junho 15, 2007

E agora para a antítese...





Só no Domingo passado tive a oportunidade (não foi a primeira nem a segunda oportunidade mas a preguiça daria tema para um post inteirinho...) de ver Lisboetas, o documentário de Sérgio Tréfaut sobre a gente que abandona o seu país e vem ser alfacinha. Por um lado, fiquei contente por ter adiado isto até agora: tenho a certeza que, se tivesse visto isto na sala escura de um cinema, teria passado o filme inteiro a chorar ou com um apertado nó na garganta que me ia sufocar se não abandonasse a sala a correr após o fim. Mas, por outro lado, senti o alívio final de quem consegue algo que há muito desejava. E eu desejava mesmo ver isto. Mesmo que tenha deixado todas as oportunidades fugir...

Fiquei colada à televisão. Eu choro por tudo e por nada. E se não choro, fico muitas e muitas vezes com as lágrimas à beira de deixar os meus olhos. Foi o caso em demasiados momentos do filme: no momento em que a mãe olha, embevecida, o seu bebé no eléctrico 15; nos momentos angustiantes em que os emigrantes se sentam frente aos funcionários do SEF sem perceberem uma única palavra e sem que estes se dignem a admitir que não são compreendidos; nos momentos em que os brasileiros telefonam para casa e prometem bicicletas; nos momentos em que um professor de português para estrangeiros consegue um verbo conjugado da boca de um estrangeiro; ou nos momentos em que a funcionária de um posto médico ambulante se interessa pela vida de mais um paciente.

Em que parte das nossas vidas nos tornamos assim insensíveis? Em que exacto minuto passamos a virar a cara para o lado para não doer mais? Em que momento é que decidimos que os nossos males são suficientes? São demasiadas perguntas para quem tem uma vida para orientar e uma casa para pagar e bocas a quem dar de comer e férias para pagar em prestações suaves. Eu também não queria ser insensível mas é a única maneira de manter a sanidade. É a única maneira de sobreviver no meio de ruas onde a miséria espreita demasiadas vezes. É?

1 comentário:

Mike Monteiro disse...

Este doc é simplesmente muito bom... Está muito simples, e humilde, tal como as "personagens". A vida das sombras de Lisboa.

Ando a namorar o dvd na Fnac.