setembro 21, 2017

Quantos filhos são filhos suficientes?

Disclaimer prévio (especialmente para os meus pais): não, não vamos ter mais filhos!

Só que esta semana li este artigo no blog da Joanna e, mais uma vez - com a devida distância e com as diferenças gigantes entre a vida dela e a minha - , ela toca na ferida. Na minha ferida e na de muitas outras mulheres por esse mundo fora, a julgar pelos comentários.

Começo por dizer que nunca imaginei ter mais do que dois filhos. Passei pela fase de querer ser mãe solteira (eu e um bebé todo para mim, sem figura paterna a ajudar, só porque sim - a adolescência tem destas imbecilidades), depois acho que sempre imaginei ter dois filhos. Afinal lá em casa era eu e a minha irmã e quatro parecia-me um número simpático. À nossa volta, apesar de existirem outros exemplos, sempre houve muitas famílias com dois filhos e, inconscientemente, sempre me pareceu a solução mais equilibrada. Então se fosse um rapaz e uma rapariga, ainda melhor!

Nós tínhamos conseguido essa proeza, o casalinho com que muita gente sonha mas resolvemos estragar esse equilíbrio e mandámos vir mais um. Até ao nascimento da Amália, acho que nunca tinha pensado que podíamos ser uma família ainda maior. Mas quis o destino que o meu marido (que raio, quando me irei a costumar a dizer isto?) sonhasse com uma família maior e contagiou-me com essa ideia. É verdade que ele sonhava com cinco filhos e eu digo que três é o máximo mas o certo é que ele conseguiu mudar a minha perspectiva sobre a parentalidade, quebrando a barreira dos dois filhos.

Escrevo este post ainda exausta. Digo ainda porque é mais ou menos assim que me venho sentido há uns dois anos, com dias melhores mas com muitos dias em que parece que simplesmente me arrasto e não vivo no verdadeiro sentido do termo. Uma filha que dormiu a primeira noite inteira depois dos dois anos e um bebé que começou a dormir bem mas piorou com o tempo e eis-me em todo o esplendor da falta de sono, incapaz de dormir mais do que duas horas seguidas, mesmo que esteja longe deles. Ainda não regressei ao trabalho e já me pergunto como vai ser quando tiver que passar nove horas fora de casa com o necessário esforço intelectual e depois regressar a casa e tratar de três crianças e de tudo o resto, antes de começar a noite e eu entrar no pesadelo que é quase não dormir. Estou decidida a não sofrer por antecipação (não ajuda em nada e só me desgasta ainda mais) e por isso vou-me tentando convencer que também hei-de sobreviver esta vez.

Então porque é que, depois de todo este cansaço, depois de todas as birras e amuos, depois de estarmos sozinhos e não termos mãos a medir com escolas e creches e futebol e brincadeiras, eu fico triste quando penso que não vou ter mais filhos? Para a família da Joanna, dois filhos foram o limite; para nós, dois eram suficientes mas ainda arriscámos o terceiro, sabendo das dificuldades que é não ter uma aldeia para ajudar com os miúdos. Porque é que eu sinto que ainda podíamos ter mais um pelo menos? E porque é que, depois do quarto, se calhar podíamos mesmo chegar aos cinco, como o pai tanto queria? Não podemos, não vamos mas as perguntas vão ficar sempre lá.

Na semana passada, voltei ao hospital onde nasceu o Augusto para uma consulta de rotina e senti falta do acompanhamento da gravidez, da força que me deu sentir que carregava um ser humano (nas três vezes) comigo, da pujança que me encheu o peito por saber que estava a gerar vida e que, felizmente, todas as vezes sem qualquer limitação. Senti falta daqueles momentos antes dos partos, mesmo estando completamente sozinha em dois deles, da onda de força que me invadiu sempre que foi preciso fazer força, dos primeiros instantes em que dei à luz um bebé, do incrivelmente poderosa que me senti todas as vezes. Incrivelmente poderosa e sortuda, trazendo ao mundo bebés saudáveis, sozinha numa sala de parto mas aceitando as circunstâncias e a natureza como elas são, sem perguntas nem lamentos. E sinto aquela dorzinha no peito que se insinua de vez em quando, sempre que penso que nunca mais vou sentir o milagre de trazer vida a este mundo.

E a verdade é que nenhum número de filhos me iria curar dessa dor: ter quatro, cinco ou dez filhos não me iria impedir de sentir falta desses nove meses de cuidado e daquele estado de alerta das primeiras semanas e daquela sensação de que, depois disto, sou capaz de tudo. Por isso, revivo as memórias dos meus três partos com muito amor e muita frequência para que nunca me esqueça do incrível que foi ver nascer os meus filhos. E revivo também as horas intermináveis, especialmente durante a noite, com eles no meu colo, exausta pela falta de descanso, para ter a certeza que não vou repetir estas proezas! A sabedoria popular tem sempre razão e lá diz que três é a conta que Deus fez...

6 comentários:

Unknown disse...

Eu também adoraria ir ao terceiro..mas não dá..nem o meu marido ia nisso..admiro mulheres que vão até ao 4,mas tb acho que o fazem porque teem possibilidades,é um marido que as apoia(em tudo)..beijinhos! E espero que depressa tornes aos sonos mínimos de 6h����

Tati disse...

umas gotas fenistil ou um zyrtec e poes a malta toda a dormir ahahah estou a brincar :P
não é que eu saiba mas dizem que esse sentimentos são normais...mas o que acho bonito em toda a tua história é que...o que é para ser é para ser...e oque para ti era estava mesmo destinado...
um grande beijinho

M. disse...

Natascha, é muito isso: faz falta um marido valente atrás. Se um não quer, dois não dançam e o resto é conversa ;)

Tati, continuo a acreditar nisso. Para toda a gente, não apenas para mim ;)

Unknown disse...

Olá :)

Também gostava muito de ter 3 mas por enquanto só vamos na 1ª e espero que para o próximo ano chegue o 2º [ou o 2º e o 3º como aconteceu com a minha irmã gémea que foi ao 2º e apareceram 2 gémeas!] e que daqui a + 2 ou 3 anos venha outro. Sinto-me com 15 anos, mas já tenho 33 e daqui até aos 40 é um instantinho!

Apesar de só ter uma, percebo perfeitamente o que tu dizes!

Beijinhos

M. disse...

Aqui, o marido ainda queria os gémeos agora mas eu acho que era definitivamente a minha morte! Ficamos assim, que estamos muito bem!

Boa sorte para mandarem vir mais um ;)

Helena disse...

Olá, só deixo comentários em blogs quando o assunto me toca de forma especial. Quando li, há mais de um ano, o post sobre ter ou não ter o terceiro tive vontade de escrever mas depois não escrevi. Desta vez tem que ser. Eu tenho 3 filhos, de 13, 10 e 8. Com os dois primeiros já tínhamos o casalinho mas sempre pensámos em ter 3. Quando estava grávida do terceiro, havia gente que me perguntava (é incrível como há gente que opina sobre a vida dos outros) porque é que íamos ter outro se já tínhamos o casal... Mas lá nasceu o terceiro e foi o mais calmo e "fácil" dos 3. Durante os primeiros 3 ou 4 anos do terceiro, não pensei em ter mais filhos. Foram anos muito preenchidos, muito cansativos mas muito felizes. Mas a partir do 5º ano, comecei a sentir a falta de mais um bebé na nossa vida. Já tinha quase 40 anos mas ainda cheguei a pensar que até aos 41 podíamos ter mais 1. Durante quase 1 ano sofri com essa dúvida. Racionalmente sabia que não devíamos ter mais filhos (o dinheiro, o corpo finalmente tinha voltado (o possível) ao lugar, a idade) mas não podia evitar sentir que queria mesmo ter só mais um. Ter outra vez um recém nascido nos braços, dar de mamar, fazer as coisas só com uma mão porque a outra tinha um bebé ao colo... E cheguei a pensar que se fossem gémeos ainda seria melhor. Finalmente, pouco a pouco, acho que fiz as pazes com a ideia de que não vai haver mais bebés cá em casa. Já não sinto esse desejo irracional. Ainda sinto saudades de quando havia 3 pequeninos agarrados às minhas saias, da confusão de entrar e sair do carro, das cadeirinhas. Mas estou preparada (espero!) para ser mãe de adolescentes e de jovens. É outra etapa e pode ser igualmente bonita.