Como sempre, tive vontade de escrever naquela hora. De dizer a melancolia que me ataca sempre que ouço estes acordes, sempre que ouço estas (poucas) palavras. E então se fingirmos que vale tudo e que as coisas nunca mudaram? E o que vai acontecer se eu confessar a minha falta de aptidão para ver além de ti? E se eu tivesse para te dizer todas estas notas, ordenadas desta maneira exacta e brutal, nesta amálgama de sons e de coisas que eles sentem enquanto estão a tocar? Mais ninguém na sala sente isto da mesma maneira dolorosa que eu sinto. Ninguém sente dor. Sentem apenas na pele um excesso de décibeis, um desconforto simples de resolver, uma preguiça do ouvido. Não quero mais sentir que vos ignoram e que ignoram, ao mesmo tempo, a minha dor. Sempre que vos ouvir a tocar esquecerei esta pressão de existir. Batam com violência na tarola, revirem a guitarra nesta solidão profunda que nos ataca no interior. Estamos sozinhos e gostamos. Ou não gostamos mas simplesmente não conhecemos outra maneira de sentir.
Nunca hei-de conseguir exprimir o que sinto pelos Linda Martini. Não é simpatia e não é estima. Não é solidariedade por serem portugueses. É apenas gratidão por musicarem o que eu sinto sem me perguntarem se é assim. É apenas a doce sensação de fazerem música violenta mas não para os ouvidos, apenas para os sentidos. Um dia, vou conseguir ver além deste estado final de melancolia que me abate. Eu quero engrossar as fileiras deste exército. Eu quero não sentir-me só. Por enquanto ainda estou.
Os Linda Martini tocaram na Quina das Beatas, em Portalegre.
1 comentário:
Vi-os uma vez na ZDB e adorei...
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