É a quarta semana depois de ter regressado ao trabalho e sinto-me uma máquina, com o que isso tem de bom e de triste.
Durante a semana, não há tempo para quase nada. Os banhos deles, o meu, o jantar, cama para eles, sobramos nós. Ela tem sempre sono, ele não tem mas se se deita adormece logo e profundamente. Há dias em que só os adultos sobrevivem à hora de jantar e o silêncio e falta de agitação são estranhos. Não tenho paciência para ficar a ver televisão, por isso tenho lido sempre umas páginas antes de me deitar e com isso estou em vantagem no desafio que impus a mim mesma: ler doze livros este ano.
Nestas quatro semanas, não trouxe almoço para o trabalho apenas uma vez e porque tinha tido jantar de trabalho no dia anterior, chegado tarde a casa e de manhã resta-me pouco tempo para preparar as minhas coisas: entre mudar e vestir a miúda que acorda sempre bem disposta e conseguir arrancar da cama o miúdo que acorda sempre mal disposto, a minha luta é apenas com os gritos que tenho vontade de dar. Veste-te, queres leitinho, bebé?, o que queres comer?, lava os dentes, então e a cara?, olha o casaco, deixa de esmagar a tua irmã, e as manhãs antes de sair de casa passam num instante. Os almoços? Preparo-os ao Domingo, muita coisa só no forno ou cozida, o cuscus, a massa ou outros acompanhamentos podem preparar-se no dia, cozo dez ovos para mim e para o pequeno, a fruta arranja-se antes de ir para a cama. Não quer dizer que consigamos tratar do jantar todos os dias: às vezes não há mesmo pachorra mas é bom podermos os dois fazer as coisas a meias.
E depois sobram os fins de semana. Dois dias para estarmos com os pequenos, dois dias para a limpeza da casa e para tratar da roupa, dois dias para fazer as compras, dois dias para sair de casa e arejar. Quarenta e oito horas não chegam para isto tudo. Ou chegam mas é preciso esticar um bocadinho o tempo. É preciso muita ordem e disciplina e, quatro semanas depois de voltar a trabalhar com dois filhos, suponho que ainda estou a aprender a disciplinar-me. No fundo, não me custa muito esta divisão eficiente do tempo: o que custa é sentir que não há muito glamour, não há tempo para fazer bonito, não há aquelas vidas ideais. E para mais neste Inverno, em que saímos de casa e é noite escura e entramos em casa e o cenário é exactamente o mesmo. Havemos de aproveitar o quintal a partir da Primavera, prometo a mim mesma. Havemos de habituá-los a gostar de caminhadas, congemino em silêncio. Havemos de sair sem pensar no que há para fazer, sempre desejei. Um pouco mais de disciplina e talvez cheguemos lá. Um pouco mais de tranquilidade e chegamos lá de certeza.
2 comentários:
Querida, sinto que estás otimista e isso é bom! Como vez a prática vai contribuindo para te ajeitares a esse ritmo que é o de todas as mães que trabalham! Esse "glamour"de que falas pertence aos filmes e tão só. Bjis e coragem, a Primavera, pelo menos a astronómica chega daqui a 2 meses!
Vais chegar la! Tenho a certeza!
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