Sempre que passo mais que dois dias fora de casa, a minha vizinha do lado pergunta-me se estou bem de saúde. Como se a única razão para deixar a minha casa e Lisboa fosse uma doença gravíssima, qualquer coisa a precisar de uns dias de convalescença longe dos fumos da capital. Não sei o que ela arranja mas consegue sempre apanhar-me a subir as escadas, carregadas de sacos de comida já feita e toda a roupa a que joguei a mão quando as férias começaram. E se pensar bem nisto, a senhora até tem razão porque eu padeço daquele mal terrível cujo principal sintoma é não estar bem em lado nenhum.
Se estou em Lisboa, é muito bom e isso tudo mas, depois duns dias, começa a irritar entrar em casa e ter os meus passos a ecoar no corredor, sem ninguém a saudar-me à entrada nem a fazer-me companhia às refeições. Se estou em Portalegre, o início é sempre bom, a matar saudades disto e daquilo mas, depois de pouco tempo, já me custa respeitar os horários e já me aborrece sair de casa só à noite. Se estou fora, longe de casa e da minha casa adoptiva, começo a sentir-lhes a falta e a invejar-lhes o conforto. O ideal era conseguir enfiar na minha cidade a minha casa de Lisboa, mudar as instalações da empresa para lá e no fim mudar a cidade toda de tempos a tempos.
Depois desta semana, dividida entre Portalegre e a costa alentejana, cheguei a Lisboa no mínimo desorientada. Não sei bem se me apetecia estar outra vez sentada a ver o mar, se me apetecia cumprir as regras lá de casa ou se afinal estou melhor aqui sozinha mas a reinar sobre o meu mini-feudo. A única coisa que sei é que já precisava de ocupar o tempo de forma mais útil e isso posso garantir aqui. Portanto, a eficiente ocupação do meu tempo é inversamente proporcional à possibilidade de estar com quem mais gosto. Não, não é uma tragédia. É só mais uma chatice sem importância nenhuma com que temos de viver. Talvez relativizar seja definitivamente o segredo.
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