Durante o dia em que os senhores ladrões resolveram (gentilmente) visitar a nossa casa, eu tinha saído bem cedo em direcção a Brugge. E até saí a horas, digo eu, visto que me livrei de ser molestada por quem quer que seja que achou que valia a pena roubar o meu portátil. O dia, como se vê, estava tudo menos solarengo, o que não deve constituir nenhma surpresa para quem se desloca nesta zona da Europa.
Então Brugge... A Veneza do Norte, dizia o engraçado senhor que conduzia o barquinho. Primeiro, andei alguns metros um pouco desiludida com a cidade, uma vez que não encontrava quase nenhum motivo que merecesse uma visita. Já devia saber que isso pode acontecer a quem decide visitar cidades sem pedir um mapa no turismo.Mas depois de encontrar a Grand Place do sítio, mudei obviamente de ideias. Tudo melhorou ainda quando, finalmente, consegui chegar aos canais onde se concentra o maior número de turistas. À vista do guichet dos barcos, nem pensei duas vezes e fui exactamente preencher o único lugar que faltava naquela embarcação. Uma coisa um pouco improvisada, com o condutor a ter que passar por cima da minha cabeça à entrada e à saída, mas eu de vez em quando tenho boa vontade.
Brugge é uma cidade para ser vista a dois, para se passear romanticamente de barco pelos canais e debaixo das pontes onde suspeitamos perder a cabeça, para se provar tudo no canto do chocolate. Havia partes de Brugge docemente abandonadas pelos turistas, onde a vida não parecia conseguir tocar, como a estação de comboios onde só eu com a minha caixinha de frites, uma miúda que fumava tabaco de enrolar e um senhor deficiente esperávamos pelo sinal. Se soubesse para o que ia voltar, talvez me tivesse demorado ali, a esquecer-me de que, exactamente à mesma hora que eu fechava os olhos, aproveitando o silêncio que subia dos carris, alguém destruía o que restava da nossa fechadura.
1 comentário:
Parece-me que sou o único que adorei Brugge.
Enviar um comentário