setembro 15, 2006

Este post não é amargo. É tranquilo.

Se há coisa com a qual podemos contar é com o passado: ele acaba sempre por nos bater à porta. Umas vezes bate sem avisar, outras faz-se mesmo anunciar. E se nalgumas vezes o convidamos a entrar, noutras apetece-nos mais dizer que estamos a ocupados a lavar o cabelo ou a fazer outra coisa igualmente desinteressante. Depois há também a questão de que passado estamos a falar: do passado cheio de memórias boas, de sorrisos e coisas partilhadas ou, pelo contrário, do passado que queremos a todo o custo evitar, que queremos esquecer, fingir que nunca existiu.
O passado hoje bateu-me à porta de três maneiras diferentes, quase coincidentes, temporalmente falando. Liguei o rádio e os anos oitenta entraram-me de repente em casa, nas noites habituais da Radar. Ouço uma das músicas de que mais gostava quando era mais pequena - It's a sin, dos Pet Shop Boys. Há uma série de memórias que afloram desde logo (as matinés no Pacífico, os amores nunca correspondidos, o cheiro da fábrica da cortiça). Bateram-me à porta mas tinham avisado que vinham. Primeiro temos o trabalho de disfarçar o desconforto, passar a imagem de que somos e estamos cool com a situação. Depois há uma habituação serena, as palavras custam muito menos a serem ditas, as coisas que queremos dizer chegam-nos à boca em catadupa. A única coisa que não se altera é uma certa afectação no olhar, uma incapacidade de se olhar de frente alguém a quem já se prometeu tudo, alguém a quem podíamos ter dado tudo. Falamos até parecermos idiotas, evitamos os silêncios embaraçosos, disparamos banalidades mas banalidades familiares. Eu descubro que fiz as pazes com o passado, pelo menos com este passado que está parado na minha sala e sinto-me tranquila.
Depois, às voltas com os antigos cds, o passado volta a fazer-se notar. Revejo fotografias, auto-retratos em que tentava olhar para dentro de mim mas de fora e lembro-me dum passado em que andava à deriva. Não sei se agora estou tão perdida como nessa altura mas sei que estou exactamente desfalecida como antes.

[A fotografia é minha, um auto-retrato falhadíssimo. A banda sonora é deles: When I look back upon my life/It's always with a sense of shame/I've always been the one to blame/For everything I long to do/No matter when or where or who/Has one thing in common, too/It's a sin.]

2 comentários:

Anónimo disse...

as matinés do pacífico.. chama-me triste mas nc fui a uma.. lol

qt à foto.. tá mega d nice!

(L)

Sofia disse...

Isso que disseste é.. é.. bom, isso.

A mim é mais a Go West que me faz tremer. Gosto dessa também. E da foto. :)