agosto 19, 2009

Agosto na Lapa*, 35 ℃


Eu, admiradora incondicional do Verão, me confesso: tenho tido muitos sentimentos contraditórios acerca desta estação, especialmente na zona onde moro. É muito bom, este silêncio que sempre se ouve pela manhã, os pássaros que cantam nas árvores que separam o condomínio dos quintais ranhoso deste lado da rua, os autocarros a passar (aparentemente) com menos frequência. Os cafés a caminho de casa estão quase todos fechados, com letreiros de férias em todas as montras, uns desenhados com palmeiras e malta deitada na praia, outros mais secos e improvisados.

À porta do liceu, não há sinal das meninas que vestem roupa de Verão todo o ano, encostadas à parede, fumando languidamente ou provocando os miúdos que afastam, a custo, o cabelo dos olhos. Não há algazarra junto da escola e as folhas dos plátanos que acompanham as suas grades formam já um tímido tapete, secas pelas temperaturas finalmente altas, revoltas pelos chinelos que caminham em direcção à Estrela. O jardim é agora trilhado por casais gays e heterosexuais, turistas espanhóis muito bem compostos, grupos de rapazes de rastas que depois se deitam pela relva, senhoras bem casadas à espera do segundo filho, os mesmo três senhores de sempre correndo juntos, o mesmo rapaz com cabelos de Cristo sentado em pose depressiva, bebés de colo por todo o lado.

A atmosfera abafada chegou à Estrela e, sendo Agosto, o trânsito nas artérias que circundam o jardim abrandou também, como se agora os automobilistas estivessem demasiado ocupados a escolher o próximo destino de férias. Quase estaciono longe da porta simplesmente porque nestes dias há tantos lugares livres que me posso dar ao luxo de escolher. Ainda não moram estudantes das janelas da frente, nem as alunas da escola gritam à hora de saída.

Sinto a falta destas palpitações. Sinto falta da movida e das buzinas no cruzamento, mesmo que seja muito bom passear por uma Lisboa vazia. Sinto falta duma cidade em marcha mas Setembro já está quase aí.

* com uma fotografia daqui.

3 comentários:

Eurico Ricardo disse...

"ste silêncio que sempre se ouve pela manhã"... Devias estar em Quarteira, onde não há silêncio absoluto mais de duas horas seguidas!

M. disse...

Passei férias em Quarteira durante dezanove anos da minha vida. Acho que sei do que estás a falar :P

Eurico Ricardo disse...

Maior fail que Quarteira só o Benfica de Jesus. Hoje em dia isto é só mitras e imigrantes franceses. E pronto, turistas remediados da fatia baixa da classe média. Como eu. Mas elas gostam, pelo menos olham bué.