abril 11, 2007

Agora que foi retomada a normalidade da transmissão...

... acho que é oficial: sou maricas. Não, não me estou obviamente a referir à minha orientação sexual mas sim ao facto de ser dominada pelo medo demasiadas vezes e pelos motivo mais variados. Que é uma tristeza, uma moça de vinte e sete anos ser assim facilmente amedrontada, eu sei. Não faço ainda ideia de como posso combater este inimigo - calculo que não consiga.

A verdade é que, quanto mais cresço, mais medo tenho e, se bem percebi esta história do crescimento, era suposto a coisa funcionar ao contrário. Tenho muito medo das coisas que não compreendo mas isso é comum a muitos de nós; tenho medo de morrer mas não há ninguém que não sinta isto pelo menos uma vez na vida; tenho medo de não voltar a ser amada ou de amar com a mesma intensidade com que já amei mas sou feita de demasiada matéria romântica. Não acredito em espíritos mas morro de medo de ser contactada por um, de ser escolhida para a transmissão de qualquer mensagem obscura ou terminar qualquer tarefa inacabada. Morro de medo todas as semanas quando me meto no carro e me disponho a fazer duzentos quilómetros até casa - é como se um dia também eu fosse fazer parte desses números negros que abrem os telejornais todos os dias. Aterroriza-me a ideia de poder nunca vir a ter filhos - quero conseguir sentir-me completa.

Mas isto a propósito do dia de hoje. Já não é a primeira vez que há um incidente do género no trabalho: há uns tempos tínhamos presenciado um ataque epiléptico dum colega, situação que me era totalmente estranha e que me impressionou terrivelmente. Hoje a coisa foi bem mais simples: uma colega desmaiou duas vezes num espaço de dez minutos, sem qualquer razão aparente. Mas fê-lo caindo sempre de olhos abertos, como se tivesse morrido subitamente. E eu, em vez de me sentir impelida a socorrê-la, petrifiquei. Os pés colaram-se ao chão, a boca secou e não conseguia dizer palavra, só esboçar esforços para dizer qualquer coisa. Ela já estava a ser assistida, não precisava de mim mas eu não fui capaz de agir e isso é tudo. Eu só olhava, incrédula, sem saber exactamente o que pensar e certamente sem conseguir tomar uma decisão.

Uma vez, enquanto visitava a minha avó no hospital, vi uma mulher morrer na sua enfermaria. Eu vi o momento exacto em que os orgãos cedem à pressão, o momento em que ela desistiu de sofrer, o momento em que a cara passa a ter a cor da morte. Estava vidrada naquela cama. Chamei o meu pai, que achou que a senhora estava apenas a dormir. Mas não, tinha morrido. E acho que recalquei essa imagem até ao dia em que o rapaz se contorcia com o ataque. Ou que a rapariga estava deitada no chão. E tenho medo porque não quero ver morrer mais ninguém. Portanto, façam o favor de se manterem vivos enquanto estão perto de mim. Por favor.

6 comentários:

Anónimo disse...

Pois os medos vão-se perdendo.

Restava em mim o medo pelo Mar, pelo seu negro, a sua força, pelos afogamentos nos anúncios do "há mar e mar há ir e voltar". A boca do inferno era para mim o miradouro desse medo. Há pouco tempo iniciei-me na caça submarina e foi quando, numa sexta-feira às 11 da noite, dei por mim, de lanterna na mão, na Boca do Inferno, a mergulhar nas mesmas águas que admirava aterrorizado e que me puxavam em pesadelos para as profundezas.

Afinal mão é assim tão profundo. Existem muitas rochas, polvos, sargos, navalheiras e estrelas do mar.

Os medos devem ser enfrentados. É simples.

beijinhos
|b|

M. disse...

Eu sei que devem ser enfrentados, acredito em terapias de choque :) Acho que é provavelmente uma questão de continuar a tentar... *

Pedro disse...

Eu tenho medo de velhas de metro e meio com sombrinhas abertas em dia de chuva.

E já enfrentei esse medo várias vezes mas até agora o melhor que arranjei foi uma lente riscada.

Tenho dito.

Mike Monteiro disse...

Faz o favor de não estares ao pé de mim se eu estiver a morrer! :))

M. disse...

Pedro: se enfrentaste essas senhoras e acabaste com a lente riscada, certamente fizeste por merecê-las :P E uau, alguém que (aparentemente) não é da minha terra e usa a palavra sombrinha! :D

Lobistico: está tranquilo. Normalmente fico paralisada em situações em que penso que há alguém a morrer mas consigo chamar pessoas :P

Sofia disse...

Ora aí está uma das coisas que devíamos MESMO poder controlar. Mas.. por outro lado.. há sempre aqueles dois versos da música de Death Cab. :)

P.S. - E eu também dizia sombrinha.. até ser gozada em Lisboa! Bah!