O meu posto de trabalho vai ser extinto. Quer dizer, o meu e o do resto das pessoas que trabalham comigo. Acho que agora, depois de me ver a contas com a negação e a raiva, depois de chegar ao ponto em que me consigo rir disto e de saber a data exacta do fim, posso dizer isto em voz alta. Não tem nada a ver com a crise que atravessamos há quase um ano - o modelo de negócio tornou-se simplesmente obsoleto e pouco rentável e os senhores que fazem milhões à pala disto resolveram mudar. E eu nem consigo estar triste com isto. Na verdade, acho que estou secretamente feliz por ver o final há muito anunciado deste caos da gestão e por deixar de trabalhar com algumas pessoas. Mas não consigo evitar sentir uma réstia de ingratidão para todos nós.
E hoje, um pouco como coroação deste anunciado gran finale, fui tratada (quem sabe ainda não pela última vez) como uma máquina apenas de gerar lucro, como alguém que deve dispor das vidas dos outros para o bel-prazer da empresa, enquanto tenta motivar essas mesmas pessoas. E eu, que nem preciso que me animem porque sei procurar muita da minha motivação dentro de mim, nunca recebi ou sequer poderei aspirar a receber uma palavra de motivação deste supra-sumo da economia, uma palavra apenas de apreço por aguentar inteira uma equipa depois de anunciado o seu fim. Não há tempo para insignificâncias destas nem haverá tempo para gastar um mísero Obrigada comigo.
E agora, feliz por escapar finalmente ao jugo dos números, reencontro-me com a angústia de alguém que não sabe o que o futuro lhe reserva, que se vê a braços com processos de recrutamentos e escrutínio de anúncios de emprego sem fim, mesmo não sabendo o que quer da vida. E, se por um lado o sentimento de liberdade é um alívio para mim, por outro estou aterrada com esta hipótese de não-futuro, das sucessivas rejeições, do sentimento de inutilidade. Livre mas desconfortável, portanto.
E agora estou a rever o American Splendor (o único filme que vi sozinha numa sala de cinema) e estou a ficar deprimida. Realmente deprimida, especialmente depois do Harvey se olhar ao espelho e dizer Well, there's a reliable disappointment. Pareço eu em algumas manhãs.
E hoje, um pouco como coroação deste anunciado gran finale, fui tratada (quem sabe ainda não pela última vez) como uma máquina apenas de gerar lucro, como alguém que deve dispor das vidas dos outros para o bel-prazer da empresa, enquanto tenta motivar essas mesmas pessoas. E eu, que nem preciso que me animem porque sei procurar muita da minha motivação dentro de mim, nunca recebi ou sequer poderei aspirar a receber uma palavra de motivação deste supra-sumo da economia, uma palavra apenas de apreço por aguentar inteira uma equipa depois de anunciado o seu fim. Não há tempo para insignificâncias destas nem haverá tempo para gastar um mísero Obrigada comigo.
E agora, feliz por escapar finalmente ao jugo dos números, reencontro-me com a angústia de alguém que não sabe o que o futuro lhe reserva, que se vê a braços com processos de recrutamentos e escrutínio de anúncios de emprego sem fim, mesmo não sabendo o que quer da vida. E, se por um lado o sentimento de liberdade é um alívio para mim, por outro estou aterrada com esta hipótese de não-futuro, das sucessivas rejeições, do sentimento de inutilidade. Livre mas desconfortável, portanto.
E agora estou a rever o American Splendor (o único filme que vi sozinha numa sala de cinema) e estou a ficar deprimida. Realmente deprimida, especialmente depois do Harvey se olhar ao espelho e dizer Well, there's a reliable disappointment. Pareço eu em algumas manhãs.
7 comentários:
Lamento profundamente. Como te conseguiste manter na empresa durante os tempos mais negros e obscuros desta crise pensava que irias acabar por ultrapassar a tempestade de forma imaculada. Infelizmente não. Coragem.
Vai correr tudo bem! Fecha-se uma porta... Muita forca!!
Carla
dharmamanasses@yahoo.com
Espero que a janela que se irá abrir não seja no 8º andar.
No entanto, a amiga M, é uma pessoa letrada e com valores de intelecto que lhe irão ser muito úteis naquilo que será a sua próxima tarefa: encontrar um novo emprego.
E irá conseguir, seguramente.
Também passei por uma situação parecida há 1 ano atrás quando a empresa-mãe em Madrid decidiu encerrar o escritório de Lisboa. Ouvimos rumores e até se tornar uma certeza durou alguns meses (mais ou menos 6 meses). Quando finalmente tivemos reuniões para sermos informados de despedimento colectivo, já não era surpresa.
Foi triste, especialmente porque no meu último dia no escritório, fui eu a última pessoa a sair, a apagar as luzes e a fechar a porta (o que não acontecia normalmente).
Passado um mês já tinha trabalho e recusei algumas ofertas. Estou há 1 ano nessa empresa.
Às vezes há mudanças que são necessárias e quem sabe se não virá a ser o caso?
:)
Beijinhos e força.
Não a conheço, mas leio o seu blogue. Parece-me muito nova e com uma força enorme. "Quando juntarmos as pedras que surgem no n/caminho, no fim construímos um castelo".
Conheço bem o "sentimento de inutilidade" e oxalá encontre logo novo emprego.Eu continuo a tentar, mas a minha idade é outra.
Muita sorte.
Zita Oliveira
que o recomeço te traga ar fresco. e menos números :)
sabes, tenho uma amiga que diz: até um pontapé no rabo é um impulso prá frente.
faltam-me 12 semanas para o desemprego e já não me sentia tão bem há meses. é o nosso medo da mudança que nos atraiçoa nestas alturas.
tenho uma coisa em vista lá para janeiro, mas é só uma coisa em vista. de resto, tenho planos.
a ansiedade mata e as preocupações fazem rugas. e eu quero ser um cadáver velho e com bom ar.
chin up!
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