manhã, começando todos os dias às sete. Adoro o silêncio do escritório no início do dia e acabar de trabalhar mais cedo que toda a gente e chegar a casa e ainda ter mais duas horas de silêncio pela frente. Ontem pensei nos dias que faltam até voltarmos a Portugal e contei quarenta e um. Parece-me que ainda é cedo para começar a contagem decrescente mas não consigo evitar pensar nisso agora que a data se aproxima. Só me imagino a aterrar em Lisboa vinda da Costa, na nossa casa e na cúpula da basílica, a passear de manhã pelo jardim da Estrela, a fazer a estrada do Guincho e a subir em direcção à Malveira, a sentar-me nas esplanadas novas à beira Tejo, a ouvir o som característico da 25 de Abril, a matar saudades do Chiado, de Belém e de Xabregas, a enfiar a cabeça fora da janela de casa e ouvir o 28 a travar na Domingos Sequeira para apanhar mais um passageiro, beber café na Tentadora e passear debaixo das árvores da Ferreira Borges, sentar-me para almoçar na tasca da esquina dos nossos vizinhos e dizer-lhes que sim, que está tudo bem, que a vida segue por aqui mas que temos tantas, tantas saudades de Lisboa que todo o tempo do Mundo é pouco. Tenho saudades do cão da nossa vizinha de baixo, sempre a ladrar assim que nos ouve a meter a chave na porta, da cabeleireira na rua do Patrocínio e das mercearias na calçada da Estrela, dos frangos assados e dos picapaus, da curva do Mónaco e das viagens na A5, das torres das Amoreiras e da vista no topo do parque Eduardo VII. Estou ansiosa por subir ao arco da rua Augusta e espreitar Almada e a Trafaria e o resto da margem Sul que se espalhar à beira rio e vê-las também de Santa Luzia, mesmo antes do eléctrico chegar à Graça. Tenho saudades da Morais Soares e da praça do Chile, sempre sujas e cheias de gente, com as suas promoções e gente de todo o Mundo. Já me vejo em frente ao Convento do Carmo e correr para o elevador de Santa Justa. Se eu sigo muita gente que não conheço no Instagram é porque, acreditem, posso acompanhar Lisboa e sentir-me menos distante. E hoje faltarão só quarenta dias e o tempo continua a contar.
2 comentários:
Querida, sempre escreveste bem...e este teu post é lindo!
Tem esperança que um dia regressarás à Lisboa que amas e ao teu Alentejo!
Agora vai riscando no calendário os dias que faltam para vires matar saudades.
Beijinhos
A Morais Soares e a Praça do Chile continuam a ser o caos, outro mundo dentro de Lisboa :-) e até disso sinto falta e só regressei há uma semana.
Já comecei a riscar dias no calendário, esperando que dezembro chegue mais depressa e possa regressar.
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