Estava a começar a escrever um novo post quando me apercebi. Este não é um sítio para deixar recados subliminares. Pelo menos, não às pessoas a quem os podemos dar pessoalmente. Posso tentar dar recados a quem não mais encontrarei, deixando que eles ecoem pelo espaço virtual fora até encontrarem os ouvidos a que se destinam. Mas não posso, isso não, usar este espaço para me atrever a escrever as palavras que podia efectivamente dizer, caso tivesse alguma coragem. Não me restando (hoje) um pingo desta última, remeto-me ao silêncio. Dos recados, claro.
(E assim, como todo este amontoado de palavras, se escreve mais do que se queria.)
E quando acabei de escrever a palavra coragem, o meu raciocínio desviou mais uma vez a atenção do que ia realmente escrever e fez-me pensar em momentos de coragem. Lembro-me de um, por exemplo. Passou-se comigo mas a coragem não era minha. Sentada no call center, atendendo o trilionésimo cliente mal educado e iletrado, vejo cair um bocado de papel quadriculado rasgado sem precisão sobre o teclado. Tinha um número de telefone e um nome, acho eu. É preciso ser corajoso para oferecer esta disponibilidade por escrito, como que assinando um contrato num pedacinho de papel. Foi o mais perto que tive assim daquelas cenas que se vêem nos filmes. A uma amiga, enfiaram um bilhete do metro com um email rabiscado à pressa dentro da mala. Dizia "Gostava de a conhecer blablabla@blablabla.com". Qual é a probabilidade de isto acontecer? A mim, nula. E de, ainda por cima, me tratarem por você... Pff.
Depois veio-me à cabeça a coragem da minha amiga J. Vai arriscar aventurar-se num doutoramento de quatro anos que conseguiu rés vés, Campo de Ourique (diz ela...). Acha que vai ganhar pouco mas eu já lhe segredei que será mais do que eu ganho. O que, visto termos as mesmas qualificações no momento, me parece razoável. É corajoso ou não, continuar a estudar, a investigar, a fazer a diferença? E a fazer isto tudo em Portugal, sublinhe-se. Não é um cérebro que foge para outro país, é um cérebro que lança definitivamente a âncora em Portugal. Eu cá gosto. E acho corajoso.
Às vezes, tenho tão pouca coragem que me envergonho. Noutras, sinto que posso tudo. Mas estas contam-se pelos dedos de uma mão. E enquanto assim for, pues nada, como dizem os espanhóis. Enquanto não conseguir fingir que faço da vida o que me apetecer, hei-de balançar entre estes dois estados. O de enfiar papelinhos no bolso de um estranho e o de remeter-me à minha invisibilidade.
* musicando os meus dias mais ocos.
(E assim, como todo este amontoado de palavras, se escreve mais do que se queria.)
E quando acabei de escrever a palavra coragem, o meu raciocínio desviou mais uma vez a atenção do que ia realmente escrever e fez-me pensar em momentos de coragem. Lembro-me de um, por exemplo. Passou-se comigo mas a coragem não era minha. Sentada no call center, atendendo o trilionésimo cliente mal educado e iletrado, vejo cair um bocado de papel quadriculado rasgado sem precisão sobre o teclado. Tinha um número de telefone e um nome, acho eu. É preciso ser corajoso para oferecer esta disponibilidade por escrito, como que assinando um contrato num pedacinho de papel. Foi o mais perto que tive assim daquelas cenas que se vêem nos filmes. A uma amiga, enfiaram um bilhete do metro com um email rabiscado à pressa dentro da mala. Dizia "Gostava de a conhecer blablabla@blablabla.com". Qual é a probabilidade de isto acontecer? A mim, nula. E de, ainda por cima, me tratarem por você... Pff.
Depois veio-me à cabeça a coragem da minha amiga J. Vai arriscar aventurar-se num doutoramento de quatro anos que conseguiu rés vés, Campo de Ourique (diz ela...). Acha que vai ganhar pouco mas eu já lhe segredei que será mais do que eu ganho. O que, visto termos as mesmas qualificações no momento, me parece razoável. É corajoso ou não, continuar a estudar, a investigar, a fazer a diferença? E a fazer isto tudo em Portugal, sublinhe-se. Não é um cérebro que foge para outro país, é um cérebro que lança definitivamente a âncora em Portugal. Eu cá gosto. E acho corajoso.
Às vezes, tenho tão pouca coragem que me envergonho. Noutras, sinto que posso tudo. Mas estas contam-se pelos dedos de uma mão. E enquanto assim for, pues nada, como dizem os espanhóis. Enquanto não conseguir fingir que faço da vida o que me apetecer, hei-de balançar entre estes dois estados. O de enfiar papelinhos no bolso de um estranho e o de remeter-me à minha invisibilidade.
* musicando os meus dias mais ocos.