O porto estava cuidadosamente arrumado entre praias de areia muito escura e grossa. Nunca espreitámos os barcos atracados por lá mas ainda vimos passar alguns navios de cruzeiro pela costa, quem sabe lotados por velhinhos que gostam de dançar o foxtrot sem riscos e casais para quem a lua de mel se resume a uma mão cheia de dias entre as paredes de uma cabine. A água era escandalosamente fria, especialmente se pensarmos nas nossas praias banhadas pelo Atlântico. Esperando a temperatura da água quase idêntica à temperatura do ar, muitas foram as vezes em que as dores nos ossos não nos deixaram estar na água mais do que o tempo estritamente necessário para refrescar.
Se alguma vez buscámos sossego, devíamos saber que não era aqui que o íamos encontrar. É claro que os espanhóis falam alto, é claro que são festivos e emotivos mas aquilo a que assistimos diariamente é talvez um bocadinho demais. As discussões sobre a educação dos filhos, as cadeiras disponíveis, os colegas de trabalho - tudo quase gritado, para que toda a praia não se sentisse excluída e pudesse também comentar. Se a isto acrescentarmos que os espanhóis gostam ainda mais de se amontoarem, de estenderem arraiais em cima de outras pessoas que nós, a coisa ainda piora. Mas tudo se compensava com a visão de bebés por todo o lado, pela mão dos pais ou na barriga das mães, nus e de boné na cabeça, gatinhando na areia ou recusando-se a pisá-la. Se isto pudesse ser uma amostra da natalidade, então podíamos também concluir que a população espanhola se está a rejuvenescer sem problemas. Depois podemos somar ainda os vendedores de malas (imitações grosseiras de Prada e Gucci e Channel), de relógios e óculos de Sol, os rapazes que carregavam as túnicas marroquinas ainda em cruzetas, os apregoadores de bebidas frescas e gelados, o rapaz das tatuagens e a trupe das massagens - vale tudo para vender mais.
A piscina coroava o hotel no nono andar, o restaurante esperava-nos no primeiro. Em algumas alturas, éramos as únicas portuguesas do hotel e o caixa já nos agradecia na nossa língua. Perdemos a conta às excursões de velhos que entravam e saiam às horas das refeições, garrafa de vinho, água e gasosa. O horário da sesta foi cumprido religiosamente por quem consegue adormecer em cinco segundos, intermitentemente para quem se deixa comandar pela bexiga. Beberam-se três ou quatro gins tónicos preparados no quarto, com uma faca desviada subtilmente do restaurante. Fizemos muito com pouco. Em havendo Sol e um pedacinho de areia para estender a toalha, a malta esquece-se que trabalha e que muitas vezes detesta o que faz. Depois, é mergulhar no Mediterrâneo, preparar-se para boiar e, quando finalmente descansamos a cabeça dentro de água, só ouvimos a imensa pressão de um mar inteiro e a nossa própria respiração. Se fecharmos os olhos, tudo o resto deixa realmente de existir. Apenas as boas recordações se mantém à tona connosco, evitando outros banhistas, borboletas na barriga também em estado líquido.
Se alguma vez buscámos sossego, devíamos saber que não era aqui que o íamos encontrar. É claro que os espanhóis falam alto, é claro que são festivos e emotivos mas aquilo a que assistimos diariamente é talvez um bocadinho demais. As discussões sobre a educação dos filhos, as cadeiras disponíveis, os colegas de trabalho - tudo quase gritado, para que toda a praia não se sentisse excluída e pudesse também comentar. Se a isto acrescentarmos que os espanhóis gostam ainda mais de se amontoarem, de estenderem arraiais em cima de outras pessoas que nós, a coisa ainda piora. Mas tudo se compensava com a visão de bebés por todo o lado, pela mão dos pais ou na barriga das mães, nus e de boné na cabeça, gatinhando na areia ou recusando-se a pisá-la. Se isto pudesse ser uma amostra da natalidade, então podíamos também concluir que a população espanhola se está a rejuvenescer sem problemas. Depois podemos somar ainda os vendedores de malas (imitações grosseiras de Prada e Gucci e Channel), de relógios e óculos de Sol, os rapazes que carregavam as túnicas marroquinas ainda em cruzetas, os apregoadores de bebidas frescas e gelados, o rapaz das tatuagens e a trupe das massagens - vale tudo para vender mais.
A piscina coroava o hotel no nono andar, o restaurante esperava-nos no primeiro. Em algumas alturas, éramos as únicas portuguesas do hotel e o caixa já nos agradecia na nossa língua. Perdemos a conta às excursões de velhos que entravam e saiam às horas das refeições, garrafa de vinho, água e gasosa. O horário da sesta foi cumprido religiosamente por quem consegue adormecer em cinco segundos, intermitentemente para quem se deixa comandar pela bexiga. Beberam-se três ou quatro gins tónicos preparados no quarto, com uma faca desviada subtilmente do restaurante. Fizemos muito com pouco. Em havendo Sol e um pedacinho de areia para estender a toalha, a malta esquece-se que trabalha e que muitas vezes detesta o que faz. Depois, é mergulhar no Mediterrâneo, preparar-se para boiar e, quando finalmente descansamos a cabeça dentro de água, só ouvimos a imensa pressão de um mar inteiro e a nossa própria respiração. Se fecharmos os olhos, tudo o resto deixa realmente de existir. Apenas as boas recordações se mantém à tona connosco, evitando outros banhistas, borboletas na barriga também em estado líquido.
2 comentários:
Foi bom...mas para o ano GRÉCIA
É curioso, o meu mano voltou anteontem do país vizinho e diz que uma das coisas de que mais saudades tem aqui da grande alface é do sossego relativo em locais públicos. Nem berros, nem escândalos, nem rebanhos.
De resto, praia é praia e para quem gosta deixa sempre saudades. E eu que o diga! :(
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