dezembro 30, 2007



Ando aqui às voltas há uns dias a pensar que chegou a hora, que é tempo de me sentar, sossegada, e tentar fazer um balanço do ano que está quase quase a a acabar. Por todo o lado (nos jornais e revistas, nos blogs que leio, na televisão) chegou a hora de resumir o ano de 2007 em factos, histórias mais ou menos embaraçantes, momentos de verdade e instantes de decisão. Mas a verdade é que ainda nem consegui fazer esse balanço interiormente. E por isso pensei que talvez a melhor maneira de o fazer fosse escrevendo porque sempre fui melhor com a tinta do que com o som.

Não sei como definir sequer este ano que passou. Vi muitos concertos, coisas que nem pensava ver tão cedo e surpresas tão boas quanto me eram desconhecidas. Voltei aos festivais para me sentir inadequada e para desejar estar noutros sítios, para descobrir que (já) não pertenço à confusão e ao pó mas segura de que tive o meu tempo. Vi a minha cidade renovar-se com tantos concertos bons e inesperados, com boas apostas e coragem de arriscar, o que só me dá mais vontade de regressar nos fins de semana.

Tive os meus momentos altos e aterradoramente baixos no trabalho. Criaram um lugar propositadamente para mim no dia dos anos do meu pai e promoveram-me, depositando em mim a responsabilidade da mudança. Viajei em trabalho até à Alemanha e trouxe de volta mais experiência e ideias. Fiz parte do projecto de comunicação da empresa, participei nas actividades radicais anuais, coordenei as comemorações do Natal. Fui considerada brusca e seca, fui repreendida por ser espontânea e usar o meu tempo livre como entendia. Tive os meus piores dias no que a relacionamentos profissionais diz respeito, especialmente com a minha chefe, que é uma pessoa de humores. Compreendi que trabalhar com pessoas, não, é mais que isso, orientar pessoas é uma tarefa ingrata porque quanto mais sobes, mais os outros te vêem longe. Mas tive na recta final do ano direito aos elogios das minhas equipas e finalmente os resultados de muitos meses a refrear a minha impulsividade.

Tive a minha parte de amores platónicos este ano. Terminei o ano passado quase apaixonada pela pessoa mais errada do momento mas safei-me a tempo. Pude ter ao meu lado uma pessoa certa mas não fui capaz de falar ou sequer aceitar que pudesse ser o momento. Tive a noite mais estranha e empolgante dos últimos tempos ao som de um filme espanhol de série Z, longe de casa, longe do Mundo porque é para esse sítio distante que a companhia me leva sempre. Tornei-me um bocadinho mais cínica, é verdade, mas nem por isso desfaleceu a minha esperança no amor. Senti abrir-se à minha frente um leque de possibilidades, que é mais do que posso dizer dos últimos anos. Andei tantas vezes com o coração a querer rasgar o peito que muitas vezes pensei que não resistia. Mas a verdade é que não amei ninguém como quero amar. Mas tenho tempo.

Viajei, fiz amigos novos, perdi amigos novos e guardei os velhos no sítio mais seguro do meu coração. Estive em três casamentos de amigos e perdi um por razões mais que conhecidas. Vi nascer outra sobrinha postiça e crescer muito o meu primeiro sobrinho emprestado. Perdoei-me por ser incapaz de mais aventura, por ser pouco atrevida. Fiquei contente quando cheguei onde quis chegar. Não chorei mais com pena de mim e aprendi as maravilhas de morar sozinha, resolvi ambicionar mais e adiar menos.

Acabo o ano a confiar na mudança. Aconteceu muita coisa nestes últimos doze meses e por isso, por estar exausta com tanta surpresa, apetece-me que o ano acabe. Para começar tudo de novo, como naqueles dias em que nos sentamos na nova secretária e sentimos na ponta dos dedos a emergência das novas possibilidades. As sms estão no telefone à espera de serem apagadas, há planos já delineados para o novo ano. Para mim e para vocês fica o meu desejo de um 2008 muito feliz! Vemo-nos nesse ano a estrear :)

E ao antepenúltimo dia do ano apaixonei-me.



Pela música, não tanto pelo vídeo. São os Low e é uma das minhas canções do ano.

dezembro 29, 2007

Dormir mais feliz #10

Come clean and off with your head
The streams of bright rosy red
Your heart will do the rest
And you'll always fade
You'll always fade
Someday you'll change
But you'll always fade

Where's M?

Na companhia do sr. K (cuja identidade preservei), em noite de grande alegria, o que necessariamente implicava festejar com gin tónico. Num dos meus sítios preferidos de sempre...

dezembro 27, 2007

So... how's being single these days?

Esta foi a pergunta que seriamente ponderei colocar a um amigo (especial) há momentos. A ironia é que ele vive com a namorada, que está temporariamente em casa, de férias. E também que, em termos de celibato, eu estou quase a doutorar-me. Por isso, a pergunta ressoa ainda na minha cabeça como a coisa mais estúpida para se dizer dos últimos tempos.

Não é que eu esteja triste por ser uma rapariga solteira. De outra maneira, não poderia ver O Maquinista enfiada na cama, deliciando-me com uma tigela de gelado de morango com coraçõezinhos de chocolate, enquanto maldizia o corpo-esqueleto do Christian Bale. Não é o facto de estar sozinha que eu acho preocupante (reparem na cuidadosa escolha de palavra... facilmente podia ter descambado para desesperante mas eu aguentei): o que me preocupa, isso sim, é a ausência de alguém por quem valha a pena suspirar. Que os há, há, que eles são como as bruxas. E eu, apesar de ser muito céptica, acredito em breves momentos de magia. Mas assim de repente não me lembro de ninguém. E, portanto, é preciso ter grande moral para sequer pensar numa pergunta tonta como essa.

E, no fundo, se fizesse essa pergunta, tinha já uma linha de resposta em mente. Ele responder-me-ia que era porreiro, que estava a saber bem, que já nem se lembrava do bom que era, que deviam repetir isto mais vezes. E, sem o saber, confirmar-me-ia toda a teoria do ser solteira e independente. Só quando, no fim, ele dissesse que já tinha saudades de lhe (a ela) adivinhar o corpo quente debaixo dos lençóis é que acabava a minha fantasia. E lembrar-me-ia de repente de como é bom acordar e sentir aquele calor do outro, enquanto o abraço por trás ainda de olhos fechados e me deixo estar. A imaginar os dias em que a cama está mais vazia, eternamente insatisfeita.

dezembro 25, 2007

I'm gonna shoot from the hip!

Ela este ano esmerou-se (ainda mais) e deu-me esta máquina. Já há uma viagem marcada para Barcelona e o dinheiro que juntei este ano faz-me sonhar com Cabo Verde em Maio. Pijamas, meias para dormir, livros e uma torradeira... Foi um Natal típico mas em versão melhor. Um dia destes, vou conseguir só receber vales da Fnac ou de alguma agência de viagens.

dezembro 24, 2007

Véspera de Natal

Amanhecer no alto do parque Eduardo VII, hoje

Entardecer na recta de Pavia, hoje

Um dia de trabalho como os outros em vez da véspera passada em casa, trincando pinhões e avelãs enquanto o bacalhau cozia lentamente. Um amanhecer claro e gelado em Lisboa, um final de dia morno e silencioso em pleno Alto Alentejo. Enquanto todos estavam em família, eu separava folhas de papel. Não queria mais Natal mas a verdade é que sentia falta das discussões repetidas ano após ano à mesa da consoada, do café em casa do vizinho e dos embrulhos revolvidos à procura de notas perdidas.

Um Natal muito feliz a todos. Com ou sem bacalhau, sozinhos ou numa casa cheia, sejam é felizes.

dezembro 22, 2007

Ganhar...

quarenta euros para comprar alguma coisa de útil a toda a gente do piso e ficar com um projecto de geocaching para cumprir. Mais do que ganhar o concurso, foi bom sentir-me envolvida numa actividade deste género, motivando as pessoas, treinando os dotes decorativos femininos e vendo a mesa tomar lentamente forma. As recordações que sobram são o nosso presépio pós-moderno (como lhe chamaram), a fartura das outras mesas e a originalidade de outros pisos. E felizmente acabou...

dezembro 21, 2007

M e o mundo da doçaria alemã

Pois, o que tenho a dizer é o seguinte: 'TOU FARTA DO NATAL!

Pronto, era isso. É que a pressão destes últimos dias tem sido demais: foi o mês a fechar hoje, foram as ideias para prendas já há muito esgotadas, foram as desilusões de onde menos se podiam esperar, foi o concurso de Natal do trabalho, foi esta constante exigência para que estejamos mais perto uns dos outros quando na realidade não sabemos o que está mesmo ao nosso lado. Além do trabalho ter que aparecer feito, escolheram a gastronomia de cada país representado na empresa para o tema do concurso de Natal deste ano. Foi assim que, a medo, me aventurei com Früchtebrötchen, que apresentarei amanhã a concurso.

Já dizia o outro É a primeira vez que contacto com a doçaria alemã e estou maravilhada! Não sei se isto contribuirá para o sucesso do nosso piso mas eu já provei e posso garantir que o icing de limão por cima lhe dá um toque de classe. Tudo a torcer por nós, vá.

dezembro 18, 2007

Compras absolutamente inúteis

A minha nova consola. Reparem só como diz na própria que são 9999 jogos em 1. É que estava só a dois euros.

Bah ou os restos de um armazém

As patroas (um negócio dominado por mulheres, que lindo, não é?) vieram até Portugal e deixaram para trás uma Münster provavelmente fria para encontrarem uma Lisboa ainda mais gelada e com o tempo mais escuro que vi nos últimos tempos. Parece que querem criar o hábito de visitar os pobrezinhos durante as quadras festivas, agradecer-lhes toda a paciência demonstrada ao longo do ano face a tantas incorrecções, indecisões e precipitações (e mais coisas acabadas em ões.). Há um discursozinho na copa, em alemão como convém, depois de espalharmos pelas mesas pão de ló, broas de mel, salames e bolos-rei. Obrigada, contamos com vocês para mais um ano de trabalho harmonioso (como diz?), têm sido tempos de sucesso.

Mas agora, pergunto eu: se estes são tempos de sucesso, se o negócio evoluiu no sentido em que se previa, não há direito a uma prendinha de Natal um bocadinho mais elaborada? Só dá para trazerem estas sweat-shirts já usadas (ou então apenas sujas), com o nome da empresa e o slogan, como se as fôssemos vestir com todo o orgulho? Vestir a camisola só mesmo na maneira metafórica. E se continuam com estes presentes, qualquer dia ando mas é em tronco nú.

dezembro 16, 2007

Lately...

... estive no jantar de Natal do trabalho. Ao contrário do ano passado, o sítio escolhido foi bem mais pequeno e a comida (em vez de tradicionalmente portuguesa) era brasileira. Houve tempo para prémios e discos pedidos, caipirinhas que nunca chegaram à mesa e alguma cerveja pré-jantar. O momento era de amena cavaqueira (Eddie e eu) enquanto esperávamos que a fila para o buffet se dissipasse.
... voltei a casa pelo segundo fim de semana consecutivo, o que já não acontecia há algum tempo. Dias soalheiros mas gelados, o queixo a tremer à noite sempre que punha o pé na rua. Não houve música porque a viagem só acabou à uma da manhã mas espalhou-se a alegria com a surpresa que levei comigo de Lisboa. Da minha janela, enquanto tentava adivinhar quantos graus estavam na rua, olhava para o Gaspar, muito atento e preguiçoso. (Tu, pelo menos, reconhece-lo!) Se eu fosse um gato, não lamentava os dias tão mal utilizados e deixava-me ficar no parapeito, a gozar o Sol de Inverno.
... fico ainda mais deprimida quando penso no Natal. Não bastava não simpatizar muito com a quadra: este ano não vou poder mesmo festejá-la como antes. Trabalhar com base no comércio de retalho tem destas porcarias e, portanto, ninguém pode folgar no dia 24 ou 31 de Dezembro. Andamos todos à espera do milagre económico que nunca mais vem, esperamos vender as quantidades que nunca vão deixar os armazéns e por isso não temos direito a nenhum dia de descanso. Portanto, em vez de fazer a contagem decrescente para a noite de 24 em família, vou fazê-la em Lisboa e, em calhando, numa fila de trânsito qualquer em direcção a casa. Estou ansiosa que esta semana passe depressa... não me venham é falar da poesia ou da magia do Natal. Essa parte de mim fechou para obras.

dezembro 14, 2007

Saudades *

Praia fluvial de Fronteira, Agosto 2007

Do Verão. E de como no tempo quente a única preocupação era conseguir arranjar cerveja suficientemente gelada. Agora, entre jantares de trabalho cuidadosamente ensanduichados na semana, divido-me entre o entusiasmo de um projecto novo (sem telemóveis à mistura) e a desilusão já gasta de não ter o que quero. A preocupação com a cerveja gelada mantém-se.

* ou ando sem cabeça para títulos melhores

dezembro 10, 2007

Sehnsucht *

Continua a ser o álbum que mais vezes ouvi na minha vida. Se fosse um vinil, certamente estaria riscado ou gasto ou vazio: nenhum vinil poderia aguentar tantas e tantas tardes a dançar debaixo da agulha...

Há muito, muito tempo atrás, trocava cartas com um professor de Inglês de Aveiro que tinha nascido e vivido em Antuérpia alguns anos. Escrevíamos cartas sem saber exactamente quem era aquela pessoa que estava do outro lado, sem saber se as nossas linhas eram esperadas com a ânsia que havia no nosso lado. E trocávamos cassetes com as músicas que ouvíamos quando os dias eram menos felizes. Ele dizia-me Tens que o ouvir! e gravou-me o que tinha numa cassete, que rapidamente se tornou na única que ouvia. Lembro-me do dia em que peguei no CD, ainda na Carbono em plena Almirante Reis e pensei que dois contos não era muito dinheiro. Ouvi tudo e soube imediamente que ele tinha razão, que eu tinha que o ouvir.

Conheço cada inflexão da voz deste CD. Sei as letras, vi os vídeos que pude. Comprei uma VHS para conseguir vê-lo a actuar ao vivo. Imagino ainda hoje todas as mulheres para quem ele escreveu estas canções de amor, invento romances impossíveis numa cidade chuvosa, ele de guitarra às costas, perdido entre as pautas e os amantes delas. Deu-me horas e horas de conforto, amparou-me as lágrimas, atenuou-me a dor. Mas, de todas as vezes que me resgatava, mais eu pensava como era injusto eu ter chegado à música dele tão tarde.

Continua tudo a fazer sentido para mim. Gosto dele como no primeiro dia, como na primeira cassete que rebobinava só para ouvir partes tão específicas da música. Gosto dele como se um dia tivesse sido sua amante e o tivesse visto partir, fechar uma porta sem nunca virar as costas, sabendo que era isso que o fazia continuar. Gosto dele como no primeiro momento em que olhei a capa do álbum e ele me parecia piroso, em que me perguntava a mim mesma porque o tinha levado para casa. Gosto dele porque, sempre que o ouço, me lembro das manhãs que passei debaixo daqueles cobertores, a ouvir os autocarros subir a minha rua, a ouvir o candeeiro da mesa de cabeceira tremer com essa vibração e a pensar que tinha a vida toda na minha mão. E gosto de pensar que sobrevivi aos dias em que me afundava a uma velocidade supersónica na dor e que ele foi um dos que me estendeu a mão. Um morto, é a ironia disto. E o professor não mais tornei a ver. Roubou-me um beijo na Gare do Oriente sob o pretexto dum glorioso pôr do sol e enfiou-se no comboio. Quis procurar a cassete mas nunca soube onde. Na minha vida, parece-me que é uma constante: nunca chego à hora certa.

* brach mir das Herz.

(Outra) história de violência

É um filme a oscilar entre a contenção e a brutalidade. Mas eu gostei a sério desta tensão sexual mal resolvida.

(mas também da cara de pulha de Cassel, dos olhos frios do Rei e da excentricidade do tio russo, da cerimónia iniciática das tatuagens e da voz impregnada de melancolia do acordeonista, do código que nunca se quebra, da resistência à traição e da permeabilidade ao sofrimento dos outros)

dezembro 09, 2007

dezembro 07, 2007

Never trust anyone. Especially the ones you know. *

Mais um golpe, mais uma viagem. Enquanto cá andarmos há-de sempre existir alguém que nos surpreende e, depois de nos fazer confidências, depois de nos confiar coisas suas, é capaz de jurar que não nos conhece. A duração do estado de desilusão é cada vez mais breve. É capaz de querer dizer que estamos a crescer.

(mas na aquela altura sobem-me as lágrimas aos olhos, sobe-me a vergonha às maçãs do rosto e encho-me de raiva porque quero perguntar tudo, quero saber porquê, quero que ela diga que foi só uma frase sem sentido e só ouço a minha voz mais alta, cheia de indignação e vontade de gritar porque é que não me conheces melhor quando eu te conheço bem? e engulo em seco tantas vezes quantas me apetece levantar da cadeira e sair e enquanto faço o caminho para casa a desilusão amansa e passa a ser apenas um momento de nevoeiro num dia já de si imperfeito)

*frase roubada e (muito) adaptada aqui

dezembro 04, 2007

Falta de comparência

Esta é uma das razões para andar a postar menos nos últimos tempos. O Natal é quando eu quiser e para mim já foi. Agora, há demasiadas páginas daquele livro de instruções para ler. E muito para decifrar, já que o mesmo se encontra em francês, língua que não domino. Tem sido disparar, disparar, disparar. Sobre assuntos triviais, quotidianos. E gosto dela.

Depois, também houve o fim de semana que me esgotou as forças. Quase precisei de um horário para conseguir fazer tudo o que queria, estar com toda a gente que me apetecia ver. E houve música, pois. Com esta senhora e esta também. Foi uma noite de música bonita, com momentos em que parecia que se abria um túnel secreto para um lugar mais feliz.

E há tanta coisa a acontecer no emprego, tanta gente a sair, tanta má notícia a dar, tanta formação que planear e novos projectos que precisamos abraçar que continuo esgotada. A precisar dos cinco dias de férias que me faltam gozar. Assim que comece o ano, prometo. Por enquanto, só me apetece sentar no sofá, desligar a luz e deixar o filme adormecer-me. Pode ser?