Esta rapariga de ar cândido e delicado chama-se Mira Calix. Ou melhor, chama-se Chantal Passamonte mas responde agora pelo primeiro nome. Nasceu na África do Sul e pouco mais se sabe sobre ela - apenas que já trabalhou com nomes como Aphex Twin, Autechre e chegou mesmo a fazer tours com os Radiohead. Chegou ontem ao espaço café-concerto do CAEP muito discretamente, carregando a sua mochila onde certamente guarda muitos tesouros.
O seu ar casual, as semelhanças com Sofia Coppola e a forma natural com que passou o concerto apoiada nos seus joelhos fizeram-me simpatizar com ela. Mira utiliza muitas vezes, além dos sons de cordas ou da batida convencionais, a sua própria voz e elementos naturais que grava no meio que a rodeia. Enrolando finos cigarros enquanto olhava, curiosa, para o (infelizmente pouco) público, a artista ia saboreando as variações entre os ambientes melancólicos e quase naïves e as transições para batidas furiosas que faziam as paredes do recinto tremer. Mais do que demonstrar um entusiasmo vibrante, Mira parecia estar em plena harmonia com a música que saía daquele laptop e mesa de mistura, transmitindo uma sensação de tranquilidade que contrastava com a urgência com que as batidas eram lançadas para a audiência.
Acho que nunca tinha assistido a uma actuação deste género, ou melhor, tinha mas a música era mais dançável. Para mim, a música de Mira Calix não encaixa na definição de electrónica de dança - é música para viagens curtas mas contemplativas, é música para estar deitada numa sala, janelas abertas mas estores descidos, a brisa a fazer tremer as cortinas numa quente tarde de Verão.
Foi muito bom, portanto.
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