agosto 11, 2009

Um pouco de Primavera *

.


Ter a certeza é assim daquelas coisas lixadas. Porque (normalmente) vem alguém no final que nos acaba com tudo, que nos desfere o golpe de misericórdia, ao qual pensávamos ter escapado logo no início. Ter certezas depois de muitos destes golpes já não é lixado, é apenas uma imensa prova de fé, deixa de ser uma escolha para passar a ser uma obrigação. Ter a certeza alivia-nos do absurdo que é acordar todos os dias sem saber como tomar decisões, alimenta-nos todos instantes em que nos permitimos distrair, povoa-nos as fantasias de uma vida mais livre noutro sítio qualquer. Ter a certeza demora. Saber que sim senhor, é isto mesmo, não é coisa para acontecer em meia dúzia de dias mas, com sorte, pode acontecer num só beijo. Quando se tem a certeza, tudo o resto passa a ser secundário. Deixa de interessar se há correio ou não, se a máquina do café funciona, se a ventoinha está em falta.

A noite está incrivelmente quente e, se eu me encostar às grades secas da varanda, consigo sentir uma brisa tímida a tentar desalinhar o que resta de um rabo de cavalo mal conseguido. O som da porta do carro a bater é, ao mesmo tempo, uma incómoda despedida e uma promessa de regresso. E ter a certeza é começar a contar os minutos que faltam.

*pela mão dos Noah and the Whale, agora que chegou o Verão.

3 comentários:

Eurico Ricardo disse...

Se implica prescindir da obrigação de ter de tomar decisões, ter a certeza só pode uma coisa boa.
Eu só tenho uma certeza na vida: sou um gajo óptimo. O resto ainda estou a ponderar, e ponderar demora tempo, como ter certezas, portanto. Mas a minha certeza é tudo o que me vale.

A disse...

Preciso dessa primavera... Mesmo...

Hoje descobri que eu pelo menos não tive direito à minha história de amor perfeita. Aquela que tb me fazia acordar mais cedo para enviar aquela sms para matar a saudade.

Neste momento precisava de ver aquelas flores de campo, e começar novamente a calçar chinelas. voltar atrás no tempo e dizer que não nos podíamos voltar a ver naquele primeiro encontro num dia de primavera, precisamente...

Preciso mesmo um pouco de Primavera...

K. disse...

As histórias de amor nao sao perfeitas. Vêm sem ser anunciadas, como os dias de Primavera. Por vezes duram, por vezes passam rápidas como as férias de Verao. A única coisa sensata que podemos fazer é vivê-las. Especialmente quando temos essa incerta certeza de sabermos algo que o mundo desconhece. Vivê-las, vivê-las intensamente. A vida é demasiado frágil e fugaz para nao o fazer.