dezembro 22, 2006




Hoje ainda não tinha anoitecido completamente quando atravessei o Jardim da Estrela. Como sempre, e quando cheguei ao portão de saída, fiquei esmagada pela Basílica: estas dimensões sempre me impressionaram um bocado. É um medo assim irreal e inexplicável que sinto destas obras em tamanho XXL, como o são também os eólitos espalhados por aí e dos quais sinto mesmo terror.Enquanto caminhava às escuras pelo jardim ocorreu-me que ontem foi o dia do Solstício de Inverno, o que me alegrou - os dias começam a partir de ontem a ser mais compridos, a noite chega sempre mais tarde. E ia jurar que hoje mesmo já se sentia a diferença.


No capítulo obrigatório do Natal as coisas estão quase encerradas. Todo este stress, esta profusão de luzes pelas ruas, Pais Natais a trepar na janela (OK, enforcar o Pai Natal afinal tinha piada, tinhas razão), concursos de Natal, prendas singelas e menos singelas, bolos em doses industriais e proibidas, zangas com quem mais gosto (sempre obrigatórias e ainda longe de terminar porque a noite da Consoada ainda vai longe...) esgotaram parte do meu (pouquíssimo) espírito de Natal. Salvam-se as coisas que fazemos com as nossas mãos e que esperamos sejam apreciadas, as coisas que vamos podendo retribuir (sempre em quantidade insuficiente), os desejos de quem não dizia uma palavra há muito. Se estes 4/5 dias que vou passar a casa não me trouxerem paz de espírito, então não sei o que mais vai consegui-lo. E se eu já normalmente não me sinto embuída deste fenómeno festivo, sem um bocadinho de descanso as coisas pioram - e solta-se, quem sabe, a psicopata em potência que existe em mim. Portanto, vamos lá a acalmar todos: esta jovem precisa de tempo para não fazer nada e para não pensar em ninguém - a não ser eu.


E depois as horas não passam. Este é o quarto fim de semana consecutivo em Lisboa e isso não está de forma nenhuma a contribuir positivamente para este princípio de neurose. Lembro-me quando estava em Berlim e uma semana antes do Natal me sentia a sufocar e só pensava em sair de casa a correr, tropeçar na neve, mergulhar no Spree mas correr até Portugal. Num só fôlego. E como sentia que a cidade que também amava me tinha estendido uma jaula à volta e me obrigava a amá-la ainda mais, esgotando-me e sugando-me o amor que lhe tinha. Lembro-me do suspiro gigante que dei quando aterrei na Portela e como tinha desejo de absorver tudo de novo, tudo outra vez. Agora são só duzentos quilómetros que me separam de Casa e a sensação é semelhante. Porque a minha Casa também me desinquieta: matava-me se lá ficasse sempre mas é um pedaço meu sempre que lá não estou.


Por isso, com Natal ou sem ele, lá vou de viagem, de malas e presentes às costas, montada em 57 cavalos que amanhã vou chamar de renas. E não sei vocês mas depois deste texto todo carregado de ansiedade eu exijo que seja Natal. Uff.

(Hoje o espírito de Natal vai resumir-se a umas cervejas e um concerto dos X-Wife. Pode ser que amanhã o Pai Natal me consiga acordar a tempo para trabalhar.)

3 comentários:

Anónimo disse...

huz

Meow disse...

Essa sensaçâo de querer voltar às origens mas por pouco tempo também eu a conheço bem!! Desta vez, só vou passar 2 dias! E assim, espero que tudo corra bem!

Bom Natal!

M. disse...

Obrigada e igualmente ;)