setembro 03, 2006

Recomeçou a canseira. Virar páginas e páginas de jornais, vasculhar os sites sem parar, tentar saber se algum amigo de um amigo tem alguma pista. No meio dos anúncios tentar distinguir porque é que a casa é tão barata, tentar perceber o que quer dizer exactamente 'remodelada' ou 'estimada' ou 'em muito bom estado'. Chego à conclusão que, para se entender o mundo das imobiliárias, é necessário um curso ou, pelo menos, muita atenção aos possíveis duplos ou triplos significados.

Depois há a questão da zona. Não estou, obviamente, em condições de recusar um bom negócio, uma casa cuja relação qualidade-preço seja a ideial. Mas quando me falam em morar no Cacém ou em Rio de Mouro ou no Seixal, fico em pele de galinha. Literalmente. Há uma questão de prioridades muito clara nesta escolha: eu podia ser uma moça já casada, esperando ter filhos, podendo assim alegar que crescer fora de Lisboa seria o ideial. Mas não sou, donde concluo que aquilo que me apetece mesmo é estar no centro, é estar num sítio onde me possa movimentar à vontade, sem carro e sem quaisquer inibições de tempo. Há umas quantas zonas em Lisboa que me vêm à cabeça (todas sujas e apertadas mas cheias de gente, gente que vai ao café, gente que se demora na mercearia) mas que estão, claro está, completamente inflacionadas. Em todo o caso, não vou com certeza morrer se tentar encontrar alguma coisa. É rezar (se ao menos eu o fizesse...) para que me venha parar às mãos um negócio dos diabos.

Ironicamente, o novo catálogo do Ikea veio parar-me à caixa do correio no mesmo dia em que soube que o negócio se tinha desfeito. Nem tive ainda vontade para o folhear e tentar descortinar como vou equipar a casa que ainda não tenho. Pior, a casa que ainda não conheço. Mas é como diz o outro, vamos agora aproveitar a embalagem e já que estamos numa de acção, vamos revoltar tudo à procura de uma casa melhor. Vamos discutir preços e canalizações. Vamos sonhar com a casa ideial, vamos vê-la quando andamos por Lisboa, vamos fingir que ela já existe. Vamos escolher o tapete da sala e as prateleiras que o meu pai não me quer pregar no quarto. E vamos pensar como vamos acomodar todas as cervejas no meu novo combinado para a inauguração e como vamos arranjar espaço para todas as saladas frias e qual vai ser a selecção musical. Parece que já estou a ouvir a música de abertura, só para mim, só para dançar na minha sala nova, com tudo em pulgas para receber os convidados todos

she's a superhuman girl/ she is Superwoman/ she is Superman's cousin/
she's got superpower lovin'/ she's got superhuman eyes/ and see through superhuman vision/ she's got superhuman thighs/ sexier than television

5 comentários:

M. disse...

Eu não digo que seja mau. Só digo que eu preferia não morar lá, só isso :D

Anónimo disse...

O mais importante é sentirmo-nos bem na nossa casa, mais do que no bairro. estive muito tempo a pensar em sair de wedding, mas vou-me habituando aos poucos ao nao-acontece-nada-neste-bairro-proletário e a verdade é que nao é assim tao mau. em 20 minutos estou em qualquer sítio e isso é muito importante. Encontrei esta casa no fim de um dia em que tinha visto casas horríveis e já estava a ficar desesperada. Só posso desejar que te aconteca o mesmo (nao que fiques desesperada, mas que acabes por encontrar a tua casa mais cedo do que pensas).

M. disse...

Eu gosto bem desse T0! Muitas vezes subi essas escadas no dia da mudança :D A crer no que toda a gente me diz, isto terá sido pelo melhor. Ou assim gostava de esperar :)

Meow disse...

Vais ver que vais encontrar uma casa porreiríssima numa zona ainda mais porreira ;)

M. disse...

Pois... Umas vezes é o joelho que é alvo de injúrias num jogo da bola. Outras são as costas. Compreendo. :P