Someone that cannot love
Não sou assim grande coisa a lidar com a dor. Ninguém é, claro está, mas eu só sei de mim. Acho que já a trato por tu, se bem que agora não tem aparecido por aqui - mérito meu, que me fecho em copas e à defesa tenho um jogo impecável. De uma vez, acompanhou-me durante três anos. E como esgota qualquer um com a sua companhia, deixei-me ficar deitada até não conseguir mais adormecer.
Mas reconheço à dor a maior das virtudes: levar-me direitinha de volta a casa e fazer-me crescer. Nunca me vou esquecer do abraço firme do meu pai, mesmo depois de lhe contar todas as mentiras em que vivia há anos. Aí partilhámo-la. A dor, claro. Também não esqueço a viagem que pai e mãe fizeram, de madrugada, para me recuperar, com medo que os abandonasse. Desta vez de vez.
Portanto, quando penso na dor, penso principalmente no número de vezes que ainda a vou sentir. Mais ou menos letal, mais ou menos desesperante, ela voltará. Mas eu acho que já não tenho medo. Só tenho que fechar o golpe outra vez. E outra. E outra. Até já não doer mais.
[mesmo que ela tenha adormecido em mim]
1 comentário:
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