Bebemos a garrafa de Monsaraz naquele jantar como quem mata a sede numa tarde de Verão. Ele servia-me ou eu mesma pegava na garrafa, enquanto toda a gente se contentava com uma sangria arrasada pelo excesso de canela. Ouvimos anunciar à mesa Eu vou ser pai, a sério, vou mesmo ser pai. Brindámos à felicidade evidente daquelas duas pessoas. Descubro mais uma grávida na mesa e dou comigo a pensar se alguma vez vou sentir aquela alegria desenfreada, se alguma vez vou tocar na minha barriga e sentir vida. Não sei se vou mas faço votos que sim. Fazer votos já não chega mas isso eu consigo controlar. Ter um filho é que é uma coisa que já me escapa mais.
Combinamos uma hora tardia num sítio improvável. Na verdade, não sei se ainda o consigo reconhecer porque há sempre demasiado tempo entre os nosso encontros. Já não vou nervosa. Bem, pelo menos até faltarem oito quilómetros, altura em que regressam as borboletas na barriga e eu fico aflita com tantos nervos. Quando o apanho numa rotunda deserta, descubro que as borboletas sossegam, ficam escondidas, abrandam o ritmo, deixam de me afligir. Passamos a noite a tentarmos não nos concentrar um no outro, a tentar ignorar esta vontade que nos queima a ponta dos dedos. A gata Mia olha para mim demasiado fixamente, como se me quisesse ver por dentro e eu não consigo afastar os meus olhos dos dela. Quando finalmente nos deitamos, sentimos os braços e as pernas em espasmos devido ao cansaço. Os meus espasmos também resultam do meu braço tocar o dele... Por muito tempo que viva, nunca vou entender isto que me liga a ele.
Ouvi muito esta música numa altura em que vivia com o coração na garganta porque pensava que tinha um pedaço de felicidade nas mãos. Uma vez, no elevador do trabalho, pensava que não ia aguentar a taquicardia com que vivia aqueles dias. Não faz mal que me tenha enganado: foi só mais uma vez. Hei-de enganar-me muitas mais e, mesmo assim, hei-de continuar a gostar das coisas simples. Como estes meninos na água ou o casal que se beija envergonhadamente. Há-de de haver sempre um sopro a acelerar-me o coração.
*Postcards from Italy dos Beirut
Combinamos uma hora tardia num sítio improvável. Na verdade, não sei se ainda o consigo reconhecer porque há sempre demasiado tempo entre os nosso encontros. Já não vou nervosa. Bem, pelo menos até faltarem oito quilómetros, altura em que regressam as borboletas na barriga e eu fico aflita com tantos nervos. Quando o apanho numa rotunda deserta, descubro que as borboletas sossegam, ficam escondidas, abrandam o ritmo, deixam de me afligir. Passamos a noite a tentarmos não nos concentrar um no outro, a tentar ignorar esta vontade que nos queima a ponta dos dedos. A gata Mia olha para mim demasiado fixamente, como se me quisesse ver por dentro e eu não consigo afastar os meus olhos dos dela. Quando finalmente nos deitamos, sentimos os braços e as pernas em espasmos devido ao cansaço. Os meus espasmos também resultam do meu braço tocar o dele... Por muito tempo que viva, nunca vou entender isto que me liga a ele.
Ouvi muito esta música numa altura em que vivia com o coração na garganta porque pensava que tinha um pedaço de felicidade nas mãos. Uma vez, no elevador do trabalho, pensava que não ia aguentar a taquicardia com que vivia aqueles dias. Não faz mal que me tenha enganado: foi só mais uma vez. Hei-de enganar-me muitas mais e, mesmo assim, hei-de continuar a gostar das coisas simples. Como estes meninos na água ou o casal que se beija envergonhadamente. Há-de de haver sempre um sopro a acelerar-me o coração.
*Postcards from Italy dos Beirut
1 comentário:
eu também tenho uma gata chamada Mia!
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