março 27, 2005

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'Roubei' isto aqui.
(Coisas que NUNCA devem dizer a uma mulher)

(conversa com um amigo que não via há algum tempo)

Ele: 'Tás mais...
Eu: ... diferente?
Ele: .. não, mais gorda!

março 25, 2005

Apenas um breve post solidário com a Polliejean e corroborando a sua teoria :)

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Ontem, devido à quantidade monstra de obras que se fazem por estes dias na minha cidade (o programa Polis é assim...), vi-me obrigada a andar a pé. Aburguesei-me neste capítulo: desde que tenho carro que não ando a pé em Portalegre, mesmo sabendo que posso ir de uma ponta à outra da cidade em pouco tempo. Mas ontem tive que ir a pé e isso fez-me lembrar da minha vida antes de ir para a faculdade e antes de ter carta - boas recordações, ainda assim. De maneiras que peguei na máquina e pensei "Já que vou ter que andar a pé, porque não aproveitar e tirar umas fotos por aí?".

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Este é talvez um dos maiores símbolos da cidade: as chaminés da fábrica da rolha (o nome verdadeiro é Fábrica da Robinson mas who cares? Era assim que lhe chamávamos há muitos anos atrás).

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A fábrica já só labora de vez em quando (sinal evidente do crescente desemprego que se vive por aqui) e há planos para a transformar numa escola de turismo. Os Madredeus tocaram lá uma vez e quem viu achou maravilhoso.

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Continuei o meu caminho pela parte velha de Portalegre e passei numa das minhas fachadas preferidas (pertencentens a um amigo, acho eu): a fachada de uma mercearia à antiga, daquelas que ainda se vêm nas terras pequenas do Alentejo.

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O caminho levou-me depois por uma das (espero não errar) 7 portas de Portalegre, que tornavam a cidade num burgo fechado, ainda no tempo em que a cidade se chamava Portus Alacer.

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Aqui o motivo que me tinha feito andar a pé: a Biblioteca Municipal, um belíssimo trabalho de recuperação de um convento (de Santa Clara), transformado numa biblioteca moderna e com uma agenda cultural permanente.

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Um pormenor do interior da bilbioteca, onde a maior parte das instalações fica virada para os claustros (onde em cada quinta-feira de Verão acontecem espectáculos) do convento.

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E finalmente umas das ruas de que mais gosto, aliás, um dos becos de que mais gosto, o beco da Rua Cândido dos Reis. O meu passeio podia ter mostrado muito mais mas aburguesei-me, é verdade e não quis andar mais...

março 24, 2005

Ok, eu não consegui resistir e tive que roubar a ideia à Polliejean. E eu até simpatizo com questionários (especialmente quando não há mais nada para postar).

All Is Fill Of Love
Your song is "All Is Full Of Love" Be
happy, it's a very beautiful song.

Which Bjork song are you?
brought to you by

(Que chatice ter-me calhado esta. Gostava mais que tivesse sido um clássico.)

(E além disso aquela descrição... Enfim, digamos que não me revejo.)

março 23, 2005

'Enfilade'

this could last us all a lifetime
limbs intact, untouched
on the screen of a video tape
confined to bedposts
we wait as lepers
upheld at knife's reach
we covet all the status quo
this syringe will take a lifespan
it's filled with bait and tackle
try and catch us if you can

sacrifice on railroad tracks
freight train comingun
conscious tied and gagged
freight train coming

meet us at the corner
of fifth and pontiac
make sure that no one else
is with you
if you wish to see them alive
again
then humor me with this request
humor me with this request
in basements we will hide
amnesia in our alibis

they kept a close eye
on your get well incentive
Sem saber o que ouvir - não por falta de música mas por excesso de escolha -, fui desencantar no meio dos meus mp3s o cd 'Relationship of Command' dos At The Drive-In, que são uns tipos com cabeleiras afro e energia suficiente para fazer trabalhar uma central eléctrica.


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Com uma história algo curta, os At The Drive In deixaram já de existir e deram lugar a duas novas bandas: os Sparta e os The Mars Volta (bandas que, segundo creio, já passaram por Portugal). É compreensível que nunca tenha podido assistir a uma actuação deles, uma vez que faziam parte de um movimento underground que parece ter passado um pouco ao lado de Portugal.
Os At The Drive In afastam-se um bocado dos géneros musicais que ouço mais, se queremos falar em rótulos. Mas eles têm um pequeno problema: não me parece que seja possível aplicar-lhes um desses rótulos. A música que faziam não se enquadrava em nada do que já tinha ouvido e continuo a não achar uma categoria (por muito mau que seja arrumar as coisas assim) onde os possa encaixar. Curioso é que, mesmo com a minha tendência para recusar música mais agressiva, continuo ainda a ouvi-los porque este é outro tipo de 'agressão': é a música feita por alguém que destila energia por necessidade, alguém que não se debate com raivas ou ódios (ou os sentimentos negativos que costumam ser associados à música mais pesada) mas se move no mundo com um certo nível de abstracção e imaginação, matéria prima de todas as canções.
A outra característica que me conquistou também é a insondabilidade das letras que escrevem: não há aqui a estrutura de uma canção no seu sentido tradicional. Talvez na forma isso exista porque eles não recusam o sistema estrofe/refrão/estrofe. Mas o conteúdo.. Imaginem uma cartola de um mágico, para onde deitamos cartões com frases soltas; as frases devem ser o mais enigmáticas possível, sem nexo mesmo; o passo final é tirarmos cartões aleatoriamente e assim construir uma letra de uma canção! O que é mais estranho ainda (ainda mais?) é que as frases, aparentemente disconexas, constroem ambientes futuristas e negros, que me fazem sentir como se andasse à deriva num mundo em ruínas.
E agora, especialmente porque é a canção que mais me fez pular (deles, claro), deixo a letra de 'Enfilade', um delírio rítmico, cuja letra nos transporta para um cenário de rapto e pedido de resgate (ouça-se o telefonema inicial).

março 22, 2005

É com grande pompa e circunstância que vos convido a visitar o meu canto numa cozinha virtual, desta feita na página Pitéus na barriga. Serão servidas deliciosas iguarias, em doses muito satisfatórias, sendo dada preferência aos pratos por mim preparados (o que, por acaso, não acontece esta semana mas isso são outros quinhentos...).
E agora para algo realmente 'weird'... Uma foto que consegui aqui. E depois não havemos de dizer que estas coisas só acontecem no Estados Unidos...


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Mais uma manhã sem sono
Hoje acordei ainda mais cedo: 9h30m e não consegui estar mais deitada (bem sei que sou chata em queixar-me porque as férias têm sido chatas e com muito que fazer. Desculpe-me quem trabalha...). Levantei-me e, como nerd que sou, vim agarrar-me ao computador, sem saber muito bem o que fazer - há um trabalho por terminar e mais pesquisa por fazer mas não foi obviamente isso que fiz...
Fazendo a minha ronda matinal pelos blogs que mais gosto de visitar, descubro outros e depois outros e depois ainda outros. E foi assim que descobri isto! Imediatamente salivei, pois com certeza! E ver esta página lembrou-me mais uma vez do quanto Berlim me fez gostar de cozinhar (especialmente porque tinha tempo livre) e me fez ver que cozinhar é uma espécie de arte, sobretudo no sentido em que é preciso um bocadinho de 'jeito'. Por isso, se muitas vezes pensei que era imprestável no campo artístico (não toco nada, os meus desenhos são aberrações e bloqueio quando tento escrever), agora mudei de ideias. E mesmo que esta seja uma arte menor [a de cozinhar], nada me tira a satisfação de alguém que me diz, enquanto come, 'Que grande pitéu!'.

março 21, 2005

Breves considerações matinais
Acordei hoje a pensar a mil à hora. Talvez tenha sido pelos mini-sonhos que tive toda a manhã, talvez não haja razão absolutamente nenhuma para tal. O que é certo é que me vejo obrigada a tecer estas considerações:

a minha irmã está a ver desde ontem (juro que não sei se ininterruptamente) todos os episódios da série "OC". O que é que eu não sei sobre a série que ela sabe?

... e ao milionésimo trigésimo octagésimo terceiro dia choveu. Mas não há ninguém decente que decida que esta chuva miudinha não resolve nada?

estar de férias e ter que trabalhar o dobro não tem piada nenhuma.

março 20, 2005

Newly weds

Há aí alguém que tenha um manual de instruções para quem vê os seus amigos todos a casar?

março 19, 2005

Coleccção "Berlim fazes-me falta!"
Fascículo 2: O Döner


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Pegue-se num quarto de Fladenbrot (pão turco) e espalhe-se o molho desejado: Kräuter ou molho de ervas; Knoblauch ou molho de alho; Scharf ou molho picante. Junte-se a carne acabada de cortar do espeto (normalmente borrego) e guarneça-se com vegetais frescos (normalmente tomate, alface, pepino, couve roxa e cebola). NHAM!

Quando penso que em Portugal não podemos comer Döners (há só um sítio no Bairro Alto que faz uma coisa parecida e o dono é - só podia! - alemão...) salivo abundantemente. Porque se esta malta cá soubesse o festim para o paladar que é comer um Döner nunca mais ninguém comia aqueles hamburgueres de plástico das cadeias de fast food. Foi a minha primeira refeição em Berlim e foi também a última. Lembro-me como olhei desconfiada para o prato, sem saber muito bem por onde começar...

(vou acabar isto depressa para espreitar o que há neste meu frigorífico português)

março 18, 2005

Manifesto anti-pop (ou como uma rainha se mantém até ao fim)

Pensava eu viver numa zona de Lisboa com evidentes carências culturais mas não, não vivo não senhor. Pelo menos no que à música diz respeito.
Ontem, enquanto tentava evitar que a minha casa se parecesse com uma pocilga, dei de caras com três mensagens claras e sucintas (que esta malta afinal não é de muitas palavras). Sacudia eu o belo do tapete quando sou assaltada (metaforicamente falando) com o que julgava não ser possível neste canto de Lisboa.

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Apesar de deficiente ortografia, aí estava um manifesto de puro apreço pela carreira da rainha do pop (certamente mais pela forma mais ou menos brilhante como geriu a sua carreira nestes 20 anos do que pela sensualidade que esbanja...). Fiquei admirada com o gesto público (ainda que anónimo), assumido numa zona em que o ponto alto da agenda cultural foi a actuação de Toy ao ar livre na Praça Paiva Couceiro. Mas adiante, que as surpresas não param.

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Este manifesto conquistou ainda mais o meu apoio depois de ler isto. O desprezo a que a boys band britânica foi votada por este denunciador anónimo tocou-me. Especialmente depois desta banda (?) se ter apropriado da única coisa boa que o pobre do Coolio fez na sua vida (o mítico "Gangstas Paradise"!). E especialmente porque todos os seus membros são feios. Mas o melhor estava guardado para o fim...

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Pois é, meus amigos. Esta é uma alusão clara aos tempos da Inquisição (há críticos que não poupam nos requintes de malvadez... nham), em que se queimavam bruxas e artistas em geral. Desta intervenção crítica podem surgir duas questões:

- Quem será este tipo?

ou

- O QUE É FEITO DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS DO NOSSO PAÍS?

março 12, 2005

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Memórias de um Verão a caminho da mudança, 4 de Setembro de 2004
Gosto mesmo de manhãs de sábado:
  • acordo e há silêncio lá fora
  • o canal da televisão é inevitavelmente o Lusomundo
  • o meu pai prepara-se para grelhar peixe
  • o leite cá sabe a outra coisa
  • posso ler o Y na cama
  • vasculho a net à procura de inutilidades
  • leio as revistas cor-de-rosa desta semana
  • há sempre morangos no frigorífico
  • falta menos tempo para voltar (para ti)

março 10, 2005

ODNI (Objecto Destabilizador Não Identificado)

Fui ver

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"Oldboy" de Chan-wook Park. Pois é. Fui mesmo. E... pronto. Ontem dei por mim a tentar escrever alguma coisa sobre aquilo que vi e não consegui. Talvez por falta de inspiração, talvez (hipótese em que mais acredito) porque mesmo hoje, dois dias passados, não sei muito bem o que vi. Entrei na sala de cinema para assistir à ante-estreia com receio do que iria ver porque alguém me tinha dito que era um filme pesado, a atirar para o género do Terror. Mas não, não é assim.
A partir da história de Garon Tsuchyia, Park brinca com os nossos sentidos, desenvolvendo uma fábula pós-moderna sobre o amor e a vingança. Dae-su Oh (frenética interpretação de Min-sik Choi) apanha uma bebedeira valente no dia do aniversário da sua filha, da qual desperta já na prisão onde vai passar os próximos 15 anos da sua vida. Este é o primeiro choque do filme: imaginem-se presos sem entenderem porquê, sem conhecerem o rosto do vosso carceeiro, privados do contacto com o mundo, com excepção de uma televisão. Pois. Perguntei-me muitas vezes se enlouqueceria ou superaria todas as provações.
Decidido a sobreviver, Dae-su Oh aproveita o tempo em que está preso para treinar a sua forma física (de modo a poder vingar-se) e a passar em revista todos aqueles a quem tratou com desprezo ou deslealdade. Até que o dia finalmente chega.
Posto em liberdade, Dae-su Oh acorda para um mundo de sensações de que já se tinha esquecido mas, especialmente, para o mundo onde habita quem o manteve prisioneiro. Enredado numa complicada teia de manipulação e mistério, ele vai chegando cada vez mais perto de conhecer o motivo porque lhe roubaram 15 anos de vida e, especialmente, quem o fez... Nessa sua jornada, conhece Mido: jovem e pura empregada de restaurante, que o acolhe em sua casa mas de quem desconhece o passado. É com a sua ajuda que Dae-su Oh vai procurando incessantemente (nos 5 dias que o seu carrasco lhe "oferece") a verdade, ainda que esta possa vir a tornar-se em algo impossível de suportar ou acreditar.
A câmara de Park quase toca os actores, o que faz com que consigamos penetrar na intimidade das personagens e sentir (ainda mais) compaixão pelos seus defeitos e virtudes. A coreografia tipicamente oriental que desfila ao longo do filme torna momentos que seriam profundamente inquietantes em momentos belos, enternecedores. Na minha "História dos mais belos e comoventes gestos no Cinema" fica a cena ambígua, como se prova no final, em que Dae-su Oh seca o cabelo a Mido.
Não há razão para revelar mais pormenores do filme - isso afectaria o efeito surpresa e roubaria a futuros espectadores a possibilidade de se deliciarem com os detalhes (mesmo os mais sórdidos). Aconselho este filme vivamente a quem gosta de levar grandes socos na barriga e sair do cinema violentamente contente com um objecto que não consegue classificar.

março 08, 2005

Uma pequena nota de protesto porque NOS COMPUTADORES DA FACULDADE A MISÉRIA É TANTA QUE NEM PODEMOS FORMATAR OS TEXTOS COMO QUEREMOS! LÁ SE VÃO OS JUSTIFICADOS E OS NEGRITOS E OS TINY SIZES! ESTA FACULDADE NÃO PROMOVE, DEFINITIVAMENTE, A ESTÉTICA! Desculpem o desabafo :)
(Post posteriormente formatado no quentinho do meu lar)
À beira das lágrimas



"A música de Rodrigo Leão é a música da inteireza; de uma pessoa que nunca está só; de uma só vida que não existe sozinha.
É, em três palavras, a música da vida, a música da música."

Miguel Esteves Cardoso, Blitz 1034 de 24.08.04

Simpatize-se ou não com ele, MEC acertou em cheio na mouche neste sua rubrica semanal (quase pela primeira vez, diria eu). O elogio a Rodrigo Leão pode ter passado despercebido a muita gente mas foi, na minha opinião, inteiramente merecido.
Este sábado fui ao Forum Lisboa ver - quem poderia ser? - Rodrigo Leão, no âmbito da série de concertos (que penso chamar-se) "For U Music". A lotação estava esgotada (ou assim estava anunciado), sendo a maior parte do público composta por jovens trintões de sucesso (?) ou quarentões que gostam de música mais "sossegada". A pergunta da noite, para mim, foi: Porque raio há tão pouca gente da minha idade (ou mais novos) a conhecer e gostar de Rodrigo Leão? É, enfim, uma pergunta que vai ficar sem resposta e assim Leão continua a ser um segredo "daqueles" bem guardados.
Como base deste concerto estava o seu último albúm "Cinema", em que participaram (entre outros) Ryuichi Sakamoto, Beth Gibbons ou Sónia Tavares (estas últimas vozes das quais não senti falta devido ao enorme talento de Ana Vieira, que tem acompanhado Rodrigo Leão nesta digressão).
Acompanhado por guitarra, baixo, bateria, acordeão (ah grande Celina da Piedade!), violino e violoncelo, Rodrigo Leão tocou de forma apaixonada e entusiasmante, apenas interrompendo a sua actuação duas vezes: uma para cumprimentar o público, outra para apresentar os músicos. Estes estavam dispostos em semi-círculo, portanto visíveis de todos os pontos da belíssima sala do Forum Lisboa (fazia falta uma assim em Portalegre, pela sua dimensão e conforto). A única mudança cénica deu-se quando algumas imagens foram projectadas num ecran gigante, mas isso só aconteceu durante um tema, sendo que a sequência não era também digna de nota. Mas não era a encenação que me (nos) tinha levado ali - era, isso sim, a Música.
Passeando-se docemente entre os temas de "Cinema", o concerto teve os seus momentos altos nas interpretações femininas: Ana Vieira brilhou em "La Fête" (deliciosa composição que tudo deve à chanson française) ou em "Lonely Carousel", originalmente interpretada por Beth Gibbons mas que Ana Vieira interpretou de forma superior. O interessante e digno de nota nesta jovem cantora é a notória facilidade com que muda de registo e como se adapta também às diferentes línguas (cantou também em brasileiro "Rosa" ou a mais antiga "A casa"). Celina da Piedade apenas largou o instrumento que domina com paixão (o acordeão) para interpretar "Pasión", sedutora peróla latina, à qual se entregou com confiança e sensualidade.
Os temas instrumentais foram de uma assombrosa beleza: foi assim que comecei o concerto à beira das lágrimas, arrepiada pelo que a música de Rodrigo Leão evoca (a paisagem de Lisboa, os eternos namorados, uma espécie de dor quando estamos mais felizes...). Estes arrepios foram potenciados pela brilhante prestação da violinista Viviena Toupikova e pelo violoncelo choroso de Samuel Santos.
Dificilmente assistirei a um concerto como este mais uma vez. A não ser que a genialidade de Leão se continue a multiplicar e eu possa, mais uma vez, chorar só porque estou a ouvi-lo.

(obrigada Daniel)

março 04, 2005

No seguimento desta semana absolutamente dedicada a recuperar o tempo perdido vi



"Sideways", de Alexander Payne. Esta é a história da viagem de dois amigos, na semana antes de um deles casar. Miles (interpretado por Paul Giamatti, que falha com este filme uma nomeação para Melhor Actor) é um escritor frustrado e um surpreendente conhecerdor de vinhos. Jack (interpretado por Thomas Haden Church, um actor há algum tempo desaparecido das lides do grande ecran) vai casar-se e é levado pelo seu amigo a conhecer a paisagem vinícola da Califórnia, como forma de despedida de solteiro. Mas ambos partem com objectivos diferentes: enquanto Miles pretende que a semana seja de descanso e muitas provas de vinhos, Jack prefere tentar conhecer outras mulheres antes do seu casamento.
É por este motivo que conhecem Stephanie e Maya (interpretadas por Sandra Oh e Virginia Madsen, respectivamente), também elas conhecedoras de vinhos, com quem passam alguns bons (e maus) momentos. Ainda que no final algumas decisões possam deixar um amargo de boca, o encontro dos amigos com estas mulheres acaba por clarificar as necessidades e desejos de quatro pessoas adultas que, de certa forma, se encontram à deriva.
Paul Giamatti consegue uma interpretação ao nível Harvey Peckar, personagem que desempenha em "American Splendor": neurótico e desajeitado, com pouco jeito com as mulheres mas paciente e delicado. Miles é a consciência de Jack: é ele que tenta chamar o amigo à realidade, para que não desperdice o que já de bom possui. É, no entanto, uma interpretação que não entusiasma.
Jack é o homem que vai casar e que (naturalmente?) se sente em pânico e, portanto, pretende aproveitar os seus últimos dias de solteiro. Thomas Haden Church também cumpre (apenas) o que se espera do seu papel, assinando talvez os momentos mais divertidos. Ainda no campo da representação, as personagens femininas não têm um desempenho brilhante, limitando-se a serem o motor que desperta as dúvidas de Miles e Jack.
Os ambientes do filme são muito claros, solarengos (ou não fosse o cenário a Califórnia), a montagem raia por momentos o documentário (nas cenas da produção do vinho) e o argumento peca por falta de complexidade. Mas este é, enfim, leve como um bom road movie deve ser.
Segunda-feira vi



"Mar adentro" de Alejandro Aménabar. A história é já sobejamente conhecida: Javier Bardem (muito aclamado pela crítica) interpreta o controverso e desarmante Ramón Sampedro, que muito lutou em Espanha pelo seu direito a morrer. Sampedro viveu deitado numa cama durante 28 anos, depois de ficar tetraplégico ao calcular mal um mergulho no seu querido mar da Galiza. Ajudado por uma defensora do direito à escolha (Gené, uma mulher com ideias claras e de trato fácil interpretada por Clara Segura), Ramon conhece Julia (a sedutora e inconstante Bélem Rueda), uma advogada que sofre com uma doença degenerativa e que se propõe a ajudá-lo.
Mas Julia não era a única mulher na vida de Ramon: após ver uma entrevista do tetraparaplégico na televisão, Rosa (operária da indústria conserveira interpretada por Lola Dueñas) visita Ramon. Assistimos ao progressivo crescimento da amizade entre os dois, ao amor que Rosa sente por Ramon, à inesgotável coragem da humilde mulher.
A família é presença constante na vida de Ramon: a abnegada cunhada Manuela trata-o como um filho; o sobrinho Javi ajuda-o com os seus inventos; o irmão José abandonou a vida no mar para tratar de Ramon. E é precisamente o seu amor fraternal que impede José de aceitar a vontade que Ramon manifesta: a de querer morrer.
A interpretação de Bardem é notória - esperamos sempre que algum membro se mexa ou que ele se levante. A expressão facial traduz muitas vezes o desespero (de não poder acabar com a vida) ou a ironia (de compreender e aceitar a sua condição). Nem a brilhante caracterização - que dificultou o progresso das filmagens pela demora que implicava - consegue distrair o espectador do portento de força, talento e jovialidade que é Bardem.
Sem explorar demasiado o drama em potência em que vivia Sampedro e sem se concentrar na luta política, Amenabar consegue um retrato optimista de um homem que morreu em paz consigo mesmo e de todos aqueles que o ajudaram até ao dia do fim.

março 01, 2005

Este domingo, convenientemente antes da cerimónia de entrega dos Óscares, fui ver (quase por feliz coincidência)



"Million Dollar Baby", de Clint Eastwood. Vencedor de 4 Óscares, o filme conta a história de Maggie Fitzgerald( a brilhante Hilary Swank, que com este papel venceu o seu segundo Óscar para Melhor Actriz) que, tentando concretizar o seu sonho de se tornar uma lutadora de boxe profissional, procura Frankie Dunn ( o tranquilo e equilibrado Clint Eastwood) para seu treinador. Se a princípio Dunn recusa terminantemente treinar Maggie, esta acaba por conquistá-lo pela sua insistência, dedicação e força de vontade. Trabalhando ao mesmo tempo como empregada de mesa, Maggie passa o restante do seu tempo no ginásio onde Dunn treina outros boxeurs, tentando aperfeiçoar a sua técnica. Apenas Eddie Scrap (o belíssimo Morgan Freeman, que aqui ganha o seu primeiro Óscar como Actor Secundário) parece acreditar nas suas capacidades e é ele que tenta convencer Dunn que Maggie é uma lutadora nata.
No início descobrimos que Dunn não tem uma relação pacífica com a sua família e em especial com a sua filha, a quem escreve todas as semanas (sendo que todas as suas cartas lhe são devolvidas). É após aceitar treinar Maggie que o seu amor paternal ganha expressão na relação que mantém com a sua "protegida", facto que colmata a falta de afecto a que a própria família vota Dunn. Quando Hilary sofre um acidente em combate que a deixa tetraplégica, Dunn é obrigado, por puro amor, a tomar uma das decisões mais importantes da sua vida. Mas o amor é já tanto que nem a religião o impede de fazer a "coisa certa".
Esta não é só uma história sobre o mundo do boxe, mas antes uma história sobre o amor pai-filha, o afecto entre amigos (Scrap/Dunn) onde todos são obrigados a esquecer os seus laços emocionais para tomar a melhor decisão. Ao contrário do esperado, "Million Dollar Baby" bateu "O Aviador" de Martin Scorsese aos pontos, ganhando os Óscares de Melhor Filme e melhor Realizador, o que premeia Clint Eastwood por uma realização sóbria, tranquila e por um filme que está a milhas de ser um melodrama.