agosto 24, 2007

Das tristezas alheias

Quando saimos do cinema, decidimos que o melhor é apanhar um táxi e fazer duas paragens. Ele fica em Santos, eu peço para o taxista me levar à Estrela. Depois dele sair, vejo-me inesperadamente travada por um camião do lixo que fazia a recolha àquela hora. A conversa com o taxista nasce desta paragem, passa pelo Euromilhões, pelas dificuldades com que vivemos, por tudo aquilo que faríamos com um pouco mais de dinheiro.

Quando ele começa a falar da separação por que passou há um ano, eu não adivinho que vai terminar a conversa de lágrimas nos olhos. Conta-me como o amor o cegou, como embarcou num casamento que o deixou na miséria e que rompeu com o que restava do seu coração. Diz-me

Quando eu entro numa sala e ela está lá, o meu coração fica escuro, um poço negro sem fundo

e eu comovo-me com esta franqueza. Parados em frente à basílica, conversamos sobre o amor e as mulheres e ele olha-me com tristeza pelo espelho. Tudo o que o amor constrói também pode destruir, semeando a devastação. Diz que já não acredita no amor mas que eu devo acreditar, a menina é nova, diz ele. Despedimo-nos com um aperto de mão, ele chama-me amiga e pede-me desculpa. Já é tarde demais: para mim, porque me ataca o sono; para ele, porque já não quer saber do amor. Durante quase uma hora, fomos amigos.

5 comentários:

Anónimo disse...

I don't wanna be Jim Morrison. I wanna be, I wanna be, I wanna be Travis Bickle.

vera disse...

É daquelas coisas que nunca esperaria que acontecesse numa conversa com um taxista. Nunca encontrei nenhum que fugisse aos tópicos básicos do tipo trânsito, tempo ou futebol. E acho que ainda bem. No teu lugar, não saberia o que dizer.

Anónimo disse...

fogo.. nem digo nada.. :S

Catarina disse...

fiquei de rastos só de imaginar no olhar triste pelo espelho...enquanto doer, ele quererá sempre saber do amor...

Pedro disse...

A epidemia dos homens de hoje.