Quando saí, já pingava lá fora. Durante largos minutos encostei-me à porta do prédio e esperei que passasse mas não valeu de nada. Esta noite, como tantas outras noites, lembrei-me que choveu em todos os dias que estivemos juntos. Disse-te isso uma vez mas tu encolheste os ombros e disseste que não ligavas nenhuma a estes sinais. Mas eu sim, eu sei o que eles querem dizer-me.
Hoje quis dizer-te que ficava, que afinal não quero nem posso dormir sozinha naquela casa vazia mas não consegui. A minha boca ainda se entreabriu mas não saiu um som sequer. Nem um murmúrio nem um sussurro nem uma palavra dita baixinho. Nada. Estavas sentado na poltrona a fumar, estavas despido e com frio mas o cigarro não te deixava voltar para a cama. Quando te levantaste hoje, sem sequer dizeres uma palavra, pensei que nunca mais me ia estender na tua cama. Mas eu tento enganar-me e convencer-me que és assim, que és um tipo de poucas palavras, que falas melhor com as tuas mãos do que com a tua boca e no final é mesmo assim. Eu estou ligada a ti apenas pelo corpo. Não existe nada mais que possamos partilhar - apenas um par de suspiros suados.
Prometi que um dia destes deixo de cá vir. Levantei a gola do casaco devagar, sem saber se me quero realmente proteger da chuva (como não sei se me quero proteger de ti). Saí de tua casa demasiado dormente e não consegui apanhar o último autocarro para casa. Em vez disso, chamei um táxi e fui beber um copo. Sentei-me ao balcão e senti que toda a gente olhava para mim. Acho que tinham tanta pena de mim que nem ousaram aproximar-se. Só quando saí é que me apercebi que ninguém sequer tinha notado que eu estava ali sentada. Apanhei um táxi e deixei o taxista falar o caminho todo. Secretamente, estava a debater cá dentro se amanhã te ligo primeiro ou se vou directa para tua casa.
3 comentários:
Experimenta não ligares nem apareceres. Só para ver se ele também sente borboletas na barriga :) Boa sorte!
Aproveita os conselhos da tangerina. Eu sempre aproveitei e devo-lhe muito por isso. Gostava de saber aconselhar assim, com esperteza mascarada de simplicidade, mas sou um tosco.
Aproveitaria se tal gaijo existisse... Como não passa de um fruto da minha imaginação, agradeço os conselhos 'virtuais' e prometo usá-los caso a vida real me pregue tal partida.. :P
Enviar um comentário