março 04, 2005

Segunda-feira vi



"Mar adentro" de Alejandro Aménabar. A história é já sobejamente conhecida: Javier Bardem (muito aclamado pela crítica) interpreta o controverso e desarmante Ramón Sampedro, que muito lutou em Espanha pelo seu direito a morrer. Sampedro viveu deitado numa cama durante 28 anos, depois de ficar tetraplégico ao calcular mal um mergulho no seu querido mar da Galiza. Ajudado por uma defensora do direito à escolha (Gené, uma mulher com ideias claras e de trato fácil interpretada por Clara Segura), Ramon conhece Julia (a sedutora e inconstante Bélem Rueda), uma advogada que sofre com uma doença degenerativa e que se propõe a ajudá-lo.
Mas Julia não era a única mulher na vida de Ramon: após ver uma entrevista do tetraparaplégico na televisão, Rosa (operária da indústria conserveira interpretada por Lola Dueñas) visita Ramon. Assistimos ao progressivo crescimento da amizade entre os dois, ao amor que Rosa sente por Ramon, à inesgotável coragem da humilde mulher.
A família é presença constante na vida de Ramon: a abnegada cunhada Manuela trata-o como um filho; o sobrinho Javi ajuda-o com os seus inventos; o irmão José abandonou a vida no mar para tratar de Ramon. E é precisamente o seu amor fraternal que impede José de aceitar a vontade que Ramon manifesta: a de querer morrer.
A interpretação de Bardem é notória - esperamos sempre que algum membro se mexa ou que ele se levante. A expressão facial traduz muitas vezes o desespero (de não poder acabar com a vida) ou a ironia (de compreender e aceitar a sua condição). Nem a brilhante caracterização - que dificultou o progresso das filmagens pela demora que implicava - consegue distrair o espectador do portento de força, talento e jovialidade que é Bardem.
Sem explorar demasiado o drama em potência em que vivia Sampedro e sem se concentrar na luta política, Amenabar consegue um retrato optimista de um homem que morreu em paz consigo mesmo e de todos aqueles que o ajudaram até ao dia do fim.

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