Este é seguramente um dos períodos descendentes da minha vida. Acho que, depois disto, fica provado para mim que o que temos hoje pode perfeitamente voar amanhã. Descobri há pouco tempo que não tenho andando a cultivar as relações familiares como devia e, em vez de tentar remendar isso da melhor maneira, levantei uma sombra que se instalou quase definitivamente.
Depois, a saúde de outro dos homens da minha vida anda a ameaçar degradar-se definitivamente e a certeza de que as mulheres são mais resistentes cresce em mim. São as mulheres que engolem as lágrimas porque sabem que a vida tem que continuar, são elas que ficam com as decisões e que nunca deixam de dar tudo o que têm, são elas que (apesar de serem chamadas de sexo fraco) nunca se deixam consumir pelo desgosto. A minha família é assumidamente matriarcal, com mulheres que nunca param, nunca deixam de sair, de coser mesmo quando a dor quer falar mais alto. E os homens, gastos pelo trabalho e debilitados pela velhice, começam a despedir-se cedo, deixam os corpos para trás e fogem pelos olhos vítreos, esquecem-se lentamente de quem estão a deixar em terra. Não tem sido fácil assistir a estes pequenos declínios, que levam com eles as pessoas que me ensinaram a crescer.
E finalmente, essa coisa a que convencionaram chamar emprego... Estou aprisionada por uma posição que me é cada vez mais estranha e por um mercado estrangulador para quem não quer viver dos números. A natureza do negócio mudou e tudo caminha claramente para um fim, um fim que eu já adivinhava há algum tempo mas tinha sempre recusado a aceitar. E, se parte de mim exulta com a possibilidade de voltar a ser livre, a minha metade racional lembra-me que, querendo construir uma coisa parecida com uma vida, há uma atitude mais séria que devo tomar. Já tinha dado cambalhotas antes, daquelas que não se sabe muito bem de onde se parte mas nada como aquela que - parece-me - aí vem. Não tenho medo por mim. Nem tenho pena de mim. Mas gostava que, com apenas uma decisão minha, pudesse resolver a vida e pudesse devolver a paz de espírito aos que se preocupam com ela.
* uma música velha dos Failure, que ilustra muito bem o estado em que às vezes me obrigava a estar durante a semana que passou: em branco, vazia de memórias, imune a certos estímulos exteriores. Para ouvi-la em repeat, com a certeza de que a convulsão maior passou e eu, ainda não renovada, estou de volta.
Depois, a saúde de outro dos homens da minha vida anda a ameaçar degradar-se definitivamente e a certeza de que as mulheres são mais resistentes cresce em mim. São as mulheres que engolem as lágrimas porque sabem que a vida tem que continuar, são elas que ficam com as decisões e que nunca deixam de dar tudo o que têm, são elas que (apesar de serem chamadas de sexo fraco) nunca se deixam consumir pelo desgosto. A minha família é assumidamente matriarcal, com mulheres que nunca param, nunca deixam de sair, de coser mesmo quando a dor quer falar mais alto. E os homens, gastos pelo trabalho e debilitados pela velhice, começam a despedir-se cedo, deixam os corpos para trás e fogem pelos olhos vítreos, esquecem-se lentamente de quem estão a deixar em terra. Não tem sido fácil assistir a estes pequenos declínios, que levam com eles as pessoas que me ensinaram a crescer.
E finalmente, essa coisa a que convencionaram chamar emprego... Estou aprisionada por uma posição que me é cada vez mais estranha e por um mercado estrangulador para quem não quer viver dos números. A natureza do negócio mudou e tudo caminha claramente para um fim, um fim que eu já adivinhava há algum tempo mas tinha sempre recusado a aceitar. E, se parte de mim exulta com a possibilidade de voltar a ser livre, a minha metade racional lembra-me que, querendo construir uma coisa parecida com uma vida, há uma atitude mais séria que devo tomar. Já tinha dado cambalhotas antes, daquelas que não se sabe muito bem de onde se parte mas nada como aquela que - parece-me - aí vem. Não tenho medo por mim. Nem tenho pena de mim. Mas gostava que, com apenas uma decisão minha, pudesse resolver a vida e pudesse devolver a paz de espírito aos que se preocupam com ela.
* uma música velha dos Failure, que ilustra muito bem o estado em que às vezes me obrigava a estar durante a semana que passou: em branco, vazia de memórias, imune a certos estímulos exteriores. Para ouvi-la em repeat, com a certeza de que a convulsão maior passou e eu, ainda não renovada, estou de volta.
2 comentários:
Um abraço grande.
Ver a saúde daqueles perto de nós a degradar-se é uma daquelas coisas que a vida adulta nos reserva e que gostava de poder devolver (como se crescer fosse instalar um programa de software, e pudesse escolher o que quero instalar ou não). Outro abraço!
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