novembro 25, 2007

Diz que o David Fonseca veio a Portalegre...

Imprecisões

Dele já me disseram as mais variadas coisas. Já me disseram que não tem talento, que
é aborrecido e desinteressante. Já ouvi dizer que ele escreve coisas tiradas de um diário adolescente, que é inconsequente e não sabe falar inglês. Já me falaram sobre a sua (suposta) falsa modéstia e sobre essa mania de ser perfeito que ensombra tudo o que faz. Pois a mim nada disso interessa.

Ele tem em si - descobri hoje à noite - grande parte dos homens que são importantes para mim. Tem o gajo magro, tem o gajo com o cabelo perfeito, tem aquele que destila poesia apaixonada, o que toca guitarra sem nunca ter aprendido, tem o tipo engraçado sem ser hilariante. E tem a música que, por muito simples ou banal ou infantil que seja, me faz apertar as mãos com força. Como se eu não conseguisse aguentar aquilo tudo. Portanto, e nisto sou inflexível, ele é muito bom. É bom o suficiente para me fazer sonhar e para verbalizar os meus medos e os meus desejos e alguns fracassos. Sim, é claro que tem (muito) bom aspecto. E é óbvio que conquista muito público feminino por isso. Mas tem aquele ar de sonhador, tem dentro dele aquela dor mansa de gostar de alguém, tem vontade de dançar. Não passo de uma adolescente quando ele está na mesma sala do que eu. Antes isso que o cinismo cosmopolita que (sinto) está a tomar conta de mim.

Factos


Às vezes sinto que as pessoas em Portalegre não merecem ouvir música. Não sei se lhe hei-de chamar timidez ou desconforto ou falta de hábito mas sei que estar nesta sala de concertos se revelou (mais do que uma vez) uma situação embaraçosa. Não há reacções efusivas, não há movimentos nas cadeiras, quase não há aplausos para encore. É como se toda a gente não fosse letrada na arte de ver concertos, como se houvesse um livro de estilo que escapou a todos. Ter medo de expressar esta alegria ou ter vergonha de cantar é ser um bocadinho menos livre. E, ao contrário do que seria normal, torno-me mais livre em cada concerto que passa. Porque se isto me faz mais feliz que outra coisa qualquer, tenho o direito de dançar e aplaudir entusiasticamente. Mesmo que a malta da geração RFM (e sim, isto paga direitos de autor) olhe para mim desconfiada e só aplauda quando eles tocam aquela.

7 comentários:

Xana disse...

No outro dia, fui ver o circo acrobatico de pequim ao CAE e confesso que o publico portalegrense me surpreendeu... Batia palmas entusiasticamente, com toda a alma e coração! Desta vez surpreendeu! Uma vez que seja..

Anónimo disse...

Uma das vantagens de ser emotivo/impulsivo é fazer comentários deste género: Simplesmente não gosto do gajo, quando o ouço dá-me vontade de vomitar... Lá diz o povão: quem diz a verdade, não merece castigo!
P.S. - Mas em abono da citada verdade, devo dizer que não é o único: Bono e irmãos Gallagher também estão na minha "shit list".. entre outros!

mir disse...

"Ter medo de expressar": acho que é por aí...não vá o vizinho dizer alguma coisa!

Man Next Door disse...

Se calhar não é por acaso que não temos tanta oferta por esses lados :]

Essa geração RFM é um flagelo! Geração de tímpanos preguiçosos que se dedicam de corpo e alma a ouvir uma rádio que só passa músicas que já são célebres por outras as terem descoberto e rodado. YUCK!
Isso é o mesmo que estar sempre a ler o mesmo livro, só porque gostámos e não estamos para arriscar a ler a outro que possa não prestar.

Man Next Door disse...

E sim. Também acho que o David é muito bom. Nunca percebi porquê mas há óbvios de estimação na música nacional. Tal como o David, tal como os Toranja, tal como os The Gift... Ódios que nem as pessoas que odeiam sabem explicar. E é por isso que não os aceito.
É o mesmo que dizer que o David Fonseca não sabe falar inglês! Essa é de morte =)

M. disse...

Eu decidi, há uns tempos, que não discuto mais David Fonseca com pessoas que não consigam argumentar. Já ouvi os maiores disparates... :D E além disso, se gostássemos todos do mesmo, o que seria do amarelo?

[suspiro]

By myself disse...

Como natural de Portalegre, mas residente no Porto há séculos, espero que os meus conterrâneos não se tenham manifestado por não gostarem do concerto, o que é mais confortável para mim. Não gostava nada de admitir que a "minha gente" continue a estar (como no passado), tão fechada aquilo que nunca tem (e a continuar assim, não vai ter mesmo). Quando vi na TV o pessoal de Portalegre(penso que no Crisfal), ser acusado de "público mais insubordinado" do Levanta-te e Ri, confesso que fiquei algo feliz pela irreverência!!
Agora fico a imaginar que tenha sido apenas naquela noite (por uma qualquer razão).
Bem..tenho 46 anos, mas fica a promessa de ajudar "à festa" na próxima oportunidade que tenha para assistir a um concerto em Portalegre (espero que, de Rock ou Heavy Metal)...vou mandar um mail aos Moonspell...quem sabe!
Força malta da minha terra...toca a abanar o capacete!!!