novembro 29, 2006

Thank God it's Christmas


Já caiu a noite há muito tempo. Não está frio mas já sabe bem fechar o casaco até acima. Costuma-se dizer que as sortes estão contra nós. Pelo menos contra mim estão.

Hoje foi dia de jantar de Natal da empresa, antecedido por uma maravilhosa palestra sobre o crescimento da mesma pelo nossos chefes ingleses. Acho que me consigo lembrar de poucas coisas tão aborrecidas e tão perigosamente sonolentas como esta apresentação sobre o crescimento da empresa. Diz que fazemos biliões de pounds, que planeamos crescer muito nos tempos que se avizinham, que já estamos em terceiro lugar no mercado inglês. É tudo muito bonito e muito entusiasmante. Quer dizer, seria, se ao menos sentíssemos nas nossas contas bancárias o reflexo desse crescimento massivo. Não sentindo, resta-nos aproveitar a happy hour patrocinada pelo bolso de cada um dos oradores naquele hotel citadino para beber tantas Carlsbergs quantas somos capazes de aguentar, sem antes dar cabo da nossa preciosa bexiga.

Depois há o jantar de Natal na Trindade. Há um salão daqueles só para nós e bebida que chega a rodos a todas as mesas. Ninguém pergunta com quem estamos, somos apenas parte daquelas mesas já previamente nomeadas (T-Mobile, E-Plus, TMN, Talk Talk ou outros bonitos nomes que tais) e em que, absurdamente, distribuíram as pesssoas de todos os departamentos. A mim, e como a sorte nunca me abandonou, calha-me uma mesa de 10 pessoas em que não conheço absolutamente ninguém, o que, sabendo de antemão o meu feitio anti-social, só podia resultar em muitos copos de imperiais e copinhos de vinho para disfarçar o (tremendo) mau estar. Não satisfeitos, entregam prémios inesperados, distinguindo as pessoas que mais contribuíram para o sucesso dos departamentos. Nem sequer sabia que existiam, quanto mais esperar ganhar. Mas depois de me segredarem que tinha morrido na praia, apeteceu-me gritar: não importa o que faças a mais, não interessa o que pões de ti num projecto ou as tuas contribuições para o seu desenvolvimento. Vais sempre perder para alguém que... enfim, que ganhou na tua vez.

Sento-me na paragem sozinha. Apetece-me mesmo chorar mas presumo que já seja um bocadinho do alcóol a querer sair. Prometo a mim mesma que nada disto interessa, que hoje mesmo vou deixar de me preocupar. Mas imediatamente sei que só vou conseguir fingir até às sete da manhã, hora em que volto a trabalhar. O eléctrico chega e eu subo. Ainda bem que é Natal e há luzes nas ruas. Vou-me deitar a pensar em milagres de Natal e naqueles olhos castanhos sentados na mesa errada. Um dia destes sou eu que ganho o prémio e é ele que está sentado à minha frente. E aí sim, é Natal.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há momentos da vida em que paramos um pouco e observamos, depois só temos mesmo de pensar num milagre que nos salve...

Anónimo disse...

Não procures o amor, ele há-de achar-te quando menos esperares.E realmente adoro quando os chefes dizem que a empresa cresce mas os ordenados não podem crescer porque seria incomportável.Anima-te rapariga, o Natal está à porta.* * *